1 de maio de 2022

Primeira Impressão

Glitch Princess
Yeule




Ouvir o álbum Glitch Princess é uma experiência única devido a maneira que é construído, pois parece que não somos convidados para apreciar a obra. Yeule, projeto artístico de Nat Ćmiel, cria um álbum que não tem medo de entregar a sua visão, mas que pode alienar parte do público que gostaria de ir além de olhar por trás da cortina.

Produzido por Yeule e outro nomes conhecidos da cena indie, Glitch Princess é no seu fundamento um álbum de art/ambient/glitch/experimental pop que impressiona devido ao seu imenso cuidado estético. Todavia, a produção não está na procura de fazer algo que possa ser entendido facilmente, mas, sim, algo que precisa ser observado com um cuidado especial. E é por isso que por muitas vezes o resultado se torna caótico, distante e, algumas vezes, frio. Obviamente, essa sensação pode variar de pessoa para pessoa, mas é claro para mim que a intenção é deixar certa distancia entre criador e espectador, especialmente na primeira parte do álbum. Na minha experiência, Glitch Princess foi realmente fazer sentido quando percebi que o álbum não era feito para a minha identificação profunda e, sim, para que Yeule possa se expressar completamente da sua maneira sem estar presa a convenções ou expectativas de ninguém. E é com essa compressão que tudo fico bem claro a beleza do álbum.

Tentado alguma linha de raciocínio, Yeule é como se fosse o encontro no meio do caminho entre a extremidade genial da Björk e a pretensiosidade moderna da Grimes. E apesar dessa comparação, a sonoridade aqui ouvida é original o suficiente para estabelecer uma sonoridade distinta e excitante. E quanto mais a produção entrega escolhas ousadas dentro do contexto de Glitch Princess é que o resultado é elevado para outro patamar, sendo da metade para frente que o álbum pega o ritmo. Fragments é uma delicada ode ao pc music embalada por uma atmosfera serena e quase fantasmagórica. Logo em seguida surge Too Dead Inside que segue uma estrutura mais “tradicional” ao apresentar uma estética art pop com toques de indie R&B que ajuda a adicionar dinâmica para a canção. E nessa mesma pega aparece a ótima Bites on My Neck que apresenta uma estrutura bastante reconhecível, mas a adição de uma carga pesada de nuances a texturas a transforma em um trabalho notável de art pop. Todavia, o melhor momento do álbum é bem no começo do trabalho com a sensacional, robusta e encantadora Electric em toda a sua gloria de power balada de pop experimental. Outros momentos interessantes de Glitch Princess ficam por conta da serena e triste I <3 U, o instrumental mágico de Friendly Machine, a ousadia controlada de Mandy e, por fim, o single Don't Be So Hard On Your Own Beauty ao ser “uma fusão de indie rock, folk e pop, a canção é marcada pela nada clichê produção que vai adicionando camadas para criar algo realmente criativo, mesmo que não seja um trabalho sensacional”. Glitch Princess não é trabalho feito para agradar gregos e troianos e isso nem passa pela vontade de Yeule em nenhum momento. E é por isso que o resultado é tão interessante e demanda ser escutado para que possa tirar alguma conclusão.


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