Parte I
Rochelle Jordan
"Quem for escutar nas escuras como fiz é necessário avisar que o álbum é uma fusão efervescente, nostálgica, madura e deliciosa da deep house e dance pop dos anos noventa com o R&B do começo dos anos dois mil, sendo salpicada por doses douradas de uk bass, synthpop e alternativo. Acredito sinceramente que a sonoridade ouvida aqui poderia muito bem ter sido a evolução da já citada Aaliyah se não fosse o cruel destino. E isso diz muito do talento de Rochelle. Cercada por uma produção cirúrgica, inspirada e que nunca deixa a peteca cair, a cantora faz de Play with the Changes uma verdadeira viagem nostálgica sem ser datado por uma coletânea saída diretamente da mixtape de grandes sucessos, adicionando uma carga imensa de personalidade. Escondendo surpresas em cada faixa, o álbum exala uma atmosfera única ao combinar euforia sonora e melancolia lírica de maneira inusitada e muito bem-vinda. Na deliciosíssima dance-pop/R&B ALL ALONG, Rochelle faz uma crônica sobre a procura do amor e o fato que podemos encontrar no lugar que tudo começou. BROKEN STEEL é uma R&B/hip hop que narra de forma devastadora as experiências emocionais que uma mulher negra precisa lidar com corações quebrados e a visão da sociedade sobre seus corpos e espíritos. A presença ótima da rapper Farrah Fawx é uma verdadeira cereja em cima do bolo, arrematando a faixa de maneira única. Sem tempo para besteiras do boy, ALREADY mostra a cantora dando um ultimato para o famoso “ou dá ou desce”. É essa mistura honesta e cru de composições que dá para o álbum a força necessária para sair do esteticamente deslumbrante para um patamar acima, conseguindo não apenas encantar como também emocionar. Outros momentos de destaque do álbum ficam por conta da diretamente influenciada pela eurodance do começo dos anos noventa GOT EM, a densidade sonora de COUNT IT, a efervescência contida da batida de NEXT 2 YOU, a delicadeza de LAY e, por fim, os sintetizadores oitentistas na batida eletrônica de SOMETHING. De alguma forma, Play with the Changes é uma descoberta inesquecível de uma artista que tem ainda a capacidade de ir a lugares que sinceramente não estava esperando, mas senti extremamente acolhido em sua viagem musical."
14. An Evening with Silk Sonic
Silk Sonic
"Capitaneado pelo Bruno Mars e o Anderson .Paak, An Evening with Silk Sonic é uma joia rara dentro do mainstream. Original, empolgante do começo ao fim, dono de um senso de estilo único e lindamente instrumentalizado, o álbum é uma cápsula do tempo para um R&B/soul/funk dos anos setenta e/ou oitenta que passa longe da nostalgia descarada, mas, sim, uma homenagem extremamente sincera para os originadores. Além disso, o álbum, apesar de rápido ao ter cerca de apenas meia hora, funciona quase como um álbum conceitual sobre os estágios de um romance indo da conquista, a paixão, o coração quebrado, o pé na bunda e, por fim, o recomeçar. Todavia, a maior qualidade de An Evening with Silk Sonic é a sensação clara que todos os envolvidos estão se divertindo realizando em cada momento. E isso é algo realmente inestimado, pois dá para o álbum uma luminosidade e personalidade única."
Self Esteem
"Sonoramente, o trabalho pode ser simplesmente explicado como uma grande celebração do pop em várias das suas formas, mas a verdade é que a produção faz uma saga por basicamente todos os principais subgêneros pop que circulam atualmente. Entretanto, a produção subverte ao incorporar mudanças drásticas e incríveis incorporações de nuances, texturas e construções em faixas que poderia seguir facilmente caminhos fáceis. Acredito que o maior e melhor exemplo disso seja a genial I Do This All The Time. Na teoria, a canção é uma mistura de pop soul e R&B, mas tudo é girado de cabeça para baixo quando os versos são declamados como se fosse um poema musica e o refrão cantado em forma de coro que cria toda uma atmosfera cativante, refrescante e genuinamente original. É claro que outros artistas já fizeram algo dessa maneira, mas Self Esteem exala uma sensação que estarmos ouvido pela primeira vez essa pratica. Isso se deve devido a extraordinária produção de Jacob Vetter, Johan Hugo e TIEKS que consegue criar essas pérolas mesmo parecendo que nada vai realmente funcionar. Outro momento de mesma força artística fica por conta de The 345.
Mais tradicional que a canção citada anteriormente, The 345 é uma pop soul/indie pop que apresenta um cuidado incrível com a construção da sua encorpada e épica instrumentalização. A quebra aqui vem da sensacional performance vocal de Self e as decisões da produção vocal. Por exemplo, a cantora adicional uma carga pesada de emoção realmente genuína e a produção vocal acerta com o excepcional coro e a decisão de usar um off para a bridge. Isso ajuda a provar que um artista pode ter a melhor produção do mundo, mas se não tiver realmente talento nada vale a pena. E isso Self Esteem tem de sobra, pois, além de dominar qualquer momento, a cantora apresenta um alcance e versatilidade gigantesco. Em Hobbies 2, a cantora usa o seu timbre levemente anasalado para dar vida a uma faixa que fortemente se inspira na Kate Bush, mas que ganha vida própria na voz da artista. E mudando de caminho, a cantora entrega na balada indie pop John Elton uma poderosa e sentimental interpretação que brilha nos momentos contidos assim como nas grandes explosões. Novamente, a produção vocal acerta em cada adição e na condução da performance da cantora que dá o espaço necessário para a composição encontre o seu porto seguro."
