30 de novembro de 2016

Primeira Impressão

Long Live the Angels
Emeli Sandé




Eu acredito em Deus. Talvez não seja da mesma maneira que você, mas eu tenho certeza que existe uma força maior no universo que, de alguma forma, controla todo o resto. E por convenção da sociedade em que vivo nomeio essa força como Deus. O mais importante da minha crença é fato de não crer que Deus esteja sentado em um trono feito de ouro em um lugar acima das nuvens chamado Céu. Na verdade, a minha percepção de Deus fala que essa entidade está em todos os lugares a nossa volta, desde o menor dos seres vivos até mesmo nas maiores construções feitas pelo homem. Entretanto, Deus está mais presente naqueles sentimos que por mais que tentamos explicar não conseguimos descrever de fato como, por exemplo, ouvir uma música que nos toca de verdade. Dessa maneira, eu tenho certeza que Deus está presente do começo ao fim em Long Live the Angels, o maravilhoso segundo álbum da cantora Emeli Sandé.


Deus está aqui não apenas pelo fato do álbum ter um boa dose temática sobre fé, mas porque Emeli Sandé consegue nos levar em uma jornada que quase chega ao transcendental. Não que eu tinha dúvidas sobre o talento de Emeli, pois considero o seu álbum debut Our Version of Events como um dos melhores dos últimos anos. Todavia, eu não estava esperando o verdadeiro soco no estomago que viria com Long Live the Angels. A primeira razão para a cantora consiga alcançar esse novo território é que o álbum não é pensando em nenhum momento para ser exatamente o sucesso comercial que foi o álbum anterior.  Long Live the Angels existi para mostrar que o talento e a visão artística de Emeli é bem mais amplo que foi mostrando até agora. E para isso acontecer não é necessário vender milhões de cópias ou chegar aos topo das paradas de singles. O necessário é entregar uma sonoridade que consiga impactar de tal forma que todos fatores ao redor possam desaparecer como se fosse fumaça ao vento. E Long Live the Angels consegue essa façanha ao trazer para a sonoridade do álbum um poder tão retumbante que só podemos chamar de divino. 

Longe do R&B/pop mais tradicional ouvido em Our Version of Events, a sonoridade aqui foi finalizada de uma maneira que pudesse dar vida a uma mistura de soul music com indie folk, gospel e art R&B que, ao mesmo tempo, evocasse uma atmosfera de grandiosidade ao partir de uma alicerces sonoros que beirasse a simplicidade/minimalismo. É dessa fusão que o poder de Long Live the Angels nasce, pois nada é o que parece ser e nenhuma música termina como parecia que iria. Cada faixa é embebedada de uma áurea de pura luz. Todas as faixas têm, também, leves toques sombrios para não soar tudo muito unilateral. Cada momento em seus mais de uma hora de duração mostra um álbum capaz de elevar sentimentos de quem ouvir, mas sem esquecer que a redenção da alma sempre deve ser acompanhada pela fraqueza do corpo. Long Live the Angels ajuda a levar nossos sentimentos as portas do paraíso, sem esquecer-se de deixar tempo para um visita ao fim dos nossos tempos. É ao mesmo tempo moderno em construções rítmicas que encontram abrigo em uma tendência neo soul, porém, assim como as grandes obras deve ser, não esquece de reverenciar o passado em arranjos de uma qualidade técnica impressionante. O álbum olha ao passado com o mesmo olhar que admira o futuro. São canções épicas que partem de um lugar simples e cristalino como água de uma fonte no topo da mais alta montanha. Dessas dualidades é que reside o divino que dá o tom de Long Live the Angels e que tem em Emeli Sandé o ser celestial responsável em ser o veículo ideal para transmitir todo esse poder.

Dona de uma melhores vozes surgidas na última década, Emeli entrega no álbum performances que a colocam como a voz do divino. Tamanha é a força das suas interpretações que a cantora é capaz, em uma mesma canção, transitar entre dois estilos de cantar como se tivesse apenas respirando. Esse é caso da avassaladora Happen e a sua viagem entre o delicado indie pop até o gospel. E assim vai todo o álbum com a cantora segurando qualquer tipo de jornada espiritual como se fosse o trabalho mais fácil do mundo, sempre mostrando versatilidade e poder vocal impressionante sem cair em maneirismos que afetam outras cantoras. Emeli também brilha como compositora, pois todas as canções de Long Live the Angels tem o seu nome creditado como principal autora. E, obviamente, a qualidade continua a mesma de todos os outros quesitos do álbum ao falar sobre empoderamento, não exatamente o feminino, mas empoderamento de alma. Fé, sexo, solidão, decepção, esperança, amor. Esses sentimentos são as bases das ótimas letras que compõem o álbum. E que para tem uma qualidade poética que pode ser compreendida como característica de Emeli: a complexa beleza trivial. Não existe um trabalho na busca de mostrar os sentimentos em versos elaborados e ricos de imagens metafóricas, isto é, a base da escrita de Emile é a sua fácil compreensão sem perder, porém, toda a riqueza de emoções. Talvez em algumas faixas exista uma simplicidade tão grande que dá uma pequena afetada no resultado final como é o caso de Right Now. Não que seja realmente um problema que atrapalhe o resultado geral do álbum. Ainda mais com a presença de canções geniais como Breathing Underwater, Give Me Something, I’d Rather Not, Sweet Architect, SomebodyThis Much Is TrueLong Live the Angels é uma obra que já se tornou um marco no mercado fonográfico, ajudando Emeli Sandé a gravar o seu nome em algum lugar do Olimpo da música. Mesmo que seja apenas para aqueles que forem tocados pelo seu poder divino.

Nenhum comentário: