Primeira Impressão

Title

Meghan Trainor

Não há como negar que a cantora Meghan Trainor é o mais inusitado e surpreendente sucesso no mundo pop nos últimos anos. O gigantesco sucesso All About That Bass ajudou a impulsionar, não apenas os singles que o sucederam, mas, principalmente, o primeiro álbum através de uma grande gravadora de Meghan: Title vendeu cerca de 240 mil cópias na primeira semana e já passou das 500 mil cópias até agora. Os números são grandiosos se levarmos em conta o fato de que Meghan foge completamente dos padrões de sucesso das atuais divas do pop seja a sua música, seja pela aparência física, além do fato da cantora ser uma novata no meio mainstream. Felizmente, todo esse sucesso vem acompanhado do bom resultado artístico de Title, mas sem algumas importantes ressalvas.

Title é aquilo exatamente o que All About That Bass previa do que seria o álbum: divertido, contagiante, despretensioso e com uma sonoridade vintage de butique. Basicamente "desenhado" pelo produtor Kevin Kadish que assina onze faixas das quinze que fazem parte da versão deluxe, Title traz de volta a sonoridade pop dos anos cinquenta e sessenta: o blue-eyed soul e o doo-woo são usados para construir a base da musicalidade de Meghan. O resultado é, depois de atualizado e envernizado para se tornar vendável nos dias de hoje, uma deliciosamente fútil versão vintage das canções das décadas de influência. Quase hermeticamente feito para ser comercial, mas sem parecer de proposito, Title não é a reinvenção da roda ou mesmo genial. Funciona lindamente, porém, pois é muito bem feito e o momento que foi lançado não poderia ser mais perfeito já que não existe ninguém com a mesma área de Meghan. Aliás, a cantora é a grande chave para o álbum funcionar: cativante e carismática da sua maneira, Meghan emprega suas características na sua voz em boas performances mostrando o seu timbre suave e pouco rouco aliado com a sua versatilidade como o fato de poder fazer uma espécie de "rap". Esse é o caso da divertidíssima Bang Dem Sticks que ganha o posto de melhor do álbum. Inteligente, irônica e alto astral são as principais características da cantora como compositora sendo outra qualidade dela. Todas as músicas foram co-escritas por Meghan o que garante uma cara distinta para o trabalho em que podemos ver a personalidade dela estampada em cada música. Contudo, não pode se deixar de não notar que, em vários momentos, a cantora parece contradizer a si própria: Meghan defende as mulheres em sua liberdade de serem o que quiserem, mas também parece "sonhar" com o amor "perfeito" em que precisa encontrar o príncipe encantado. Só que para começar a pensar mais profundamente sobre isso é necessário ir além do que o álbum quer ser: pop chiclete despretensioso. Então, pensar sobre essa questão é desnecessário e faz perder toda a graça de Title. Outros momentos ótimos são os singles All About That Bass e Lips Are Movin, a balada bonitinha Like I'm Gonna Lose You e as canções da versão deluxe No Good For You e My Selfish Heart. Title deve ser encarado como um chiclete: no começo é todo sabor, mas deve perder o gosto ao longo do tempo. Agora é saber se Meghan Trainor vai conseguir manter o sabor da sua carreira quando todo o burburinho de agora passar.