Rina Sawayama
Não existe nenhuma dúvida que a Rina Sawayama tenha se torado uma das melhores forças pop que surgiu nos últimos tempos, especialmente depois do seu genial debut SAWAYAMA em 2020. Assim como toda sensação pop, a cantora chega ao segundo álbum com um hype altíssimo, mas também como bastante coisas para provar. E, apesar de não estar a altura do álbum anterior, Hold The Girl é uma revigorante e sólida entrada na jornada de Rina que corresponde em vários aspectos o que era esperado.
O primeiro ponto e, acredito, que o mais importa é fato da cantora não ter se mantido na mesma formula do álbum anterior e procurar dar uma guinada na sua sonoridade em busca de explorara novas facetas do pop sem perder o lado experimental. No novo álbum, porém, ao contrário de termos uma jukebox bem variada que mudava de estilos/gêneros de uma faixa para outra ao criar uma ruptura consciente e visível, Hold The Girl prefere seguir na sutiliza e fluidez clássica ao ter uma base única de pop/pop rock e indo adicionando nuances nessa mistura para costurar uma sonoridade rica, refinada e inspirada. Mesmo que não chegue aos picos que SAWAYAMA alcançou, a produção, que tem como principal nome de Clarence Clarity assim como o debut, introduz doses de indie pop, eletropop, country pop, dance pop, eurodance e contemporâneo que adiciona camada reluzentes para o material final, continuando a demonstrar que a visão da Rina, que também assina como produtora, sobre o pop é realmente única e revigorante. Entretanto, o problema que não faz o álbum decolar como poderia é o fato que não existe nenhuma música que seja muito acima da média, pois todas as faixas parecem estar em um mesmo nível criativo e de qualidade. Nível alto, mas todas em uma mesma linha. E isso fica ainda nítido com a comparação com as canções do debut. Felizmente, Hold The Girl resulta em algo sensacional, pois a Rina sabe muito bem o que pretender entregar e, principalmente, como entregar a sua visão sobre o pop.
Hold The Girl é uma clara mistura de várias tendências que dominaram o gênero nos anos noventa e começo dos dois mil, especialmente vindo de nomes como Madonna, Mariah Carey, Janet Jackson, P!nk, Alanis Morissette e Shania Twain. Pode parecer um caldeirão estranho que consegue funcionar muito melhor que o esperado devido a essa solidez estética vinda da excepcional instrumentalização e, principalmente, a visão primorosa sobre como construir as ideias propostas. E o grande triunfo aqui é que tudo soar algo com a personalidade da Rina e, não, os nomes citados como influência. Em questão de estilos, o álbum é uma mistura interessante, bem amarrada, fluida e levemente estranha de power baladas com dance/indie/electropop que pode não explodir plenamente ou ser um profundo experimento sonoro, mas termina sendo uma ótima pedida para quem quer ouvir um álbum de cabo a rabo sem maiores tropeços ou solavancos. O ápice do trabalho é a canção que dá o seu nome: Hold The Girl. “O single é um elegante, emocionante, grandiosa, inteligente, linda e nostálgica mistura de synth-pop, pop rock e EDM que remete diretamente a uma sonoridade dos anos noventa, especialmente uma ouvida na Europa na parte final da década”. Parte da primeira metade do álbum, a canção está inclusa na melhor sequencia durante os primeiros momentos do trabalho que tem faixa como This Hell em que “a produção de Clarence Clarity e Paul Epworth entrega uma canção realmente sólida e com um instrumental sensacional com pontos extras para o ótimo solo de guitarra”, a power balada pop rock Forgiveness e a faixa que abre o álbum a delicada balada indie pop Minor Feelings. E é nessa faixa que podemos notar outra importante característica do álbum: a sua temática.
Em SAWAYAMA, Rina mostrou “capacidade de ir além tematicamente ao falar sobre assuntos espinhosos e que normalmente não estão em voga nem nos trabalhos que tem a mesma pegada artística. Famílias disfuncionais, solidão, empoderamento, superficialidade, amizades tóxicas e as verdadeiras, amor próprio e sentimento de inadequação desfilam em letras inspiradas, lindamente construídas e com passagens excepcionais”. Hold The Girl continua a mostrar essa imensa qualidade de criar letras emocionar e intimas, mas existe uma clara concepção de seguir uma linha direta sobre uma temática que se ramifica em vários outros assuntos. Rina parece claramente expiar especialmente traumas da adolescência e da infância, refletindo problemas que envolvem a sua visão de si mesma e os seus relacionamentos com a família. Assuntos que foram citados anteriormente, mas o álbum parece se aprofundar mais nesse tópico de maneira continua. Devo admitir que em alguns momentos o resultado soa um pouco clichê e genérico em algumas observações, mas existe uma honestidade tocante vindas das reflexões que mostra a jornada de uma pessoa que sofreu traumas que vem se curando ao longo dos anos. O melhor momento do álbum é belíssima e emocional country pop Send My Love To John. Na faixa, Rina parece entrar na pele de um dos seus avôs paternos para refletir sobre o relacionamento com o seu filho. É uma visão extremamente interessante que consegue extrair emoções realmente tocantes devido a forma que a letra é construída. Fechando o álbum, Rina parece encerrar um ciclo de crônicas ao entregar a poderosa To Be Alive em que a mesma se mostra finalmente em um lugar bom depois de enfrentar os seus demônios pessoais:
'Cause I used to make my world so small
Prisoner to my bedroom walls
I never thought that I'd get this right
But I finally know what it feels like
To be alive
Tematicamente, a canção está conectada diretamente com a faixa anterior, pois Phantom fala sobre Rina não querer ficar presa ao seu eu do passado e busca uma saída. A canção também ressalta o quanto brilhante a cantora é ao mostrar uma “espetacular performance (...) que consegue entregar força, vulnerabilidade e emoção em canção que poderia facilmente cair em um lugar comum ou em exageros pretenciosos”. Outras canções que ganham destaque é a eurodance/synthpop Holy (Til You Let Me Go), Your Age e a sua mistura de música eletrônica com toques de música oriental que parece pegar referencias da era do Ray of Light da Madonna e, por fim, a estranhamente interessante Imagining. Hold The Girl não atinge a estratosfera do pop, mas é o voo perfeito da Rina Sawayama se solidificar como uma das melhores artistas da atualidade.
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