19 de maio de 2015

Primeira Impressão

The Desired Effect
Brandon Flowers



Quando escrevi o Primeira Impressão do álbum do último álbum do The Killers, Battle Born de 2012, eu afirmei que ouvir o trabalho era como ser "transportado para um trailer no meio dos Estados Unidos no final de 1987 como um adolescente ouvindo música e sonhando com o futuro". The Desired Effect, segundo álbum solo de Brandon Flowers, vocalista do The Killers, tem uma atmosfera parecida com uma mudança importantíssima: o álbum não faz você "viajar no tempo", mas, sim, faz você olhar para a mesma época dos anos oitenta com uma nostalgia "contente". Sim, Brandon consegue transformar um sentimento tão melancólico por natureza em um sentimento que beira a alegria de olhar coisas que já passaram e não voltam. Todavia, a mudança não afetou a qualidade do trabalho entregue por Brandon, pois The Desired Effect é tão bom quanto o seu trabalho ao lado da banda.

The Desired Effect é uma grande, divertida e graciosa reverência a música dos anos oitenta indo do pop até o rock passando pelo vários dos seus subgêneros. Apesar dessa atmosfera menos "pesada", a espetacular produção de Ariel Rechtshaid se une com a consolidada sonoridade de Brandon (que também serve de produtor) para entregar canções construídas em bases instrumentais pomposas que beiram o exagero, mas que são pretensiosamente feitas dessa maneira para criar uma áurea de que realmente saíram de alguma mixtape (igual no filme Guardiões da Galáxia) diretamente dos anos oitenta. Assim como as roupas que pareciam luzes de neon, The Desired Effect é chamativo, ousado e de um brega convidativo. Envolvente do começo ao fim, o álbum parece que vai estourar de tantas referencias e algo vai desandar. Felizmente, a costura feita é impecável ligando cada elemento em face de criar uma obra coesa e maior do que alguns defeitos encontrados no caminho. Transitando entre aquele carga emocional que sempre esteve presente nas suas canções que são quase pequenos "contos" sobre as suas reflexões sobre o amor e a vida e a capacidade de criar hinos para fazer multidões cantarem em estádio, Brandon transmite aquela sensação de estar sempre em procura das respostas para o que é "viver". Dessa maneira, The Desired Effect se aproxima aos filmes de John Hughes como Gatinhas e Gatões, A Garota de Rosa Shocking, Curtindo a Vida Adoidado e, o meu preferido, Clube dos Cinco em que há sempre no ar o questionamento: quem somos? Por isso, o álbum toca de verdade, mas sem perder a essência de ser entretenimento. Para segurar o impacto que The Desired Effect constrói não há melhor mestre de cerimônias que o Brandon Flowers com a sua personalidade artística "maior que a vida" e a magistral voz atemporal. Os grandes destaques do álbum ficam para o single Can't Deny My Love, a excepcional balada cheias de nuances inesquecíveis de I Can Change, a lindíssima e melancólica Between Me and You e a magistral Lonely Town que parece ter saído exatamente da trilha de um filme oitentista passando na Sessão da Tarde. Infelizmente, nem tudo são flores: The Way It's Always Been, faixa que encerra o álbum, parece completamente fora da atmosfera do álbum e está longe de ter a mesma qualidade das outras faixas. Não que atrapalhe de verdade o resultado final, pois The Desired Effect é uma primorosa sessão nostalgia com Brandon Flowers é o mestre de cerimônia em que o público vai sentir falta do que viveu, ou no meu caso, sentir falta do que não viveu.

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