10 de outubro de 2021

Primeira Impressão

Bright Green Field
Squid



Durante todos esses anos do blog noto plenamente que minha visão sobre música mudou bastante. De um blog dedicado apenas para o mundo da música pop chego em 2021 abrindo espaço para variados gêneros e artistas que consigo não apenas resenhas, mas, principalmente, elogiar de fato a sua música. E é por isso que não acredito que lá nos primeiros anos fazendo o SóSingles poderia prever que em algum momento iria resenhar um álbum como Bright Green Field, primeiro trabalho da banda britânica Squid. Não apenas pelo fato deles diferirem tanto do que costumava consumir, mas, também, pelo fato de concluir que o álbum é um trabalho simplesmente sensacional.

Essencialmente, Bright Green Field é um trabalho de post-punk que incorpora uma gama grande de outros gêneros durante a sua duração de forma inteligente. Entretanto, ouvir o álbum na sua totalidade é uma jornada épica e inesperada por uma colisão em forma de colcha de retalhos que consegue criar bolsões dentro de bolsões com mudanças de direções, novas texturas, quebras de expectativas, nuances surpreendentes e momentos de pura perplexidade, criando assim uma verdadeira explosão sonora de mais de cinquenta minutos de duração que não deixa a bola cair em nenhum momento. Ouvir o álbum é como entrar naquela viagem de barco durante o primeiro A Fantástica Fábrica de Chocolate: inesquecível, assustador, irresistível e hipnotizante. E o que poderia resultado em um desastre acaba sendo o maior trunfo da produção.

A capacidade do também britânico Dan Carey de manter as loucuras sonoras dentro de uma linha, mas sabendo ultrapassar todas as expetativas para dar toda a base que a banda precisa para desenvolver a sua sonoridade é algo realmente inacreditável. Em alguns momentos, Bright Green Field soa como uma jam session em que os músicos improvisaram toda a instrumentalização. Essa sensação também é permeada por outra que deixa claro todo o cuidado de construção de cada canção e, principalmente, do aspecto final para soar um trabalho de coesão perfeita. Efervescente, extravagante e gloriosamente inesperado, o álbum colide com esse post-punk orgânico com doses cavalares de injeções de enchimento vindo de gêneros como, por exemplo, glam rock, hard rock, experimental, art rock, new wave e, até mesmo, disco. Com essa inusitada mistura, a produção consegue criar essa viagem que nem sempre você sabe para onde está ou muito menos o que essa acontecendo, mas sempre vai ficar completamente prendido, assombrado e encantado com essa força da natureza em forma de álbum. Em Boy Racers, o Squid começa de forma bastante conhecida ao entregar uma enxuto post-punk/dance punk para dar uma guinada de 180° antes da sua metade e começa uma batida sombria e densa misturando experimental com art rock. Apesar dessa imensa quebra, a faixa funciona de maneira extraordinária literalmente devido a isso, resultando em um momento realmente extraordinário. E, felizmente, todo Bright Green Field é recheado de faixas com a mesma atmosfera.

Quando ouvi pela primeira vez a sonoridade da banda já tinha noção do que estava por vim, pois na resenha da viciante Narrator escrevi “(...) o single tem quase oito minutos e meio de uma construção que mistura post-punk, toques de post-disco, funk e rock alternativo para criar uma jornada psicodélica, surpreendente e inesperada que começa em um caminho para chegar em outro completamente diferente e, queridos leitores, apoteoticamente genial. Especialmente a sua parte final em que o arranjo dá uma quinada sombria e de uma força descomunal”. Entretanto, não espere monotonia, pois, como já se pode perceber, cada nova faixa é uma descoberta realmente excitante e nada previsível. Documentary Filmmaker é o tipo de canção que surge como um verdadeiro soco no estomago devido a sua impossibilidade de classificação ao ser uma anomalia extravagante com a sua base de instrumentos de sopros e sintetizadores e a performance lendária de Ollie Judge. Mesmo não sendo o melhor vocalista em termos técnicos, Ollie é a forma motriz que dá a liga para que toda essa descomunal produção possa encontrar a maneira o veiculo perfeito para saber lidar com todas as mudanças construídas. Entregando o mais puro suco punk na eletrizante Peel St., o vocalista desce nos porões de suas influências para carregar a gravidade urgente de Global Groove que invoca algo que possivelmente David Bowie poderia ter feito nos anos oitenta. E antes disso tudo, Ollie invoca o seu lado glam rock encontra punk para abrir o álbum com a profética G.S.K. Outros momentos que precisam ser mencionados de Bright Green Field é a art punk de Paddling e Pamphlets, fechando o álbum de maneira triunfal. Nem sempre consegui entender o que estava ouvido de maneira plena, mas a viagem que Squid me levou ajudou ainda mais a ter certeza que estou no caminho de realmente gostar de boa música não importa da onde e como venha.


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