16 de janeiro de 2018

Top 25 - 2017 (Final)






Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV


5. 4:44
Jay-Z


"Para quem não estava morando embaixo de uma pedra nos últimos dois anos sabe do lançamento do Lemonade da Beyoncé em que a cantora, além de outras coisas, "desabafa" sobre as traições do Jay-Z e outros problemas conjugais. Empoderado e poderoso, Lemonade é uma daquelas obras que ficarão para a memória coletiva e, obviamente, ajudou a criar uma nova imagem de dois dos maiores artistas dessa geração. Em 4:44, Jay-Z "responde" as afirmações da esposa ao dizer: "sim, eu errei profundamente, peço perdão pelo o que fiz e agradeço essa nova chance que estou tendo na vida". Essa é, resumidamente, a linha de raciocínio no álbum em que o rapper constrói para falar sobre os seus erros, defeitos, aprendizados e esperanças. Em nenhum momento, porém, o rapper aponta dedos, pois consegue admitir que os erros dos outros não foram responsáveis pelos seus próprios erros. A sinceridade madura e o desprendimento emocional em que o rapper compõem as suas composições é algo que no mundo do rap/hip hop é algo bastante incomum, mas Jay-Z consegue elevar isso ao máximo ao mostrar a sua evolução com ser humano em um dos álbuns mais sinceros desde...aham? Lemonade. Além de fazer a total mea culpa em relação as crises em seus casamento, Jay-Z também passeia por assuntos pessoais como, por exemplos, amizades complicadas (indiretas para Kanye West voam como andorinhas no verão em vários momentos), a famosa briga com a Solange, a tal da Becky, o seu papel como pai, o aborto que Beyoncé sofreu e, o mais surpreendente, a revelação da homossexualidade da sua mãe em Smile. Esse é outro grande momento na carreira do rapper e, por consequência, o melhor momento do álbum quando Jay Z conta como a mãe sofreu em esconder esse segredo durante muitos anos e como isso afetou a sua vida durante anos. Ao aceitar a sua mãe, Jay-Z ajuda a quebrar várias barreiras que o rap/hip hop estabeleceu em torno da comunidade LGBT ao longo dos anos. É gesto pessoal, mas completamente poderoso para toda uma geração assim como o rapper não utilizar em nenhum momento a palavra "bitch" para se referir a uma mulher. Novamente um gesto simples e, possivelmente, pode passar desapercebido por muitos, mas que tem um força grandiosa."

4. DAMN.
Kendrick Lamar



"A principal diferença entre DAMN. e as obras de arte que são good kid, m.A.A.d city e To Pimp a Butterfly é o fato que o rapper entrega uma atmosfera sonora bem contida e direta como resultado final. Ao contrário de criar grandes alegorias para sustentar a imensa carga emocional que emprega em cada canção, DAMN. aposta em batidas descomplicadas e uma uniformidade maior em suas construções. As quatorze faixas que fazem parte do álbum não apresentam a mesma pluraridade de sons e influencias, ajudando a "editar" a sonoridade de Lamar e criando o álbum mais comercial da carreira dele. Extremamente polido e com uma fluência impressionante, DAMN. pode desapontar aqueles que estavam a procura de escutar a continuação da sonoridade épica que Lamar nos tinha acostumada ao misturar, como poucos, rap/hip hop com uma dezenas de outros gêneros e estilos dos mais variados. Isso pode ser um empecilho, porém quem realmente ouvir com um pouquinho de mais cuidado o álbum irá perceber que essa mudança é tão interessante quanto qualquer coisa que Lamar já tenha feito.

Mesmo sendo as canções com a direção mais restrita da carreira, Lamar e a equipe de produção do álbum é capaz de montar uma sonoridade monstruosa e de uma riqueza impressionante, mas com os dois pés fincados no rap/hip hop e e em vários subgêneros deles. DAMN. é uma obra que tem um senso único de dureza que, aqui, não é um defeito e, sim, uma ótima qualidade, não perdendo tempo em elaborar algo que fique realmente na memória por causa das suas intenções artistas, pois a sua a sonoridade seca e sem rodeios consegue deixar uma marca de verdade. Notar essa evolução/mudança na sonoridade de Lamar é gratificante, pois mostra um artista que não se contenta com aquele lugar que se estabeleceu, mesmo sendo esse local o topo do mundo. E ver que o rapper comete alguns erros também é ótimo, podendo, assim, o rapper encontrar espaço para crescer e corrigir essas falhas. O que digo por erros é o fato que algumas das faixas que compõe DAMN não estão na mesma altura que a maiorias das canções aqui. Seja por parecerem trabalhos ainda em progresso ou faixas que poderiam render mais com uma produção um pouco diferente, canções como ELEMENT., FEEL. e, até mesmo, o excepcional single HUMBLE.. É necessário entender que toda essa revolução na sonoridade de Lamar talvez tenha como maior proposito deixar que outros elementos possam brilhar de maneira irrestrita e avassaladora.

