4 de fevereiro de 2024

O Melhores Álbuns de 2023 - Parte II

 


Parte I


20. Something To Give Each Other
Troye Sivan



"No álbum anterior, Sivan fez um “diário sobre o coming of age de um jovem gay descobrindo e explorando o mundo” para agora continuar a fazer essas crônicas com uma percepção madura, aprofundada, honesta e completamente sem amarras. E assim Something To Give Each Other narra histórias sobre encontros casuais, amores confusos, desejo latente e uma estética apuradíssima. Sai a necessidade de explorar essas sensações e entra a reflexão sobre as mesmas do ponto de vista de um homem gay adulto. Não acredito que as letras aqui sejam melhores que no álbum anterior, mas, sim, existe uma clara evolução temática que reflete na vivencia pessoal do cantor e da sua apuração como artista. Isso é claramente visto em um dos melhores momento do álbum: One of Your Girls. A canção que ganhou um excepcional clipe é uma reflexão irônica, inteligente e real sobre suas as experiências em ter se relacionado com homens “heteros”. Irônica, divertida e com uma desconcertante veracidade, a canção consegue misturas critica com reflexão e, ao mesmo tempo, apenas um relato de vivencia com um toque latente de sensualidade que a transforma um trabalho icônico e memorável. Sonoramente, a canção é uma balada mid-tempo synth-pop/alt-pop/nu-disco envolvente e deliciosa que dá meio que o tom para o resto do álbum."

19. Javelin
Sufjan Stevens



"O décimo álbum da carreira do aclamado Sufjan Stevens é uma tocante crônica sobre o ciclo do amor, indo do seu começo ao fim. E Javelin ganha ainda mais relevância devido a ter sido dedicado ao seu falecido companheiro.

Apesar da profundidade do seu contexto e construção lírica, o trabalho nunca é exatamente emocionante e, sim, emocional. Stevens nunca pende para a emoção direta ao discorrer sobre vários estágios do amor. O que é feito é uma reflexão sóbria, madura e sempre inteligente que conquista pela delicadeza em que retrata cenas cotidianas em que sabe dosar as construções de imagens que recorrem a várias referências complexas com as construções de versos despidos de significação elaboradas parasse concentrar em uma honestidade simples e direta. E, queridos leitores, essa maestria em poder falar de sentimentos tão complexos de uma forma que mostra claramente a sua habilidade de compositor sem parecer despudoramente pretencioso e/ou querer emocionar pelo simples fato de emocionar é o que faz de Javelin um dos grandes álbuns de 2023. Sonoramente, o álbum também é um grande acerto, mesmo tendo pontos que podem não funcionar para todos."


18. Bewitched
Laufey


"Após chamar a atenção ao postar suas canções/covers no TikTok, a cantora começou a ganhar atenção de artistas (Willow Smith e Billie Eilish) e de uma parte de um público relativamente pequeno, mas bastante consistente e barulhento. E em uma primeira analisada fica meio complicado explicar o motivo especifico para o sucesso da cantora, mas olhando um pouco abaixo da superfície é fácil notar. A sonoridade da cantora consegue fazer algo complicadíssimo ao ser nostálgica e uma verdadeira lufada de ar fresco. Resumidamente, a sonoridade de Bewitched é uma mistura tradicional de jazz/american jazz com adição de bossa nova e pop/jazz pop, sendo inspirada em nomes como Tony Bennett, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, entre outros. Entretanto, ao contrário que contemporâneos da cantora que decidem basicamente regravarem clássicos desse cancioneiro, Laufey decidi seguir um caminho mais singer-songwriter ao escrever novas canções para o álbum, tirando apenas um cover. Essa decisão é importante para dar para a artista essa personalidade traz um passado lembrado e admirado por muitos, mas soar como uma novidade única e excitante. E, dessa maneira, o resultado de Bewitched é exatamente isso: não é nenhuma revolução e se baseia totalmente no que já foi feito, mas ainda assim existe um brilhantismo novo e convidativo para um público em modo nostálgico. É como a gente querer comer um belo prato de arroz e feijão feito por outra pessoa: o mesmo prato, mas com um gostinho de novidade."

