Like a Virgin
MadonnaApesar do começo promissor com o seu debut, Madonna não atingiu a fama/reconhecimento que iria a fazer a estrela que se tornou durante a década de oitenta. Isso aconteceu cerca de um ano depois com o lançamento do seu segundo álbum: o arrasa quarteirão Like a Virgin. Todavia, o motivo desse ser o ponto decisivo na carreira da Madonna não foi pela qualidade do álbum, pois foi exatamente a qualidade do resultado final já que é uma queda considerável entre os dois trabalhos. Na verdade, a razão verdadeira é que Madonna encontrou o veículo ideal para a sua consagração: a imagem. E é por isso que Like a Virgin é o álbum que a Madonna se tornou “A” Madonna.
Com o sucesso do debut, Madonna foi considerada a próxima grande estrela e isso deu uma liberdade para a artista que pudesse escolher o caminho exato que queria seguir. E foi exatamente assim que aconteceu. Poderia ter sido um fracasso, fazendo a cantora se tornar uma one hit wonder. Entretanto, o brilho da genialidade de Madonna se fez mais do que presente ao conseguir criar uma toda atmosfera em torno de si que saia da música para entrar no imaginário coletivo da sociedade. E isso, como dito anteriormente, foi devido a construção pesada da imagem da artista, começando com uma apresentação hoje lendária apresentação de Like a Virgin no MTV Video Music Awards de 1984. Quem já assistiu a performance sabe que teoricamente não é exatamente a apresentação mais pomposa de todos os tempos: Madonna desce sozinha de um gigante bolo gigantesco vestida de noiva cantando a canção. Todavia, ao analisar de perto é possível notar que não é tão simples como parece, pois Madonna faz muito mais na pratica.
Além da sua beleza e carisma, a artista “quebra expectativas” ao vestir, sim, um vestido de noiva, mas de uma sensualidade potente já que o vestido está mais para uma lingerie que um traje típico de quem se casa. Isso é ligado a outra faceta que sempre marcou a carreira da Madonna: a provocação com o conservador e/ou religião. E as fotos do álbum são outra prova desse flerte pesado ao ser uma conexão clara com a noção de virgindade do cristianismo e outros símbolos. Durante a performance, Madonna se comporta de forma provocativa e sensual até chegar ao ponto de rolar pelo chão na parte final da canção insinuando que estava se masturbando. E é claro que isso casava com a também provocativa composição da canção, mas é necessário apontar que em nenhum momento é vulgar. Claro, para os nossos parâmetros, pois para a época foi um escândalo que a cantora tirou proveito para impulsionar as vendas do segundo e a sua carreira, gerando a abertura de procedente para outras incursões com as mesmas linhas de pensamento. Quarenta anos depois é fácil não acreditar que esse momento é tão impar para a música, mas esse foi o momento que abriu de fato as portas para a consagração da cantora. Entretanto, é necessário que o que diferenciou a construção da imagem da Madonna para outras que tentaram imitar é que a cantora sempre soube muito bem como referenciar suas influencias.
Uma das grandes jogadas para esse começo de carreira da Madonna foi ligar a sua imagem com outras loiras famosas e lendárias, especialmente a figura da Marilyn Monroe. Ao fazer essa conexão de forma tão clara no clipe no lendário clipe de Material Girl, a cantora mostrou ao público de maneira didática para onde buscar as suas concepções para entender quem era a sua persona. Não era apenas superficial a escolha, mas um trabalho muito pensado e calculado para fazer realmente essa construção de imagem ser certeira ao misturar o lado artístico e comercial. Isso não parou, porém, com apenas uma estrela referenciada já que também foram referenciadas diretamente e indiretamente outros nomes clássicos como Marlene Dietrich, Mae West, Jean Harlow, entre outros, dando ainda mais estofo e complexidade. E nesse jogo imagético foi plantado definitivamente as sementes que iram geminar para o nascimento da Rainha do Pop. Sonoramente, o álbum contem alguns pontos altos, mas o resultado final não envelheceu tão bem.
