Rihanna
Acredito que na nossa sociedade está carecendo de duas coisas que faz muito a diferença nas nossas vidas: amor e interpretação de texto. Esse segundo é o que pode gerar mais problemas em uma escala numérica maior. Pequenos problemas, mas de uma pertinência assustadoramente irritante. Vejamos o caso da Rihanna. A cantora anunciou que o seu oitavo álbum chamaria Anti (estilizado como ANTi). Até aí tudo bem, mas o problema veio quando o álbum foi divulgado em uma campanha promocional de estrategia bem duvidosa. Não vamos entrar nesse quesito, pois não é o tema dessa resenha. O ponto principal é que quando uma parte do público, incluindo fãs de RiRi, ouviram o álbum começou quase uma revolta popular em que se levantou a bandeira: "cadê a farofa, Rihanna?". Isto é: as pessoas realmente não entenderam a ideia por trás do álbum e se revoltaram por uma coisa que já tinha sido estabelecida pela própria cantora já que anti (prefixo com o mesmo significado semântico em inglês e português) significa "ideia de oposição, contrariedade,direção oposta". Então, interpretando o que o álbum quer transmitir: ANTi é oposto de tudo o que a cantora fez nos últimos tempos, ou seja, NÃO É PARA TER FAROFA POP. Quem conseguir compreender de verdade essa ideia irá se surpreender com a qualidade de ANTi, melhor álbum dela desde Loud de 2010.
Então, se o álbum vai na contramão do que a cantora fez, ANTi segue qual caminho exatamente? A resposta é até simples demais: R&B. RiRi entrega um redondo, bem produzido e, em algumas momento, inspiradíssimo trabalho em que mistura tendencias contemporâneas com influências clássicas do gênero. Não espere batidas frenéticas ou faixas que parecem feitas por qualquer DJ de música eletrônica para serem tocadas em boates com o intuito de fazer a pista pegar fogo. ANTi é mais sobre batidas cadenciadas, nuances sonoras e construções instrumentais minimalistas. Talvez o problema de ANTi seja o momento em que foi lançado, pois a sonoridade do álbum parece influenciada por artistas com menos tempo de carreira do que a Rihanna como, por exemplo, Tinashe e FKA twigs. Se o álbum tivesse sido lançado uns três anos atrás, Rihanna poderia ser o nome principal dessa nova tendencia e, não, outra a seguir a onda. Entretanto, isso não neutraliza o bom trabalho de todos os produtores e, também, da Rihanna que parece estar com mais controle sob a sua carreira e fez o que achou melhor para a sua carreira.
Com a produção vocal do requisitadíssimo Kur Harrell, Rihanna entrega excelentes performances ao logo do álbum, conseguindo transitar entre vocais estilizados que ressaltam o seu sotaque e a pronuncia de certas até vocais mais "tradicionais" e que precisam de uma presença mais forte como é o caso da ótima Higher que com a sua estética Motown e uma duração de apenas dois minutos consegue ser melhor que quase todo o último álbum dela, Unapologetic. Outro ponto que melhorou com a mudança de gênero da cantora em ANTi foi a qualidade das composições. Ainda não são exatamente trabalhos geniais, mas estão bem longe da qualidade duvidosa de várias canções dela incluídas nos dois últimos trabalhos com mais sentimentos do que momentos para fazer estádios cantarem. Os melhores momentos do álbum ficam exatamente nesses momentos quando RiRi parecer abrir o coração como na já citada Higher, na dark Desperado, na deliciosa Yeah, I Said It, Never Ending que usa sample da Thank You da Dido, a sensacional balada Love On the Brain e na triste Close to You. Quem tiver um pouco de amor verdadeiro pela música e, principalmente, saber interpretar quem é essa "nova" Rihanna irá curtir de verdade ANTi. Quem quiser farofa para "bater cabelo" pode deixar de lado e procurar por dezenas de música que combinam com essa preferência que são lançadas diariamente.
2 comentários:
Curti demais, principalmente "Desperado", uma das melhores músicas da carreira dela. O q você achou das faixas bônus?
Eu achei ANTi a sua masterpiece.
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