15 de abril de 2019

Primeira Impressão

Still on My Mind
Dido




Maturidade. Essa é a palavra-chave que guia o quinto álbum da britânica Dido, Still on My Mind. Nos altos dos seus quarenta e sete anos e completando vinte anos de carreira esse ano, uma das sensações da música da Inglaterra na década passada chega a um momento da sua trajetória artística que finalmente a sua sonoridade parece ter alcançado a plenitude. E, mesmo não sendo genial, Still on My Mind é o melhor trabalho da cantora da sua carreira e tem todas as chances de figurar entre os melhores do pop em 2019.

Completamente dona de si, Dido consegue entregar em Still on My Mind algo muito difícil de um artista alcançar ao ter a capacidade de manter a sua sonoridade raiz e, ao mesmo tempo, se arriscar em experimentações sonoras. Obviamente, esse feito só poderia ser possível devido a maturidade artística da cantora, pois isso vem de anos aperfeiçoando a sua sonoridade e, simultaneamente, buscando inspiração em outros gêneros. Produzindo quase todo o álbum ao lado do irmão Rollo Armstrong, a cantora navega por caminhos ousados ao mergulhar de cabeça em um mundo eletrônico, downtempo e até um pouco de hip hop que se mistura a fortes influências de folk e indie pop. Entretanto, o álbum é ainda um reflexo do pop contemporâneo/indie pop que a cantora sempre mostrou desde que estourou lá nos anos dois mil com Thank You. É como se a sonoridade da cantora fosse uma árvore de natal que fosse adicionada enfeites de todos tipos, cores, formatos e tamanhos. Continua sendo na sua base uma árvore, mas que no seu exterior apresenta uma dinâmica e estética bem mais complexa. Essa mudança poderia ser um tiro no pé, resultando em um álbum exagerado ou sem nenhuma personalidade. Felizmente, isso passa bem longe de Still on My Mind, pois o álbum é conduzido de forma inteligente e, claro, confiando na maturidade dos envolvidos. 

Com essas diretrizes, o álbum resulta em um trabalho elegante, refinado, fluido e com sensibilidade estética impecável. Sem se importar em criar uma sonoridade popular, mas sabendo manter a atmosfera para os fãs de sempre, Still on My Mind pode parece superficialmente um álbum entediante já que a sonoridade se manter em uma constância rítmica do começo ao fim. Todavia, quando se presta atenção com bastante cuidado é possível notar que existe uma complexidade interessante de nuances que vão costurando todo o álbum. Não é uma produção exatamente perfeita, pois o álbum dá uma leve deslizada na sua parte final em comparação ao seu ótimo começo, não afetando consideravelmente o resultado final. Ainda mais que o álbum conta com a presença deslumbrante da Dido.

Como ressaltado desde o começo da resenha, o grande ingrediente do álbum é a maturidade que está por trás da sua criação que vem majoritariamente da sua dona. E isso já fica bem claro ao notar que a cantora está plena em suas performances. Dona de uma voz delicada, Dido nunca foi uma cantora conhecida pelos vocais poderosos, mas, sim, pela sutileza em expressar sentimentos profundos alegres ou melancólicos. Em Still on My Mind, a cantora parece chegar no seu ápice emocional, mostrando uma impressionante força totalmente sua e uma versatilidade sem perder a sua personalidade. É só a sensacional Give You Up para se ter ideia da capacidade da cantora ao entregar uma performance de uma emoção crua sobre um fim de um relacionamento para logo depois se aventurar em uma deliciosa trip hop levemente dançante em Hell After This. E, obviamente, toda esse amadurecimento está refletido nas composições em Still on My MindApenas refinando a sua divina capacidade de falar de maneira simples e, ao mesmo tempo, poética das coisas banais da vida como, por exemplo, separações, desilusões amorosas, desejos perdidos e maternidade, Dido entrega momentos inspirados como é o caso da melhor canção do álbum: a sensacional Hurricanes. Outros momentos de destaque do álbum ficam por conta da batida eletrônica/indie pop de Take You Home, a comovente tristeza de Some Kind of Love e a faixa que dá nome ao álbum Still on My Mind. Até vai soar repetitivo, mas não custa nada ressaltar que o resultado do álbum é a consagração da maturidade conquistada ao longo dos anos pela Dido. E que venham mais trunfos como esse.


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