17 de dezembro de 2023

Primeira Impressão

SAVED!
Reverend Kristin Michael Hayter





Mudar de nome artístico não é nenhuma novidade. Por exemplo, o Prince teve uma época que identificava como um símbolo ou como “The Artist Formerly Known as Prince”. E é por isso que a mudança artística da cantora Kristin Hayter que aposentou o nome/projeto Lingua Ignota para adotar o nome de Reverend Kristin Michael Hayter. Como primeiro álbum dessa nova era foi lançado o álbum SAVED!. O mais interessante aqui é possível notar a mesma base da faceta anterior da artista, mas, ao mesmo tempo, apresenta diferenças nítidas e significativas.

Sonoramente, o álbum continua a jornada da artista em criar uma experiência que coloca o avant-garde no gospel em uma construção grandiosa, estilizada e de uma força emocional que transita entre o celestial e o profano. Entretanto, a diferença entre Sinner Get Ready (2021) e SAVED! é o caminho como se chega nesse resultado. Existe uma mudança nos gêneros adjacentes usados que foi deixado de lado os mais eruditos para dar espaço para os mais populares como, por exemplo, southern gospel (gênero do gospel feito no sul dos Estados Unidos e com origem secular). E isso dá uma sensação de maior urgência para o álbum, criando uma conexão mais humana entre a artista e quem a ouve. No álbum anterior tinha a sensação de estarmos ouvindo um sermão de uma entidade superior, mas aqui é como se fosse um sermão ao vivo vindo de uma dinâmica, carismática e com um toque de loucura. E ainda assim, a cantora não quer transformar ninguém em devoto e, sim, fazer a gente ter essa experiência catártica de fundo religioso. O resultado é menos espetacular que o álbum anterior, especialmente devido algumas decisões como a de fazer algumas canções soarem como fossem estações de rádio com instabilidade de conexão, mas ainda assim é um deslumbre desconcertante e único álbum. O melhor momento do álbum é na magistral I Will Be with You Always que apresenta uma estrutura que permite Kristin entoar a canção com em um transe religioso apolítico e transcendental. Em How Can I Keep from Singing, regravação de um hino gospel tradicional, o monumental instrumental vai levando a gente para um final que termina em uma longa gravação da cantora “falando em línguas” que é simplesmente hipnótico e assustador da melhor maneira possível. Esse também é a base da melancólica e soturna The Poor Wayfaring Stranger em que a cantora leva o seu público para uma jornada aos porões do gospel com seus quase oito minutos. SAVED! mostra que não importante qual o nome que a artista irá tomar par si, pois sempre vai entregar algo que seja de uma relevância impressionante e que precisa ser admirada.

Nenhum comentário: