20 de dezembro de 2015

Primeira Impressão

25
Adele



Escrever a resenha de 25 da Adele é, talvez, a mais complicada critica que eu já fiz ao longo desses anos de blog. Não porque faltem tópicos para serem abordados, pois existem centenas de caminhos que eu poderia seguir para elaborar esse texto. Todavia, tudo o que poderia ser escrito sobre o álbum já foi publicado. Falar sobre as cifras astronômicas? Confere. Falar sobre os recordes? Feito. Falar sobre o tempo que ela ficou fora da música? Claro que já foi abordado. Falar sobre o poder de conquistar o público como nenhum artista hoje em dia? Já li em alguns lugares. Falar que, mesmo sem arriscar sonoramente, Adele entrega um álbum de qualidade? Vários foram por esse caminho. Então, o que eu posso falar que seja, ao menos, relevante para vocês que estão lendo essas minhas palavras? Descobri que existe apenas uma única saída ao voltar os meus olhas para o passado, mais precisamente no dia 22 de Janeiro de 2011, quando eu publiquei o Primeira Impressão do 21: o que eu preciso fazer é falar o que eu sinto de verdade, sem amarras de dados técnicos ou análises friamente pensadas e repensadas. Essa será uma resenha que o "critico" em mim sai um pouco de cena e entra o meu lado humano. Tendencioso? Um pouco, mas o mais verdadeiro possível.

25 são sobre as mesmas feridas que Adele relatou em 21. Todavia, Adele não está mais falando do mesmo lugar, nem da mesma posição. Se no álbum anterior as feridas ainda estavam abertas e Adele queria encará-las de frente e sem medo, agora os anos se passaram e com a cantora mais velha e experiente está na hora de rever as cicatrizes deixadas. Está na hora de enfrentar os fantasmas da jovem Adele escondeu. Está na hora de abrir algumas cicatrizes para encarar a dura realidade que, em alguns momentos, Adele foi a culpada pelo sofrimento e, não, a vitima. Chegou a hora de Adele pedir desculpas para, assim, fechar um ciclo na sua vida. 25 é sobre, ao mesmo tempo, olhar para o passado e começar a pensar no futuro. Falando assim, os sentimentos que o álbum trata são, na verdade, comuns para quase todas as pessoas. Em algum momento das nossas vidas já tivemos que refletir sobre o que fizemos para poder continuar a caminhada. Algumas pessoas já fizeram esse processo várias vezes. Então, qual o motivo que faz do álbum tão especial ao falar sobre sentimentos tão "comuns"? Uma palavra: Adele.

Recuperada de uma complicada cirurgia nas cordas vocais, Adele está melhor do que nunca. Só que as qualidades dela vão muito além da parte técnica, já que a cantora, nesse quesito, continua impecável e avassaladora. O grande diferencial da cantora é a sua capacidade de transformar qualquer sentimento simples e trivial no mais alto sentimento humano. Na voz de Adele, qualquer palavra ganha tantas significações, nuances, cores e implicações que ao final dos versos já estamos completamente movidos pelos sentimentos expressados. Adele consegue conquistar o público em todos os momentos desde as partes em que ela entra no estado de "diva" ou aqueles momentos intimistas que ela precisar cantar de maneira mais grave. Tudo fica bem claro longo no começo do álbum abrindo com o single arrasa quarteirão Hello: logo na primeira palavra da canção já somos dragados para o redemoinhinho emocional criado por Adele e que continua cada vez mais rápido até que não resta nenhuma força em nossos corpos. 

Até posso concordar que não há nenhuma ousadia sonora em 25 está, assim como o álbum anterior, recheado de baladas com algumas canções mid-tempo aqui e ali. Porém, o que podemos querer mais da Adele, se tudo o que foi feito no álbum é tão sensacional e, principalmente, essa sonoridade foi fundamental para ser o suporte perfeito de toda a carga emocional impregnada no álbum? Para quem olhar de mais perto, porém, irá perceber que Adele se deu o luxo de "brincar" com a sua música ao chamar nomes como, por exemplo, Max Martin, Shellback, Greg Kurstin, Ariel Rechtshaid, Danger Mouse e, até mesmo, Bruno Mars e o seu trio de produção The Smeezingtons para se juntarem aos parceiros de longa data (Paul Epworth e Ryan Tedder). Essa mistura resultou, sim, em um álbum cheio de baladas com base de piano, mas com várias nuances extremamente bem vidas. Dou dois exemplos claros do que estou me refiro: River Lea e o seu coral gospel e a sua atmosfera sombria tem ecos no rock alternativo dos anos oitenta ou a clara alusão de R&B e música eletrônica na batida sexy e cadenciada de I Miss You, que pela primeira vez ouvimos uma Adele falar sobre sexo mais explicitamente. Até mesmo em baladas há essas pequenas brincadeiras: a linda e melancólica Million Years Ago flerta deliciosamente e nostalgicamente com o folk pop mostrando a capacidade da cantora em não apenas falar sobre amor. E "falar" é o que une todos os pontos no álbum.

Para Adele expressar tudo que deseja não há necessidade de grandes arrombos poéticos. Inusitadas construções sintáticas. Adele precisa apenas ser direta e sucinta usando-se do simples para cortar o mais profundo em nossos corações. 25 é feito de composições tão honestas, tão simples e sem nenhum tipo de rodeio que parece que foi tirado de conversas informais do dia a dia. Só que é essa qualidade aliada com os vocais de Adele que fazem tudo ganhar um novo patamar único. Esse é o caso da arrebatadora When We Were Young que parece centralizar a alma de todo o álbum ao contar de maneira devastadora o trivial encontro com quem a gente amou depois de muito tempo. All I Ask é o encerramento doloroso e retumbante para Someone Like You. Love In The Dark faz de Adela aquela que precisa de qualquer maneira terminar o relacionamento antes que as coisas cheguem a um ponto sem retorno. RemedyWater Under The Bridge são para dar esperança aos corações feridos. Send My Love (To Your New Lover) é sobre como mostrar que tudo está superado. As faixas bônus Can’t Let Go, Lay Me Down e Why Do You Love Me são para mostrar o quanto Adele é sensacional até mesmo naquelas canções feitas para atrair público para pagar um pouco a mais. Por fim, Sweetest Devotion é um fechamento doce em que a cantora fala sobre o seu mais novo amor: seu filho. Não há outra maneira melhor para terminar essa resenha do que apenas agradecer a Adele por mostrar que a música ainda importa nas vidas das pessoas. E na minha também.

4 comentários:

João disse...

E as estrelas? Fiquei louco agora sem saber a nota haha

Jota disse...

João Pedro, obrigado! Acabei de lembrar!

Anônimo disse...

Pois é J... Agora sinceramente, o que você acha dessa crítica?

https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mira-regis/adele-faz-de-25-um-dos-%C3%A1lbuns-mais-201735559.html

Vale lembrar que em entrevista a Rolling Stones, ela disse que conseguiu concretizar as músicas através do maravilhoso "ROL" e que a incrível "Frozen" até elevou sua confiança.

Jota disse...

Guilherme sobre a resenha é simples: esse senhor quer falar sobre música pop sem gostar de música pop, ou seja, vai odiar 95% de tudo. Além disso, eu já li vários textos dele e, posso dizer, ele é extremamente amargo e grosso "humilhando" os artistas e esquecendo da música em si. Uma perda de tempo total. Opiniões diversas são muito bem vindas, mas era há a necessidade de gostar do que fala. Isso seria igual ao blog começar a falar sobre heavy metal: respeito, mas não curto. Uma dica: não leia esse senhor.

Valeu e volte sempre!