É interessante notar que incialmente, Like a Virgin teve uma recepção bem mista pela critica, mas foi melhorando ao longo dos anos e hoje é considerado um clássico pop. E isso tenho que admitir que é sim, mas não tão espetacular como poderia esperar. Como dito anteriormente, Madonna teve a liberdade de escolher como queria os rumos do álbum e escolheu trabalhar com o produtor/musico Nile Rodgers devido ao trabalho dele no álbum Let’s Dance do David Bowie e, claro, a sua banda Chic. E ao contrário do álbum anterior, Madonna também acima como coprodutora do álbum aumentando a sensação de liberdade criativa. Essa mudança foi responsável por refinar a proposta do pop que a cantora queria entregar ao ser um synth-pop que espelhava bem a época com toques de pop, dance-pop, pop rock e new wave, mas com um os toques da personalidade da Madonna. E isso quer dizer uma atmosfera sensual, provocativa e com toques de soul/R&B diluído aqui e ali. Funciona, pois quando o álbum atinge seu pico é simplesmente lendário, começando pela icônica e atemporal faixa que dá nome ao álbum: Like a Virgin.
Não acho que seja necessário muito o que falar da canção, pois é uma das principais músicas para entender a carreira da Madonna e, também, a música pop em geral. Todavia, preciso apontar uma qualidade que a canção possui que acredito a ter ajudado a fazer sucesso: a sua letra ambígua. Escrita por Thomas Kelly e William Steinberg, a música é claramente sexual com suas metáforas envolvendo o sexo, mas no final das contas é uma canção sobre amor. Só que a maneira como a canção é escrita se baseando em um contexto que pode dar vários significados desse amo como, por exemplo, desejo sexual, uma declaração de amor e até mesmo um incentivo para “guardar” a virgindade para apenas depois do casamento. Outro grande momento é a divertidíssima, elétrica e icônica Material Girl. Novamente, a composição (Peter Brown e Robert Rans) constrói uma letra tão marcante que quebra qualquer expectativa ao não mostrar uma Madonna sem medo nenhum de falar sobre o que deseja que, nesse caso, um cara com dinheiro. Pode parecer estranho apontar essas características como algo para destacar já que qualquer cantora pop faz isso como se estivessem bebendo água. Entretanto, naquela época foi realmente inovador e polemico, adicionando um outro ponto na sua imagem que virou referencia para as futuras gerações. Infelizmente, o resto do álbum não está nem perto dessa mesma qualidade.
O problema aqui é parece que várias faixas soam mais como fillers. Ótimos fillers, mas são no final das contas fillers. E quando um álbum tem apenas nove faixas resulta em um impacto no resultado final. Tecnicamente, as canções possuem as mesmas brilhantes qualidades das duas canções citadas, mas faltou o toque de genialidade que as mesmas possuem. É como se fosse uma escada em que o topo é altíssimo enquanto o resto está vários degraus abaixo. Ainda alto, mas bem abaixo. Existe, porém, dois momentos que merecem destaque: Love Don't Live Here Anymore, regravação banda Rose Royce, que é a primeira grande balada da cantora que virou single apenas em 1996 com lançamento da compilação Something to Remember e a simpática e doce Angel. Tenho que fazer um pequeno adendo: apesar de Into the Groove mostrar como um single do álbum, a canção foi apenas lançada como faixa na versão deluxe já em 1985 depois de ser tema do filme Procura-se Susan Desesperadamente estrelado pela cantora. E sobre a canção falei mais em As 100 Melhores Músicas Que Você Não Deve Conhecer. Com cerca de dezesseis milhões de cópias vendidas, o legado de Like a Virgin é tão gigantesco que basicamente mudou os rumos da música, influenciado até os dias de hoje. E isso pode ser falado ao mesmo tem que tenho a consciência que o mesmo não envelheceu tão bem em quesito de qualidade de forma geral. E se foi aqui que Madonna se tornou “A” Madonna, o próximo Antes Tarde do Que Nunca será para analisar o momento que a mesma se torna a “Rainha do Pop”.
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