3 de abril de 2019

Primeira Impressão

Sucker Punch
Sigrid




Nem toda grande promessa começa a carreira já entregando um álbum a altura de todo o seu hype. Ás vezes, um artista só irá desabrochar totalmente lá pelo segundo, terceiro ou até o quarto álbum, dependendo de como acontece o processo de amadurecimento artístico ao longo do tempo. Todavia, quando isso acontece não deve ser uma grande surpresa, pois isso já esperado pelas "pistas" dadas bem no começo da carreira. E é assim que percebo que pode desenrolar a carreira da mais nova sensação do pop: a norueguesa Sigrid.

Nascida Sigrid Solbakk Raabe, a jovem de vinte e dois anos vem chamando atenção da critica e parte do público desde que lançou Don't Kill My Vibe, o seu primeiro EP em 2017. Apesar de não ter alcançado um sucesso comercial, o trabalho gerou o barulhinho necessário para que a cantora se tornar a nova próxima grande revelação do pop. O hype foi tanto que a cantora venceu a prestigiada lista de apostas da radio BBC, derrotando nomes como Khalid, ALMA e Billie Eilish. Obviamente, a expectativa em torno do lançamento do seu primeiro álbum foi apenas crescendo. Algo que pode gerar um resultado negativo se o álbum não corresponder ao que estava sendo esperado. Felizmente para a cantora, Sucker Punch vem sendo muito bem recebido pela imprensa e por boa parte do público, ajudando a corroborar a impressão que a cantora não é apenas um fogo de palha. É importante salientar, porém, que, apesar concordo com consenso que Sigrid é uma interessante promessa, acredito que o álbum não consegue estar na mesma altura de todo potencial que a cantora demonstra possuir.

É necessário deixar bem claro que Sucker Punch está bem longe de ser um álbum ruim, pois o mesmo entrega um trabalho decente e com uma produção azeitada de uma mistura de pop/electropop com indie pop. E não é por aí que termina as qualidades: o álbum é fluido, divertido e com um senso comercial que não ofusca o lado artístico. Todavia, a produção não dá para a cantora o que a mesma mais parece exalar naturalmente: personalidade. Sonoramente, o álbum é como se estivesse no meio do caminho entre o Melodrama da Lorde e o debut homônimo da Dua Lipa. Isso não é demérito nenhum, porém, Sucker Punch não mostra exatamente qual a cara da Sigrid, mesmo que seja recheado de bons ideias, canções com nuances divertidas e uma tino bem apurado. Difícil explicar o que faltou, pois, como vocês leitores podem ter notado até aqui, a resenha está cheia de elogios. Acredito que a melhor forma de explicar é a seguinte: o álbum é como se fosse um atleta de salto tripo que, apesar de correr a toda velocidade, ao chegar o momento do último e importante pulo resolve continuar correndo. Explicando: o álbum é bom o tempo todo, mas nunca chega a decolar. Isso impede que Sigrid possa explorar todas as suas claras possibilidades que ficam perdidas por todo o álbum. Um dos melhores exemplos é a boa faixa Basic: uma balada mid-tempo que poderia ser melhor exploda, mas que tem momentos de pura inspiração como a sua rápida e surpreendente passagem "acústica" na parte final. Outro momento que faltou uma refinada é a legal Mine Right Now que poderia ser uma ótima indie pop/pop comercial se tivesse mais ousadia. Boa compositora e dona de uma voz comercial e com uma personalidade a ser melhor desenvolvida, Sigrid precisa de maturidade para conseguir alcançar um estado de plenitude que irá azeitar melhor o que já é bom. E isso fica bem claro na parte final de Sucker Punch, pois é possível observar com clareza a artista que a jovem pode ser de verdade: começa com a dramática In Vain, passa para a forte e imperfeita single Don't Kill My Vibe e divertidinha e chega nas melhores do álbum em Never Mine e Dynamite. Para sabermos se a cantora será capaz de alcançar a sua verdeira capacidade artística é necessário espero senhor de todas as coisas: o tempo.

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