Como um artista que reverbera e reflete o mundo ao seu redor, não existe um nome melhor que o Kendrick Lamar, atacando diretamente assuntos como politica e, principalmente, racismo. Lamar, ao contrário de vários de seus contemporâneos, ao falar sobre o problema que a comunidade negra passa na atualidade não se coloca no lugar de rapper rico e famoso, mas, na verdade, coloca-se no lugar que no final das contas está inserido: o de homem negro. Assim como fez os grandes nomes como, por exemplo, TuPac e Jay-Z (mais no começo carreira), Lamar analisa, critica e cria uma verdadeira pintura sobre o tempo e espaço que o cerca, sempre com um senso de autocrítica e, também, de estética altíssimo. Ao criar verdadeiras poesias conterrâneas, Lamar vai além de qualquer rapper que vive em 2017, chegando ao um patamar que o quase o torna uma lenda viva, mas que ainda que tem muito mais para falar. DAMN. não é sobre apenas reflexão e critica sobre a nossa sociedade. Lamar encontra espaço para falar sobre amor em tempos de cólera como na ótima LUST. e LOVE. com a participação do desconhecido Zacari. Outras participações ficam por conta da Rihanna em LOYALTY. (faixa com boas chances de ser single) e, surpreendente, a da banda U2 na forte XXX., a faixa com o teor mais explicitamente politico. Entretanto, nada seria igual no álbum caso não tivesse a presença avassaladora de Lamar em performances memoráveis, Genias. Desconcertantes. Carismáticas. Versáteis. Poderosas. Transcendentais. Atemporais. E vários outros adjetivos que vocês podem descrever, pois Lamar está tão em estágio de graça que para você saber como elogiar é melhor ouvir por si mesmo. Mesmo com alguns problemas, DAMN. é uma das obras que entram automaticamente para o panteão de álbuns que fazem parte do alicerces da história da música. E Lamar continuar a afundar o seu nome ainda mais na posição de um dos grandes de todos os tempos."

3. Glasshouse 
Jessie Ware


"Glasshouse é uma álbum sobre a deliciosa dor de amar. Glasshouse é sobre a angustia dolorosa de querer ser amado. Glasshouse é sobre perdas, conquistas e viradas de mesas. Glasshouse é sobre o que mais queremos no mundo: uma amor para chamar de seu, custando o que custar. Assim sendo, o resultado final era esperado ser algo grandioso e exagerado. Todavia, Jessie está bem, mais bem longe de ter como principais qualidades esses adjetivos, pois o álbum exala todos esses sentimentos da forma mais recatada possível. Essa é na verdade a tônica básica da sonoridade de Jessie: um delicioso e contido pop soul. Não ache, porém, que esse caminho é capaz de represar de verdade qualquer sentimento expresso nas primeiras linhas, pois, na verdade, essa pegada é mais forte que aquela que entregaria o jogo de cara. Ao sermos embalados pela sonoridade aconchegante, hipnótica e cadenciada de Glasshouse deixamos toda a nossa guarda abaixada e quando percebemos estamos sendo levados por uma onda de emoções diversas e poderosas, sendo capaz de emocionar de verdade. E quando digo emocionar é melhor entender como estar no chão da sala com uma garrafa de vinha pela metade e chorando por ex casos amorosos e/ou amores platônicos. Sentimental na medida certa. Intimo, mas com um entendimento global de como fazer o público se identificar. Emocionante, mas longe de qualquer exagero meloso. Glasshouse, porém, não se apóia apenas na construção da sua atmosfera, pois Jessie entrega o seu trabalho mais consistente ao manter as qualidades e eliminar o principal defeito ouvido nos dois álbuns anteriores.

