Parte I
Squid
"A capacidade do também britânico Dan Carey de manter as loucuras sonoras dentro de uma linha, mas sabendo ultrapassar todas as expetativas para dar toda a base que a banda precisa para desenvolver a sua sonoridade é algo realmente inacreditável. Em alguns momentos, Bright Green Field soa como uma jam session em que os músicos improvisaram toda a instrumentalização. Essa sensação também é permeada por outra que deixa claro todo o cuidado de construção de cada canção e, principalmente, do aspecto final para soar um trabalho de coesão perfeita. Efervescente, extravagante e gloriosamente inesperado, o álbum colide com esse post-punk orgânico com doses cavalares de injeções de enchimento vindo de gêneros como, por exemplo, glam rock, hard rock, experimental, art rock, new wave e, até mesmo, disco. Com essa inusitada mistura, a produção consegue criar essa viagem que nem sempre você sabe para onde está ou muito menos o que essa acontecendo, mas sempre vai ficar completamente prendido, assombrado e encantado com essa força da natureza em forma de álbum. Em Boy Racers, o Squid começa de forma bastante conhecida ao entregar uma enxuto post-punk/dance punk para dar uma guinada de 180° antes da sua metade e começa uma batida sombria e densa misturando experimental com art rock. Apesar dessa imensa quebra, a faixa funciona de maneira extraordinária literalmente devido a isso, resultando em um momento realmente extraordinário. E, felizmente, todo Bright Green Field é recheado de faixas com a mesma atmosfera."
St. Vincent
"O álbum apresenta um clima novo para a carreira de St. Vincent: a sensualidade. Não importa qual a pegada geral da faixa parece existir um verniz viscoso de uma sensualidade latente e estranhamente pegajosa. Tente imagina uma tarde quente no alto verão em que a luminosidade do Sol está no seu ápice e você está tentando e refrescar com apenas um ventilador velho e bebidas geladas. Essa é a sensação que melhor se aproximar de ouvir o álbum. Felizmente, porém, o que a gente sente ao ouvir Daddy's Home é bem melhor que a cena descrita antes, pois a cantora parece ser a brisa que vem para esfriar. Abrindo o álbum, Pay Your Way in Pain “é como entrar em um caldeirão de referências em uma noite louca de verão. (...) Complexa e, ao mesmo tempo, não muito difícil de se assimilar, a canção é uma dose nostálgica de indie rock dos anos setenta com pinceladas fortes de funk e synth-pop que consegue ser estranha, deslocada e extremamente divertida”. Em seguida, Down and Out Downtown traz a vibe psicodélica com toques de soul e uma pungente cítara indiana que faz a gente ser lentamente envolvido pela teia da cantora. Live in the Dream quebra o fluxo ao ser uma épica balada indie rock/soul rock com vocais etéreos e a assombrosos. É chover no molhado que a parte instrumental é simplesmente perfeita, mas isso seria um crime não mencionar já que cada faixa é um trabalho simplesmente espetacular de criação com nuances elegantes, camadas sonoras que conseguem elevar o material sem roubar a cena de outros pontos e uma inteligência criativa impressionante. E por falar de inteligência, as composições criadas para o álbum podem não ser o passeio no parque para todos, mas, queridos leitores, o resultado é simplesmente genial."
