16 de maio de 2019

Primeira Impressão

new breed
Dawn Richard


Se para um ex-integrante de uma boy/girl banda famoso a carreira solo é algo bastante complicado, o caminho para um cantor/cantora que saiu de um grupo, digamos, do segundo escalão deve ser ainda mais espinhoso e sinuoso. Entretanto, existe uma grande vantagem devido não existir a mesma pressão, ajudando ao ex-integrante a poder ter espaço para encontrar o seu verdadeiro eu artístico. E assim deve ter sido o caminho da cantora Dawn Richard, pois é possível notar o resultado ao ouvir o confiante new breed.

Para quem não conhece Dawn Richard, a cantora é uma das integrantes da girl band Danity Kane que tiveram algum sucesso relevante entre 2005 até 2009. Apesar de alguns hits e os dois primeiros álbuns alcançarem resultados acima da média, a girl band não conseguiu imprimir a sua marca perante o grande público, sendo quase uma versão genérica do Destiny's Child. Em 2014, o agora trio com a presença de Dawn fez um "comeback" que praticamente quase ninguém soube. O lado bom disso para a cantora é que durante todo o tempo que investiu na carreira solo foi possível construir uma sólida trajetória artística, especialmente nos últimos três álbuns lançados. Formando uma trilogia, Goldenheart (2013), Blackheart (2015) e Redemptionheart (2016) podem não ter alcançados desempenhos comercias expressivos, mas conquistou boa parte da critica especializada. E, sejamos sinceros, isso é um grande feito para um ex-integrante de uma girl/boy band já que a lista de nomes dentro de desse feito é bem pequena. Chegando ao seu quinto álbum solo, Dawn Richard continua a provar o seu talento ao entregar um pequena joia em new breed.

É nítido notar que o principal e mais importante ponto de distinção entre o que a cantora fazia na girl band e o que faz na sua carreira solo é a sonoridade. Deixando de lado o R&B/pop comercial e massificado, Dawn investe pesado em uma mistura elegante e adulta mistura de R&B contemporâneo/alternativo com toques hip hop, trap e, claro, pop. A elevação de qualidade entre os dois estágio da carreira é algo gigantesco a olhos nus e nem precisa de muito tempo ouvindo new breed para perceber. Logo nos primeiros momentos, Dawn entrega a poderosa mistura de R&B com EDM e hip hop faixa que dá nomes ao álbum new breed, estabelecendo exatamente a atmosfera do álbum inteiro. Apesar dessa constatação de superioridade sonora, o álbum não é exatamente um acerto por completo.


Dono de uma produção madura, coesa e bem estruturada, new breed pretende ser um álbum que apresenta uma espinha dorsal clara e fluida, "pulando" de uma música para outra como fosse uma sequência lógica. Isso até acontece, pois é fácil observar as linhas que amarram uma canção na outra. O problema é na ordem da execução das canções que, infelizmente, não está a altura da ideia por trás. É necessário dizer que em nenhum momento a produção é nem mesmo mediana, pois o new breed bem acima da média. O que acontece é que o trabalho deixa uma forte e incomoda sensação que o tudo poderia ser muito maior e, por consequência, ainda melhor. É como se todas as peças do lego estivesse montadas perfeitamente para formarem um impressionante castelo, mas a dimensão dessas peças é quase uma versão em miniatura. A beleza estrutural está lá. Faltou a pungencia substancial de um corpo bem composto. 

É isso fica bem mais claro enquanto o álbum progride e podemos notar o cuidado sonoro da produção que vai adicionando nuances a sonoridade de Dawn, criando pequenos momentos de criatividade inspirada. Um desses momentos é a incrivelmente interessante R&B/EDM shades que consegue ser um trabalho dançante, mas com algumas e ótimas surpresas na sua construção que consegue dar personalidade distinta. Todavia, a canção parece ter espaço que poderiam ter sido preenchidos para alcançar um patamar acima artisticamente. Recheado de letras sobre empoderamento, new breed também sabe ser sexy, romântico e triste quando necessário. Talvez, se as composições tivessem melhores resultados, pois as mesmas ficam em sempre na categoria de boas/acima da média, o álbum poderia ter encontrado um ápice mais adequado a sua idealização. Segurando de forma exemplar todo o trabalho, Dawn pode até ter uma voz limitada, mas sabe como usar a técnica e, principalmente, abusar das suas principais qualidades para entregar performances elogiáveis. O melhor momento é a impressionante vultures | wolves em que é possível saber como seria o álbum em uma toada mais encorpada. Outros bons momentos são dreams and converse jealousy. De qualquer forma, Dawn Richard prova que existe vida após o fim de um grupo, mas é preciso talento para ter a chance.

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