17 de março de 2020

Primeira Impressão

Changes
Justin Bieber


Quem é o Justin Bieber? Essa pergunta pode parecer um pouco estranha já que mais de meio mundo sabe quem é o astro pop. O problema é que o cantor ainda não estabeleceu a sua persona artística após ter virado "adulto". Ao contrário de contemporâneos como Ariana Grande, Demi Lovato, Jonas Brothers e até mesmo a ex Selena Gomez, Bieber ainda não conseguiu construir um público que saia daquele que o mesmo trouxe da sua era de astro teen. É necessário dizer, porém, que essa base ainda é bem grande, mas insuficiente para elevar de verdade o cantor a um novo patamar. E o próprio Justin parece continuar a errar o alvo, mesmo com todo apoio por trás. Além da sua imagem pessoal não melhor após virar "homem de família e crente a Deus", a persona artista também continua sendo vista de forma muito negativa. Na verdade, Changes é o fundo do poço em relação a carreira de Bieber.

Aprendi durante anos de blog que criticar é muito mais fácil que elogiar e, por isso, irei começar pelo o que o álbum tem de bom. Curiosamente, o melhor de Changes é a presença de Justin Bieber. Apesar de não ter perdido o timbre adolescente, Bieber entrega as performances mais sólidas da sua carreira, sabendo se utilizar bem das características da sua voz sem grandes exageros. Na verdade, alguns momentos, principalmente nas primeiras faixas, a performance do cantor é realmente boa, deixando no ar o que o álbum poderia ter sido caso tivesse uma outra direção. Direção essa que daria para Changes alguma personalidade que não fosse uma tentativa mal acabada de seguir o mesmo caminho da Ariana Grande em thank u, next.

E qual é esse caminho? Tanto o álbum da Ariana como o de Bieber pretendem ser trabalhos pop com uma linearidade sonora e uma fluidez milimétrica. Teoricamente e tecnicamente, a produção de Changes consegue esse feito, mas erra o resto todo. O grande erro aqui é que todo álbum caminha em apenas uma toada sonora, não apresentando nenhuma ou quase nenhuma nuance. Enquanto o trabalho da Ariana trilhava um caminho único, mas com várias curvas, ladeiras, atalhos e, sim, alguns tropeços, o álbum do Bieber caminha em linha reta o tempo todo sem nem olhar para o lado. Batidas quase iguais uma com a outra, ritmos e gêneros que parecem ter alguma diferença apenas na superfície e nenhum momento de quebra de expectativa não são apenas problemas, mas a base de todo o trabalho do álbum. Acredito que o principal motivo desse resultado seja a escolha de ter um produtor principal para todo álbum: Poo Bear. Apesar de ter vários co-produtores, a direção do álbum é claramente de Poo Bear que cria esse pop/R&B modorrento, repetitivo e quase sem nenhuma força artística. Ouvir Changes é basicamente ouvir a mesma canção com a mesma base, mas com uma batida levemente alterada. Isso pode até ser fluido e coeso, mas está longe de construir uma sonoridade. E o pior: apesar da maioria das dezesseis faixas terem menos de três minutos e, no geral, o álbum ter cerca de quarenta e sete minutos, Changes se torna um trabalho arrastado da sua metade para frente que, sinceramente, fica difícil se concentrar de tão chato que fica. Entretanto, a sonoridade não é o principal defeito que o álbum apresenta.

A carreira de Justin Bieber nunca foi exatamente conhecida pelas suas grandes obras liricas. Na verdade, não lembro de nenhuma das suas canções que realmente seja um trabalho marcante na sua composição. Medianos para bom, sim, mas nunca geniais ou inesquecíveis. Entretanto, Changes leva tudo a um outro nível de ruindade que, sinceramente, nunca presenciei em todos esses anos de blog. Começa tudo pela precária, pobre e vergonhosa construção de todas as canções em que o público é "presenteado" com os piores versos dos últimos anos. Pensei em até colocar alguns exemplos, mas a verdade é que ficou difícil escolher apenas alguns para ilustrar e, principalmente, não gostaria que vocês leitores passassem a vergonha alheia desnecessária. Acreditem, porém, o nível aqui é uma mistura de adolescente querendo soar adulto com um nível de vocabulário de pré-escola. E para piorar, Justin insistir em repetir basicamente o mesmo tema em quase todas as faixas: o seu amor pela esposa. Não que isso seja ruim, mas apenas esse tema unido com a péssima qualidade transforma o resultado final em algo quase abismal. O único momento que se pode dar alguma palavra positiva é para o Get Me, mas não é nem suficiente para pode chamar a de uma boa canção. E depois de ouvir Changes, a pergunta ainda continua a mesma: quem é o Justin Bieber? A resposta ainda é que nem o mesmo deve muito bem saber.


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