Linn da Quebrada
"Se denominando em entrevistas como “bicha, trans, preta e periférica”, Linn da Quebrada teria tudo para não ter esse espaço, mas, felizmente, a artista encontra o seu lugar de forma ao misturar todas suas referencias que navegam do carimbó, música de origem africana, música latina, brega, pop dos anos oitenta, MPB, eletropop, EBM, samba e soul. Essa profusão de gêneros e estilos poderiam se chocarem a 100km/h e cria uma explosão se sentido e completamente caótico. Felizmente, Trava Línguas é o tipo de caos que faz sentido especialmente devido a força artística que é coloca por trás de cada canção. Na verdade, o álbum é o que posso chamar de melhor tradução do que art pop brasileiro, pois é possível perceber essa construção que se equilibra perfeitamente entre o mundano, o celestial, o urbano e o artístico no seu sentido mais refinado. Grandioso e, ao mesmo tempo, extremamente pessoal. Delicado, mas sem perder o dedo enfiado na ferida do patriarcado branco. Passagens poéticas encontram momentos de pragmatismo desconcertante sem perder a sua força emocional. Trava Línguas é um manifesto imperfeitamente perfeito que guarda pequenas joias a cada nova faixa. E tudo começo com a espetacular amor amor.
Lembro de escutar pela primeira vez a canção ao começa a minha pequena jornada de escutar Trava Línguas e ser invadido por uma sensação de eletricidade quase impossível de controlar. Uma envolvente mistura de carimbó e influências de canções de religiões de matrizes africanas, amor amor mostra que o álbum que se segue é uma louvação misturado com reimaginação da música nacional. E Linn não se estabelece em apenas um nicho, pois o álbum é uma galeria de quadros da mais variadas referencias traduzidas pela personalidade incisiva da cantora. I míssil é um dos momentos geniais do álbum e deve entrar fácil entre as melhores canções de 2021 “é uma construção melódica e deliciosamente elegante de mais de cinco minutos que traz referencias de atmosferas de uma sonoridade dos anos oitenta da MPB como a Mariana Lima que remete também a trabalhos de nomes notórios do atual cenário indie/art pop como, por exemplo, FKA twigs”. Em cobra rasteira, a atmosfera parece ter saído de um filme de soft porn dos anos noventa, mas regado por verniz electropop e pinceladas de brasilidade inspiradora. E é aqui que Trava Línguas ganha essa merecida alcunha de art pop ao se render de maneira inesperada e sensacional para uma sonoridade electro/EDM/dance em uma verdadeira aula de como fazer pop no Brasil."
James Blake
"A principal mudança é que James apresenta uma leveza na construção climático do álbum que o artista nunca tinha apresentado antes. Acredito que a espetacular faixa Say What You Will ajuda a entender bem essa mudança que mostra “um James menos tenso ao não se importar com as opiniões de outras pessoas sobre a sua vida, mostrando uma confiança inspiradora e uma positividade orgânica”. Isso “também reflete essa felicidade com um espetacular indie/eletrônico com toques de post-dubstep em uma atmosfera leve e energética sem perder, porém, a qualidade técnica excepcional com adição de gratificantes e revigorantes nuances e texturas que sempre permeiam a sonoridade de James”. Essa evolução da melancolia densa dos álbuns anteriores dá espaço para um artista mais ensolarado, mas que continua a ser emocionalmente profundo e tecnicamente espetacular. É como se James tivesse encontrado a esperança por trás da cortina da tristeza sem deixar de lado as feridas da vida. E isso é algo extraordinário, pois abre um leque ainda maior de possibilidades temáticas para o artista explorar. Esse é o caso de Friends That Break Your Heart.
Dando nome ao álbum, a faixa é uma honesta e pragmática crônica sobre amigos que nos decepcionam. Ao colocar o amor romântico de lado, James explora um sentimento que a maioria já sentiu, mas que poucas vezes é usado como tema de músicas. E, queridos amigos, o cantor utiliza a ideia de maneira espetacular com uma letra simples, mas cortante, que entrega uma verdade realmente avassaladora. Em Funeral, James relata as dificuldades de pessoas introvertidas de poderem se expressarem emocional de uma maneira tão real que emociona até mesmo quem é extrovertido. Apesar de serem temáticas com reflexões profundas existe essa presente sensação que James não está lamentando e, sim, expondo esses sentimentos de maneira a mostrar que existem luzes do fim do túnel. Além disso, a atmosfera de produção consegue criar uma áurea mais leve e animadinha mesmo sem mudar sonoramente."
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