Trabalhando com vários nomes mais conhecidos como Cashmere Cat e Benny Blanco, Jessie conseguiu tirar da sua sonoridade uma característica que era um defeito importante anteriormente: cada faixa em Glasshouse tem personalidade própria e, ao contrário de antes, não é possível confundir nenhuma. Apesar de sempre ter mostrado uma qualidade artística e técnica impressionante, Jessie explorou até agora uma sonoridade pop que várias vezes tinha uma linearidade entre as canções que ficava difícil distinguir uma da outra. Isso não acontece em Glasshouse. Continuando no mesmo caminho sonoro, a cantora resolveu arriscar ao flertar com novas influências como, por exemplo, a bossa nova na ótima Selfish Love e incluindo novas nuances, texturas e camadas, criando o seu melhor, mais coeso e acessível trabalho. Com essa variedade sonora, Jessie Ware é capaz de navegar melhor e mais amplamente nas possibilidades que a essência básica da sua sonoridade é capaz de ir. Ricamente produzido, Glasshouse teria uma resultado bem diferente caso não tivesse a presença vocal de Jessie. Assim como uma bela xícara de chocolate quente em um dia de inverno, a voz da cantora é o tipo que faz a gente se sentir aconchegado nas suas interpretações. Um aconchego que nem sempre é confortável, mas, também, algo que a gente consegue se identificar de uma maneira sincera. Jessie não é dona de uma voz com potencial técnica e, sim, uma potencia emocional, além de possuir um timbre aveludado e perfeito para a sua sonoridade. Glasshouse é uma coleção de acerto atrás de acerto e por isso fica difícil escolher os destaques, mas algumas canções conseguem se destacar um pouco a mais: os singles Midnight, Alone e Selfish Love são a pilastra central do álbum acompanhado pela adocicada First Time, a triste Hearts, a sensual Slow Me Down e emocionante Sam com a guitarra de Ed Sheeran. Jessie Ware encontra o seu melhor momento na carreira até o momento em Glasshousee, entregando um dos melhores álbuns do ano."

2. Utopia
Björk


"Nono álbum da carreira da Björk, Utopia é como qualquer álbum da cantora: uma complexa, densa e profunda jornada musical dentro da cabeça da artista. Qualquer pessoa que já tenha ouvido ao menos uma canção da cantora pode ter uma ideia do que deve ser o resultado de um álbum inteiro, mas, até mesmo para aqueles que possam se declarar fãs de verdade, embarcar aqui não é uma tarefa fácil. Sinceramente, não consegui ver nenhuma pessoa comprando um álbum da Björk pelo simples fato de gostar dela ou mesmo querer ouvir esporadicamente em momentos de descontração ou para passar o tempo. Ouvir Björk é um ato que precisa ser de amor pela música e, principalmente, de total imersão nessa fenda abissal sem olhar para trás, lembrando que após esse tempo a pessoa sairá diferente daquela que começou a jornada. E isso não é diferente em Utopia, mesmo que o álbum seja tenha uma temática que basicamente fala sobre felicidade. Na verdade, não importa sobre o que a cantora fale, pois a sua cerne reside no fato da artista construir uma sonoridade que pode ser apenas definida como transcendental.

Baseando-se na música eletrônica e alternativa, Björk e o produtor venezuelano Arca vão adicionando uma imensa, rica e incriticamente multifacetado camadas de uma dezena de gêneros que rodeiam a base: indo do clássico, passando pelo experimental e avant-pop e chegando ao folk e o industrial. Não só os estilos e gêneros que aparecem em profusão colossal, mas, principalmente, a introdução de uma gama quase interminável de sons, barulhos, instrumentalizações que fogem do comum ou ordinário e construções tão delicadas e imensas como a teia de uma aranha gigante. É algo tão grandioso e fora do normal para a maioria dos parâmetros da música que a maioria de nos ouve que para conseguir analisar Utopia foi preciso quase uma tarde inteira, sendo tragado por todo o poder por trás de cada faixa. Não foi fácil ou menos divertido no sentido mais clássico da palavra, mas foi algo realmente revigorante e desolador. Poucos artistas possuem a capacidade de misturar tanto sentimentos em um álbum só e, no final, ser algo positivo. Dona de uma capacidade artística desse nível, Björk é inigualável na parte técnica também, pois a qualidade de construção de cada faixa é algo que beira a perfeição e não atrapalha a visão dela sobre a sua arte. E isso que é Utopia: arte em forma de música."

1. Rainbow
Kesha


"Acredito que não seja necessário recapitular o motivo que Kesha está fazendo a sua triunfal volta aqui, mas é preciso salientar que Rainbow é a sua verdadeira expiação sobre tudo o que aconteceu. Finalmente, mesmo que ainda precisando "responder" de certa forma ao causador de toda a sua dor devido ao contrato ainda em vigor, Kesha finalmente parece está se libertando dessa teia que a envolveu nos últimos anos. Isso ocorre tanto na sua vida pessoal, quanto na sua vida artística e, também, no ponto em que essas duas se encontram. Entretanto, o resultado desse começo de liberdade não poderia ser mais surpreendente, pois é fácil perceber o quanto a cantora estava presa e silenciada todos esses anos. A cantora que começou com uma especie de contraponto ao sucesso da Lady GaGa ao transmitir uma imagem de diva pop desconstruída e com toques de punk pop arranca todo o verniz imposto para liberar a verdadeira artista que é, na verdade, uma cantora que trilha um caminho muito mais indie pop com uma boa dose de indie rock e country. Essa libertação não serve apenas para mostrar o estilo verdadeiro de Kesha, mas, principalmente, para liberar todo o imenso potencial dela que era escondido por uma montanha de auto-tune e um domínio nefasto. O resultado disso é, para a total surpresa de muitos, a entrega não do melhor trabalho da cantora, mas como um dos melhores álbuns de 2017.