Tom Jones
"Apesar de apresentar uma mudança clara de alcance voz em Surrounded by Time em relação a juventude, Tom Jones canaliza tudo isso para a força de suas interpretações e na mudança para um timbre ainda mais grave para dar corpo nas suas performances. Completamente versátil, o cantor dá a importância para faixas completamente diferentes uma da outra em questão de atmosfera e temática. I Won't Crumble with You If You Fall, escrita por Bernice Johnson Reagon, Tom entrega uma performance completamente sóbria e melancólica para uma power balada art rock/eletrônica na mesma intensidade que carrega a versão sombria e devastadora de The Windmills of Your Mind, sucesso de 1968 de Michel Legrand. Sem perder esse majestoso poder de transmutação, Tom se adapta de forma graciosa para dar vida a delicada regravação de I Won't Lie de Michael Kiwanuka para se reinventar de forma espetacular na versão da cantiga tradicional Samson and Delilah. Poucos artistas da atualidade têm essa capacidade tão distinta de ser um mutante vocal com tamanha abrangência, mas Tom Jones coloca cada canção no bolso em um passeio no parque em uma segunda feira qualquer. É necessário apontar que apesar de toda a qualidade envolvida entre produção e artista, Surrounded by Time não seria mesmo sem as geniais escolhas de canções para regravação. Mostrando o quanto é importante uma seleção que possa refletir o artista de todas as formas possíveis, as canções escolhidas podem ter uma variedade de gênero imensa, mas sempre apresentam conexões com a figura de Tom ou/e a estética do álbum. Escrita por Bob Dylan, One More Cup of Coffee restaura essa faceta cronner de Tom, mas carregada pelo peso dos anos. I'm Growing Old de Bobby Cole é uma devastadora crônica sobre envelhecer que ganha significado ainda mais potente e devastadora na voz pesada de Tom. Fechando o álbum surge a catártica Lazarus Man de Terry Callier que invoca a passagem bíblica em uma composição emblemática e poderosa sobre mortalidade. Outras faixas que precisam ser citadas é a folk This Is the Sea (Mike Scott), Ol' Mother Earth (Tony Joe White) e, a perfeita caracterização de Tom, Pop Star (Cat Stevens). Ao terminar Surrounded by Time fica claro que é mais do possível o melhor álbum do ano vim de octogenário em seu 41° álbum, mas, na verdade, se torna difícil um álbum desse não disputar essa alcunha."
Lingua Ignota
"Kristin Hayter, nome de nascimento de Lingua Ignota, foi criada como católica, estudando parte da sua infância em uma escola vinculada a igreja. Recebendo treinamento clássico para a música, a cantora participou de algumas bandas de metal durante a adolescência, tendo influencias que vão do batoque até a opera. Além disso, Lingua é mestra em literatura e uma sobrevivente de violência doméstica. Então, essas combinações resultam claramente na sonoridade da cantora ao explodir em uma original, assustadora, gigantesca, tensa e sublima colisão de diversos gêneros. Sinner Get Ready é uma fusão de clássico, gospel, avant-gard, art rock, folk e um gênero chamado appalachian. Surgida na região da Appalachia nos Estados Unidos, o gênero é uma mistura curiosa de várias fontes como, por exemplo, hinos religiosos, música africana, blues, folk, bluegrass e, claro, country. Esse caldeirão é a base para que Lingua com o produtor Seth Manchester elaborar um verdadeiro vulcão sonoro que arrancar qualquer expectativa pela raiz para depois explodir tudo em uma lava densa, pegajosa, sublime e aterrorizante.
Como vocês podem ter reparado fico usado adjetivos que remetem ao medo, pois parece que isso que a cantora quer passar ao usar de diretas e claras alusões a religião. Não a religião do amor e esperança e, sim, aquela que se baseia na dor para a expiação celestial. E isso que faz de Sinner Get Ready soturnamente religiosa, mas que nenhum momento soa como uma pregação. Lingua não quer fazer de ninguém uma pessoa temente a Deus, mas, sim, a gente sentir o peso que é viver sob o manto desse Deus que pune pela dor. E isso é alcançado de forma genial em cada momento do álbum. Devido a genial instrumentalização que consegue ser extremamente complexa e, ao mesmo tempo, valorizar cada instrumento utilizado as últimas consequências, Sinner Get Ready consegue cria uma jornada que claramente começo no inferno até chegar aos céus e que cada pecado exposto é lavado pelo sangue e lágrimas. O maior momento do álbum fica nessa parte “infernal” com a presença da tour de force avassaladora de I Who Bend the Tall Grasses. Uma profunda, deslumbrante, intimidante e genial faixa que ao ouvir pela primeira vez fiquei literalmente de boca aberta devido ao seu impacto, mas também apreciado cada segundo como se fosse a última canção que iria escutar. Tente imaginar um musical de terror em que o principalmente momento seria a performance da canção no instante que a personagem principal fosse pedir interferência de Deus para que o seu “inimigo” possa ser morto de maneira brutal. Na verdade, a narradora não pede e, sim, exige que isso aconteça, pois, segundo o que diz a canção, a sua fé a fez merecer essa benção. Com tamanha bagagem sonora e lírica, I Who Bend the Tall Grasses tem na performance de Lingua o seu ponto alto no instante que a cantora dispensa estruturas para entregar a performance da sua vida entre gritos, sussurros e nuances vocais que valem por toda uma carreira."
