Rochelle Jordan
Irei dar um desafio para vocês: escolha um álbum de um artista que você nunca ouviu falar e o escute do começo ao fim. Obviamente, existe a grande possibilidade de você simplesmente odiar cada segundo, mas também há a possibilidade de encontrar uma joia rara. Para mim, esse segundo caso fica a canadense Rochelle Jordan e seu deslumbrante Play with the Changes.
Pesquisando no site Album of The Year esbarrei com as boas resenhas do público e da crítica, mas não li nenhuma ou pesquisei sobre a cantora de nenhuma forma. Então, embarguei em Play with the Changes sem ter noção básica sobre nem qual era o gênero(s) que Rochelle transitava. Felizmente, o resultado dessa aventura é um verdadeiro prazer sonoro, especialmente devido a descobrir um talento tão refinado como o da cantora. Vocalmente, Rochelle Jordan é uma força aveludada que consegue derreter gelo polar até mesmo nas faixas mais “agitadas”. Sabendo dosar perfeitamente toda as suas influências de forma consciente, a cantora trafega entre estilos de maneira graciosa e sempre com uma dose cavalar de potencia que sempre está na medida certa. Fica bem claro que existe influências de Janet Jackson misturada com o Sade e toques importantes de Aaliyah, mas que nunca fica na imitação ou repetição. É como temperos exóticos que não sabemos bem de onde vem, pois a sua mistura é tão sutil que o fica marcante é o seu todo. Encontrando a sua voz literalmente e metaforicamente, Rochelle entrega performance sensacionais como é o caso do abre alas LOVE YOU GOOD. Entoando de maneira doce e tecnicamente avassaladora, a cantora nos faz embarcar em poucos segundos em uma batida refinada de deep house/R&B de um refinamento delicado e assertivo. É assim que Play with the Changes constrói uma das sonoridades mais suculentas do ano.
Quem for escutar nas escuras como fiz é necessário avisar que o álbum é uma fusão efervescente, nostálgica, madura e deliciosa da deep house e dance pop dos anos noventa com o R&B do começo dos anos dois mil, sendo salpicada por doses douradas de uk bass, synthpop e alternativo. Acredito sinceramente que a sonoridade ouvida aqui poderia muito bem ter sido a evolução da já citada Aaliyah se não fosse o cruel destino. E isso diz muito do talento de Rochelle. Cercada por uma produção cirúrgica, inspirada e que nunca deixa a peteca cair, a cantora faz de Play with the Changes uma verdadeira viagem nostálgica sem ser datado por uma coletânea saída diretamente da mixtape de grandes sucessos, adicionando uma carga imensa de personalidade. Escondendo surpresas em cada faixa, o álbum exala uma atmosfera única ao combinar euforia sonora e melancolia lírica de maneira inusitada e muito bem-vinda. Na deliciosíssima dance-pop/R&B ALL ALONG, Rochelle faz uma crônica sobre a procura do amor e o fato que podemos encontrar no lugar que tudo começou. BROKEN STEEL é uma R&B/hip hop que narra de forma devastadora as experiências emocionais que uma mulher negra precisa lidar com corações quebrados e a visão da sociedade sobre seus corpos e espíritos. A presença ótima da rapper Farrah Fawx é uma verdadeira cereja em cima do bolo, arrematando a faixa de maneira única. Sem tempo para besteiras do boy, ALREADY mostra a cantora dando um ultimato para o famoso “ou dá ou desce”. É essa mistura honesta e cru de composições que dá para o álbum a força necessária para sair do esteticamente deslumbrante para um patamar acima, conseguindo não apenas encantar como também emocionar. Outros momentos de destaque do álbum ficam por conta da diretamente influenciada pela eurodance do começo dos anos noventa GOT EM, a densidade sonora de COUNT IT, a efervescência contida da batida de NEXT 2 YOU, a delicadeza de LAY e, por fim, os sintetizadores oitentistas na batida eletrônica de SOMETHING. De alguma forma, Play with the Changes é uma descoberta inesquecível de uma artista que tem ainda a capacidade de ir a lugares que sinceramente não estava esperando, mas senti extremamente acolhido em sua viagem musical.
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