Kesha
Quando a Kesha lançou o seu terceiro álbum em 2017 havia uma sensação muito clara: Rainbow era a sua expiação de toda dor e drama que a cantora foi submetida nos anos anteriores. E mais: o trabalho também era o atestado comprobatório que artista era muito mais do que aquela que tinha sido apresentado anos antes. Três anos depois, a cantora volta com um novo álbum que continua a consolidar a sua nova imagem perante o público, mas também ajuda a resgatar as principais qualidades do começo da sua carreira. Além disso, a cantora parece realmente pronta para deixar as feridas cicatrizarem e começar a curtir a vida.
High Road é um álbum divertidamente descartável. Embora isso possa parecer algo para ser entendido como ruim, a verdade é que essa é a sua principal qualidade. Kesha mostra aqui que está pronta para se divertir como se fosse 2010, mas não o mesmo em que a cantora viveu e, sim, um novo 2010 em que é a cantora que dita as suas próprias regras. E, ao mesmo tempo, continuar a viver o seu atual momento ao cuidar de forma menos intensa as feridas deixadas. Assim High Road se tornar uma aventura sobre se sentir uma merda, mas erguer a cabeça e decidir deixar tudo na pista de dança. A cantora vai da reflexão de Rainbow para extravasar todos os demônios para a pura celebração em High Road, deixando claro que a mesma está mais do que pronta para achar a sua felicidade plena. É fácil ouvir a velha Ke$ha aqui e ali, mas são apenas fleches de uma antiga personalidade que evoluiu para algo melhor. A principal mudança de antes e o agora é liricamente: Kesha pode até entregar composições engraçadonas e com aquela persona "dirty" que o público ouviu no começo, mas existe uma mudança significativa quando se percebe a maturidade que a artista coloca em cada trabalho. Não espere canções que facilmente poderiam virar hits, pois a cantora está mais preocupada no conteúdo que as suas letras apresentam. Divertida, irônica, brega quando precisa e séria quando o momento pede, as composições em High Road representam perfeitamente o atual estado da vida da cantora. Uma boa ideia sobre isso fica por conta do single Raising Hell com a sua letra "foda-se o mundo e dance até o dia nascer" com a romântica e sincerona Cowboy Blues sobre perder a chance de viver um grande amor. Sonoramente, High Road continua na mesma proposta do álbum anterior ao ser uma mistura de gêneros e estilos, mas como uma grande diferença na sua base.
Em Rainbow, a sonoridade pavimentou "do zero toda uma nova estrada para si. Uma estrada que se baseia-se primordialmente nas influências verdadeiras de Kesha que vai de Iggy Pop até Dolly Parton. Então, o álbum torna-se uma mistura de indie pop com indie rock e country, transformando a cantora em uma diva pop indie". High Road, porém, não apenas se utiliza dessa sonoridade, mas, também, apresenta uma espinha vertebral diferente: o mais puro pop. E você pode perguntar: isso é diferente porquê? Simples: o álbum anterior tinha uma base mais ampla e, primordialmente, indie pop/rock. No novo álbum, porém, a base é um pop mais tradicional que vai abrindo o leque para uma mistura de gêneros como dance-pop, indie pop, country pop, electropop e pop rock. Deu para perceber que, apesar de serem gêneros diferentes, todos apresentam pop na sua constituição. E é dessa maneira que High Road é em sua essência um álbum pop que brinca com vários elementos distinto para criar uma colcha divertida e, sinceramente, surpreendente. Não acreditei que o álbum seria tão bom depois de ouvir os primeiros singles. Não que achei que seria ruim, mas bem abaixo do que realmente o trabalho é. Esse encontro da Kesha com a nova proporciona bons momentos como a safadinha Birthday Suit, a engraçadona Kinky e a sua clara volta ao começo da carreira, a deliberadamente brega BFF com o cantor/produtor Wrabel. Todavia, os dois melhores momentos do álbum são aqueles que melhor mostram a dualidade e versatilidade do álbum: de uma lado a pop/R&B com toques de rap Honey com a sua composição sobre um amiga fura olho e do outro a sentimental country pop/indie pop Resentment sobre ter a força de dar nome aos seus sentimentos com a presença dos lendários Brian Wilson e Sturgill Simpson. High Road não irá mudar a música, a carreira da Kesha ou fazer quem não gosta da cantora começar a ser seu fã, mas é uma divertidíssima viagem que não faz mal a ninguém.
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