17. But Here We Are
Foo Fighters



"Produzido pela banda ao lado de Greg Kurstin, But Here We Are é uma volta a sonoridade clássica do Foo Fighters sem parece datada ou/e de uma nostalgia barata. O resultado é maduro, revigorante, poderoso, classudo e poderoso de uma forma que ajuda a renovar a banda sem necessariamente mudar o estilo da banda, mas, sim, mostrando que os mesmos ainda tem muito para queimar. E quando a banda entrega o seu melhor do melhor é algo como a espetacular The Teacher. Com dez minutos de duração, essa grandiosa e devastadora hard rock é um lembrete devastador sobre o quanto o tempo é um sopro e devemos aproveitar cada momento da melhor maneira possível. Logo em seguida e fechando o álbum está a desconcertante Rest que lida com o sentimento de finalmente começar aceitar a partida de quem se foi e começar a aprender com a dor. A canção finaliza com dois dos versos mais dilacerante do álbum em que Dave entoa “Wakin' up, had another dream of us/In the warm Virginia sun, there I will meet you”. E por falar no vocalista, o mesmo entrega de maneira consistente performances extraordinárias em que é possível claramente ouvir e sentir todos os sentimentos por trás de cada canção como, por exemplo, na contida e tocante Show Me How em que Dave dividi os vocais com a sua filha Violet. Outros momentos que merecem destaque são a triste Hearing Voices, a faixa que dá nome ao álbum But Here We Are e, por fim, The Glass. But Here We Are é um álbum que no final das contas não gostaria que existisse devido o seu contexto, mas que artisticamente é um dos pontos altos da carreira da banda sem nenhuma dúvida."

16. Red Moon In Venus
Kali Uchis



"Red Moon In Venus é luxuoso em todos os sentidos das palavras, pois, além de ser requintado, o trabalho é abundando em ideias, texturas, nuances, cores e sensações. Continuando a sua exploração/reconstrução no que seja o R&B, Kali entrega um ambicioso e extremamente bem conduzida mistura de neo-soul, indie R&B, psychedelic/pop soul que não é a reinvenção da roda, mas tem uma originalidade tão clara que se torna facilmente uma marca indiscutível da sonoridade da cantora. Ouvir qualquer faixa do álbum consegue despertar bem rápido essa sensação única de familiaridade especial que liga esse tipo de canção com a personalidade artista da cantora. E, queridos amigos, isso é algo realmente raro e merece ser celebrado, especialmente para uma arista com relativo bom tempo de carreira. As qualidades do álbum, felizmente, não param por aí.

Apesar de trabalho com um numero grande de produtores, Kali consegue manter uma coesão impressionante em relação a sonoridade, retirando de cada um as pitadas de ousadia necessárias para cada canção também terem as suas próprias personalidades ao transitar de maneira fluida entre pitadas de pop comercial, latin music, hip hop e o bom e velho pop. Nada que descaminhe o traçado que a sonoridade geral de Red Moon In Venus conduz desde o começo, mas elevando e texturizando as canções de maneira a se sustentaram sozinha. Com isso bem amarado de maneira a não deixar pontas soltas, tirando a última canção (Happy Now) que poderia ser bem melhor para fechar com chave de ouro, Kali tem espeço para adicionar camadas e camadas de sensualidade e graciosidade como o mais puro veludo, criando toda a atmosfera envolvente e iluminada do álbum que abraça quem escuta desde a primeira canção. E nada melhor que para abrir o álbum está a ótima I Wish You Roses ao ser “uma volta considerável a sonoridade do começo da carreira da cantora, mas sem perder o frescor e originalidade que a mesma sempre apresenta. Uma melódica, sensual, envolvente e aveludada mistura de R&B, pop e indie, a produção é de uma maturidade ímpar que dá para a canção uma atmosfera que consegue ser épica e, ao mesmo tempo, intimista”. Toda essa sensação continua com a presença da requintada All Mine em que a cantora parece criar o que seria a sua versão de uma canção da Mariah Carey com agudos surpreendentes. Moral Conscience também dá espaço para a cantora brincar com os vocais em uma canção madura e sóbria. E em Moonlight, Kali alcança todo o seu potencial comercial em uma canção simplesmente viciante. A canção também encapsula todo o estado de graça que se encontra a cantora em Red Moon In Venus."

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