13 de fevereiro de 2024

Antes Tarde do Que Nunca

Madonna
Madonna




Uma das metas que fiz para 2024 foi terminar a discografia de alguns artistas para resenhar no Antes Tarde do Que Nunca. E como a primeira escolhida foi o da Madonna, pois é da artista que tenho o maior número de álbuns nesse especial do blog. Tirando os álbuns mais recentes e os antigos que já foram resenhados faltam oito álbuns em uma carreira que tem até o momento quatorze trabalhados lançados. Para começar decidi literalmente voltar ao começo para analisar o álbum em que Madonna ainda não era exatamente a Madonna.

Lançado em 1983, o homônimo Madonna não parece exatamente um álbum da Madonna, mas, ao mesmo tempo, existem sementes claras do que seria a personalidade da cantora. A história da cantora para conseguir o contrato com a Warner é basicamente o que deve ser o principal foco do filme biográfico que um dia vai sair ao narrar a trajetória da jovem de vinte e poucos anos que vai para New York, grava algumas demos, consegue um DJ tocar a canção em uma das boates mais famosas da época, chama a atenção de um executivo, assina o contrato, lança o álbum com uma aceitação muita boa e começa uma carreira que mudaria o mundo da música. Obviamente, existe uma história mais profunda, longa e detalhada como, por exemplo, o fato dela não gostar do trabalho do famoso produtor que foi primeiramente designado para trabalho no álbum para mudar o foco do produtor e assim criando a sonoridade básica do álbum, mas isso é resumo de como a mesma chegou nesse momento. Para melhor entender melhor sobre o álbum é necessário analisar o motivo que o mesmo consegue não ter a marca clara da Madonna, mas também exalar perfeitamente a força da cantora que iria emergir nos próximos anos.

Como uma artista completamente nova para o grande público que estava apenas no primeiro álbum, Madonna não teve exatamente uma voz ativa na construção do álbum ao não produzir nenhuma das oito canções. Isso seria mudado já no ano seguinte com o lançamento de Like a Virign. Todavia, isso é assunto para outra resenha. O que importa aqui é o fato que no primeiro trabalho Madonna não tem a mesma no “comando” da criação das canções sonoramente. E devido a isso existe uma sensação que a sonoridade aqui é um pouco genérica ao espelhar o que era “hot” no pop daquela época. É necessário lembrar que, apesar do álbum ter um imenso legado imenso e ter ultrapassado a barreira do tempo ao sobreviver a muitos dos seus contemporâneos, o álbum é uma cria do seu tempo e é por isso que tem essa sensação que possivelmente alguma outra cantora que tivesse com algum talento tivesse passado na frente da Madonna poderia ter tido nas mãos material similar do que é ouvido aqui. Isso, porém, não é nenhum demérito da produção, pois o trabalho que é feito tecnicamente e criativamente é impecável, ajudando o álbum envelhecer como um bom vinho. Em especial, o produtor Reggie Lucas (o produtor que a Madonna não gostou) que assina boa parte das canções faz um requintado trabalho que mistura pop, dance-pop, post-disco e synthpop de maneira a criar uma atemporal sonoridade que faz a gente vibrar até os dias de hoje. Entretanto, o álbum realmente faz o álbum memorável é o fator Madonna.

Disse que a Madonna não teve tanto controle na criação do álbum, mas isso é meio que parcialmente uma mentira. Primeiro, como dito anteriormente, a cantora fez mudar o rumo da produção para algo que a mesma achasse estar na mesma vibe musical que a mesma queria. E, por isso, o álbum terminou ganhando a sua forma inegavelmente. Em segundo, cinco das oitos faixas foram compostas apenas Madonna, mostrando que a artista tinha uma ideia relativamente clara de qual era o caminho que queria tomar. E tudo começa pela melhor faixa do álbum: Lucky Star. Liricamente, a canção é de uma simplicidade imensa ao ser a declaração fervorosa de amor para quem se ama. Todavia, o resultado final é grandioso devido ao gigantesco apelo pop que a cantora constrói que sabe ter clímax, um refrão cativante e um fator chiclete impecável. Não apenas sua qualidade a canção é importante, mas também pelo fato da mesma ter sido o ponto determinante para o sucesso comercial da carreira da cantora. Quinto single do álbum e impulsionada pelo bom desempenho de Holiday, Lucky Star se tornou o primeiro top 5 da cantora nos Estados Unidos e o seu clipe a apresentou de vez para o público, ajudando a catapultar os lançamentos do seu próximo álbum. Se a canção tinha o toque da compositora Madonna ainda era um trabalho bastante contido no quesito sexualidade e acredito que isso tenha ajudado a canção não chocar o público em aceitar essa nova possível estrela. Todavia, esse lado da cantora é possível visualizar em Burning Up.

Mesmo que tenha sido meio esquecida perante ao grande público, a faixa é uma deliciosa, despretensiosa e atrevida dance-punk/new wave/dance-pop que dá o gostinho da faceta sexual da Madonna como versos como “Do you wanna see me down on my knees?/Or bending over backwards, now, would you be pleased?”. Usada como um dos primeiros singles, a canção não teve um grande retorno perante ao grande público, mas foi terceiro na Dance Club Songs que ditava qual canções faziam sucesso nas discotecas da época. E esse também foi o caminho Everybody, primeiro single do álbum e a canção que a fez ser notada antes da fama. E ter sido pensada antes da produção do álbum dica claro, pois a sua batida que adiciona elementos de R&B/electro se mostra mais áspera que o refinamento do resto do álbum. Isso não quer dizer que seja abaixo da média, pois a faixa é elétrica e segurada lindamente pelo claro carisma da Madonna. E é essa força pessoal que é a cereja em cima do bolo, pois é assim que a mesma coloca de maneira definitiva a sua marca. Em Borderline, a sua voz foi produzida de uma forma que parece envernizar a sua presença para soar mais abrangente, possivelmente pensando em dar um apelo mais global e massificado para a cantora para combinar com essa balada mid-tempo. Apesar disso, existe uma clara vontade da Madonna em mostrar a sua personalidade acima dos caminhos da produção, criando um casulo de originalidade. E isso é exposto principalmente na divertida, solar e cativante Holiday. Quarenta anos depois do seu lançamento, Madonna continua sendo um trabalho tão especial e importante para o mundo pop que no final das contas poderia ter sido apenas saído daquela quer seria chamada Rainha do Pop. No próximo Antes Tarde do Que Nunca irei resenhar o álbum que fez a Madonna se tornar "A" Madonna.


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