channel ORANGE
Frank Ocean
O que faz de um álbum ser considerado uma "obra de arte"? Não é apenas uma "coleção" de boas músicas, não é apenas a elaboração de arranjos perfeitos, não são apenas letras magistrais ou vocalização perfeita. Uma obra de arte musical em forma de álbum é a elevação de um artista aos céus pelo seu próprio talento. É a consagração máxima da alma, a mente e o coração. É a prova que talento é dado por algo divino. Algo acima de nós, chame do nome que você preferir. Nesses quatro anos de blog apenas três artistas chegaram nesse nível: Kanye West com o monumental
My Beautiful Dark Twisted Fantasy, Adele e o seu arraza quarteirão
21 e o Florence + The Machine com o divinamente dark
Ceremonials. O quarto nome acaba de entrar nessa lista: channel ORANGE do Frank Ocean. Contudo, antes de falar do álbum em si, vou dar uma situada em quem é Frank Ocean.
Nascido com o nome de Christopher Breaux na cidade de Nova Orleans, ele começou a carreira sendo "
compositor fantasma" de nomes como Brandy, Justin Bieber e John Legend. Em 2010 se juntou com o rapper Tyler, The Creator no grupo de produtores, rappers, cantores e artistas diversos intitulado Odd Future. O lançamento de mixtapes do grupo junto com o aclamado
Nostalgia, Ultra., sua própria mixtape lançada ano passado, chamou a atenção de Jay-Z, Kanye West e da Beyoncé. Com a cantora, ele co-escreveu a canção I Miss You do álbum
4. Com a dupla de rappers, Frank participou do álbum
Watch The Throne com a composição e o featuring nas aclamadas Made in America e no single
No Church In The Wild. Contudo, o que chamou a atenção da mídia recentemente foi uma declaração extremamente corajosa que o colocou na história da música: em seu site pessoal, Frank declarou que sua primeira paixão aos dezenove anos foi um homem, assim sendo, ele se transformou no primeiro artista hip hop/R&B mainstream a revelar um relacionamento com uma pessoa do mesmo sexo. Em uma indútria tão machista e preconceituosa, a atitude é o começo de uma quebre de barreiras na luta contra a homofobia. Todavia, isso é quase noticia velha, pois Frank Ocean acabou de lançar seu primeiro álbum channel ORANGE. E como eu já disse o trabalho está sendo aclamado como uma obra de arte indiscutível.
channel ORANGE é a celebração da arte como música. Ocean cria uma obra atemporal ao se colocar em um lugar entre as lendas do soul music como Stevie Wonder, Marvin Gaye e mais próximo aos melhores trabalhos do Prince. A viagem em um mundo intrigado de Ocean é uma volta ao passado, mas com ao olho no futuro. Complicado, arrebatador, edificante, pulsante, vibrante, brilhante. Frank cominha em estradas da mais diferentes falando do amor em primeiro plano, mas há assuntos como drogas, sociedade e religião. Em cada composição ele vai além do que se poderia esperar. Arranca como um cirurgião órgãos, sentimentos, ossos, medos e muito mais. Como um soco na ferida aberta, ele retrata com maestria de uma pessoa que vive década e mais décadas reflexões profundas e brilhantes. E ele só tem vinte e quatro anos de idade. Podemos classificar o seu som como neo soul para termos apenas uma classificação. Contudo, assim como os três álbuns já citados, channel ORANGE vai muito mais que classificações. A jornada sonora de Frank é muito profunda e multifacetada. O trabalho de instrumentalização é, talvez, um dos mais geniais dos últimos anos. Há tantas texturas, batidas, samples, sons, instrumentos diferentes só que costurados de maneira tão perfeita que chega a ser desleal para nossos ouvidos tentando captar cada segundo, cada batida, cada inspiração, cada pérola. Já Frank como vocalista se coloca em um pedestal que não há proteção. Suas interpretações são cheias de sentimentos, força, genialidade e algo mais que apenas gênios tem e simples mortais não podemos falar com palavras. Não posso ressaltar uma canção, mas posso dizer isso: se você ouvir Bad Religion e não sentir algo arrebatador, esqueça, vocês não está preparado para a genialidade de Frank Ocean. Se sentir, seja bem vindo ao álbum que pode mudar sua percepção do que é música. E Frank Ocean seja bem vindo a eternidade!