Pistol Annies
Assim como o hip hop, o country sempre apresentou na sua estrutura básica um\a forte tendência ao machismo, apesar de não ser tão explicito como o primeiro. Cowboys machos e viris e mulheres sofredoras e submissas sempre foram personagens centrais de várias músicas country, refletindo os papeis que homens e mulheres deveriam representar na vida real. Felizmente, os tempos estão aos poucos mudando e, assim como está acontecendo lentamente em parte do hip hop, o country vem ganhando nomes que estão ajudando a dar uma nova cara ao gênero. Um desses nomes é o super group feminino Pistol Annies que faz de Interstate Gospel, terceiro álbum da carreira, uma crônica sobre mulheres fortes e as suas batalhas diárias.
Formado em 2011 em um projeto paralelo das cantoras Miranda Lambert, Angaleena Presley e Ashley Monroe, o Pistol Annies já tinha mostrado essa faceta de exaltar as mulheres desde o primeiro álbum, o excelente Hell On Heels. E continuaram esse caminho com o também excelente Annie Up de 2013. Mesmo que um pouquinho inferior aos dois antecessores, Interstate Gospel continua a dar luz para aquelas mulheres que não se sentem dispostas a serem personagens fixos dentro do country. Aqui, as mulheres representadas, assim como as integrantes da banda, podem até sofrer por amor, mas também são capazes de darem a volta por cima e se mostrarem fortes ao descobrir que não precisam de homens para serem felizes. Essas mulheres são poderosas, donas do próprio nariz, sagazes, complexas, cheias de problemas que não necessariamente envolvem homens e, principalmente, dispostas a lutar por sua própria felicidade. Sem necessariamente levantar bandeiras nítidas, Interstate Gospel é um trabalho não somente empoderado, mas, sim, sobre a força real das mulheres, passando bem longe da imagem idealizada durante décadas dentro do country. E para incrementar a qualidade lirica do álbum, as três integrantes são eximias compositoras conseguindo transmitir toda essa coleção de intenções de forma inteligente e que vai transitando entre o divertido, o ácido, o melancólico, a delicadeza, a aspereza, o doce, o amargo, o gentil, o rude, o esperançoso e o descrente com uma elegância invejável e uma graça sutil encantadora. Mesmo com todos essas qualidade, Interstate Gospel tem um pequeno problema de execução.
Ao contrário dos álbuns anteriores, Interstate Gospel demora a engrenar de verdade, pois a primeira parte fica um pouco abaixo no esperado. Não é exatamente um grande problema, mas isso dá uma freada no que poderia ser um álbum ainda melhor. Sem precisar quebrar qualquer barreira do gênero, o Pistol Annies entrega um tradicional, muito bem construído e com uma qualidade técnica impecável. Claro, o álbum flerta aqui e ali com um pouco de folk e bluegrass, mas isso não tira o foco do trabalho de ser basicamente de country. Outra qualidade importante delas é que, mesmo tendo estilos de cantar parecidos, cada uma das integrantes apresenta timbres bem diferentes, trazendo personalidade para o álbum ao injetarem as suas próprias em cada canção. Nem sempre todas estão como vocais principais nas canções, pois existem alguns "solos" dentro de Interstate Gospel. Entretanto, existe uma química impressionante entre as cantoras, criando essa sensação de fluidez e união que reflete nas mensagens sobre mulheres fortes que o álbum passa. Os melhores momentos do álbum ficam por conta de três faixas: a melancólica When I Was His Wife sobre o fim de uma casamento pela visão da mulher, a trágica crônica sobre uma jovem em Cheyenne e as relações nem sempre fáceis entre uma mãe e a sua filha em Milkman. Outros momentos de destaque ficam por conta de Best Years of My Life, as divertidas Got My Name Changed Back e Sugar Daddy, Leavers Lullaby sobre um relacionamento tóxico e, por fim, Masterpiece que entoada sozinha pela Miranda Lambert parece ainda ecoar o fim do casamento com o Blake Shelton. Interstate Gospel cumpre perfeitamente o seu papel ao ser um álbum de country sobre mulheres fortes feito por mulheres fortes.
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