Perfume Genius
Desde que comecei a seguir e a resenhar os álbuns do Perfume Genius, Glory é o seu álbum menos inspirado até o momento. Isso, porém, não quer dizer que seja um álbum ruim, pois ser o pior dentro da discografia do artista quer dizer apenas que não atinge alguns ápices.
Sétimo álbum da carreira de Michael Alden Hadreas, nome de nascimento do cantor, é um álbum introspectivo sonoramente que não chega a ser pequeno, mas sim com um escopo sonoro contido. Nos dois álbuns anteriores, o artista explorou uma gama bem abrangente e profunda para lapidar uma sonoridade que reflete uma grandiosidade explorativa e uma inquietude criativa excitante. Em Glory, Perfume continua esse mesmo caminho, mas parece querer navegar em águas mais tranquilas em todos os sentidos, deixando o resultado final menos espetaculoso e imponente. É uma decisão artística que deixa bem claro que Perfume está sempre em constante evolução/transformação artística. O resultado pode ser “menor”, mas ainda tem a assinatura inconfundível do artista.
Sonoramente, Glory tem a base mais “segura”, fincada no indie rock/folk com lampejos fortes de art pop e ambient pop, sem quebrar muitas expectativas, mas sempre entregando um trabalho instrumental refinadíssimo, maduro e inspirado. E, mesmo que tudo soe “menor”, o trabalho de construção dos arranjos no álbum é algo realmente impressionante, devido à sua complexidade estrutural e profundidade sonora que a produção de Blake Mills é capaz de tecer dentro dos caminhos criativos escolhidos para guiar o trabalho. O grande destaque do resultado que essas decisões tomam está na ótima indie rock com toques precisos de art pop Clean Heart, devido ao seu belo e contemplativo instrumental. Todavia, o que realmente sustenta o álbum é a presença única do cantor e a sua impressionante voz.
Clássica, melancólica, versátil, poderosa, tocante, sensível, dura, aveludada e quebradiça são alguns dos adjetivos que podem ser associados à voz e à capacidade vocal de Perfume Genius, pois o cantor é capaz de entregar tudo isso mesmo que a canção não esteja exatamente à altura do seu potencial. Um dos momentos mais inspirados de sua presença é ao lado da cantora Aldous Harding em No Front Teeth, em que “as duas performances são inspiradíssimas, partindo de uma diferença notável entre timbres vocais que dão liga bem melhor que o esperado. E a grande razão para que os dois brilhem é a maneira como a presença da cantora complementa a canção ao ter uma divisão substancial dentro da canção sem, porém, roubar o holofote principal”. Tenho que admitir que liricamente existe uma certa queda de qualidade, pois aqui é mais sentida essa decisão do artista de olhar ainda mais para seu interior ao criar letras intimistas que não geram uma empatia fácil com quem escuta, como é o caso de It’s a Mirror, em que “a composição é um trabalho inspirado que consegue unir bem o lado mais artístico do Perfume Genius com uma estrutura mais tradicional ao refletir os toques de folk/country da canção”. O álbum ainda conta com alguns outros destaques, como o lindíssimo instrumental de Full On e o destaque para a harpa em seu arranjo, a sombria e dramática In a Row e, por fim, a densa e climática Hanging Out. Glory é uma glória menor do Perfume Genius, mas que ainda merece ser celebrado com todos os louvores cabíveis e merecidos.


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