Como disse anteriormente, esqueça a Kesha de TiK ToK ou Die Young assim como o cifrão que antes estava no seu nome. Rainbow é, basicamente, a reinvenção/renascimento de uma artista que destrói toda a sua estética sonora e ergue uma totalmente nova. Não é apenas uma mudança de caminho como muito já fizeram, mas que, de alguma forma, mantiveram intacta a essência. Kesha vai muito além, pois Rainbow pavimenta do zero toda uma nova estrada para si. Uma estrada que se baseia-se primordialmente nas influências verdadeiras de Kesha que vai de Iggy Pop até Dolly Parton. Então, o álbum torna-se uma mistura de indie pop com indie rock e country, transformando a cantora em uma diva pop indie que, adivinhem, é finalmente o contrário da Lady Gaga, mesmo essa segundo tenha, também, mudado um pouco ao longo dos anos. Só que essa mudança radical não seria o suficiente caso o resultado não tivesse a altura dessa transição. Entretanto, o resultado de ouvido em Rainbow é mais do que a altura, pois ultrapassa qualquer expectativa ao resultar em uma verdadeira pérola musical.

Tudo começa por descobrir que Kesha é, ao contrário do imaginava-se, uma cantora com um grande talento vocal que antigamente era encoberto pelo altíssimo uso de efeitos vocais. Longe do uso de maiores efeitos, a cantora é capaz de realmente brilhar ao mostrar potencial e versatilidade imensa ao transitar entre vários estilos com a mesma qualidade. O timbre pode ainda não ser o mais acolhedor para todo o público, mas é impossível negar que a cantora entrega tudo de si em performances acachapantes e de uma veracidade emocional tocante. Fácil de ver isso é no single Praying em que a cantora entrega uma poderosa interpretação aliado uma performance vocal impressionante que culmina no já famoso agudo mais ao final da canção. Só que a faixa é apenas uma peça desse quebra cabeça, pois Kesha nos leva em uma verdadeira viagem emocional ao longo de Rainbow.

Sendo a sua expiação, Kesha não tem medo de colocar a mão direta na ferida e colocar na mesa todos os sentimentos sombrios e dilacerantes que a cantora guardou nos últimos anos. Só que, felizmente, ao invés de simplesmente jogar sal na carne viva, a artista está mais interessada de expor o começo do processo dolorido e necessário de cura. Com uma bem vinda e interessante atmosfera otimista, Kesha vai trilhando um caminho cheio de pedras pontiagudas ao falar sobre perdão, empoderamento feminino, depressão e aceitação própria, mas sempre com uma mensagem realmente positiva no final das contas. É como se o álbum fosse uma grande mensagem para quem pode está passando por momentos ruins na vida de que haverá dor e sofrimento, mas no final do caminho sempre haverá uma luz que com o tempo será tudo isso que irá nos rodear. Aliando-se com uma qualidade lirica belíssima que nada tem haver com tudo que a cantora já fez, Rainbow é uma montanha-russa emocional da melhor qualidade e que ajuda elevar a carreira da cantora como poucas vezes feitas no atual cenário pop. A grande cereja em cima do bolo é a maneira como a produção elabora a poderosa e avassaladora sonoridade do álbum que, mesmo atirando para vários lados, possui uma coesão impressionante com cada uma das fixas conseguindo conversar uma com a outra. Para ter uma ideia de como a sonoridade em Rainbow é diversa irei citar alguns momentos do álbum: o começo com a tocante indie country Bastards, passa pela soul de Woman, Hymn e sua atmosfera indie pop, Learn to Let Go e a sua batida pop rock marcante, a balada pop/R&B emocionante em Rainbow, as country old school em Hunt You Down e a regravação de Old Flames (Can't Hold a Candle To You) com a lenda Dolly Parton e a fofíssima e engraçada indie Godzilla. Ficar feliz pelo retorno musical da Kesha, ainda mais com essa qualidade, é pouco em comparação ao meu extasiamento e emoção em poder ver um ser humano em dar a volta por cima depois de tudo que ela passou. Uma pena que nem todas as pessoas têm essa possibilidade."

Um comentário:

Igor Motta disse...

Cadê o Tell me you love me !?