Little Simz
"Falar que a rapper Simbiatu "Simbi" Abisola Abiola Ajikawo, nome de nascimento de Little Simz, entrega performances que valem por toda uma vida é simplesmente chover no molhado, mas é preciso apontar que a força da rapper é algo desconcertante até mesmo para alguém que já conhece a carreira dela. E isso é visto continuamente por todo Sometimes I Might Be Introvert não importando qual o “estilo” de cada canção. Na empoderada Woman, a rapper entrega uma “performance extremamente relaxada sem nunca ser desinteressada ou desinteressante, se apresentando novamente com uma rapper amadurecida e dona de uma capacidade de se moldar em diferentes direções dependendo do material em mãos”. Enquanto em Standing Ovation, a rapper entrega uma performance completamente direta com uma incrível adição de nuances que adiciona apenas mais força para o resultado final. E essas performances são acompanhadas por composições que realmente deixam bem claro o talento de Little Simz de maneira sem contestação.
Verborrágica, poética, honesta, brilhantemente construída, surpreendente e impactada, a lírica da rapper é sempre um trabalho de feito de maneira quase artesanal, pois é possível notar um cuidado meticuloso com a elaboração de versos e refrãos. E é um trabalho imenso já que a rapper não tem medo de criar grandes composições que se equiparam com as grandes bases sonoras que as sustentam. Quase como uma balada soul/hip hop/jazz, How Did You Get Here é uma crônica tocante e emocionante sobre o caminho da rapper para alcançar o lugar que está pessoalmente e artisticamente. Sem em nenhum momento soar pretenciosa, Little Simz se mostra uma compositora inteligente e dona de uma menta afiada para passar claramente a sua mensagem, indo de assuntos pessoais até políticos com a mesma qualidade lírica. O melhor momento nesse requisito fica por conta de I Love You, I Hate You que “apresenta uma das composições mais brilhantes dos últimos tempos, pois consegue ser tecnicamente perfeita e de uma força emocional descomunal ao mostrar uma vulnerabilidade tocante de uma pessoa em busca de resposta para o motivo de ter o que deveria ser o relacionamento mais importante completamente despedaçado. Transitando entre o emocionalmente melancólico (Never thought my parent would give me my first heartbreak) para o devastadoramente sincero (And wish than be faced with this reality/ Is you a sperm donor or a dad to me?), Little Simz entrega uma performance com a mesma força, deixando claro que a rapper encontra-se no seu melhor momento da carreira ao alcançar um patamar que, sinceramente, nenhum outro rapper nesse momento parece estar nem perto”. Normalmente quando estou ouvido um álbum sempre faço notas para ter um “mapa” para escrever minhas resenhas que também inclui quais as canções de destaque do álbum, mas Sometimes I Might Be Introvert percebi que coloquei todas as canções do álbum como destaque. As citadas aqui são aquelas que está um passo a frente entre canções que já são o suprassumo da genialidade. Realmente tentei expressar todas as minhas emoções em relação ao uma verdadeira magnum opus entrega pela Little Simz, mas acredito que a melhor demonstração da minha admiração é dar a maior nota possível para um álbum resenha aqui no blog. E assim, senhoras e senhores, nasce um clássico."
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