18 de abril de 2020

Primeira Impressão

After Hours
The Weeknd


Dentro das proporções devidas, o atual momento do The Weeknd é muito parecido com o da Lana Del Rey. Artistas sonoramente que trafegam longe do mainstream tradicional, mas que conseguiram alcançar um público extremamente fiel e até bem grande. Tirando o começo que claramente foi melhor criticamente para o canadense, ambos artistas chegam em um momento da carreira em que a impressa especializada tem apenas elogios para fazer em relação aos seus trabalhos mais recentes. E, assim como em Norman Fucking RockwellThe Weeknd tem em After Hours o trabalho que finalmente o consolida entre os principais nomes da música ao entregar o seu melhor álbum. Entretanto, o cantor ainda não entrega a sua obra prima.

Se você escutar After Hours em busca de uma revolução sonora é melhor tirar o cavalinho da chuva. The Weeknd entrega novamente uma mistura azeitada de R&B, electropop e indie R&B que é envernizado com a atmosfera sombria, sensual e depressiva que o ajudou a dar a personalidade que transformou na força que é atualmente. E não há nenhum problema nisso, pois o The Weeknd chegou em um estágio em que a sua sonoridade está no ápice em todos os quesitos. Tecnicamente impecável e sonoramente sólido, a produção em After Hours eleva a persona artística do The Weeknd ao colocar a sua sonoridade em nível em que tudo soa grande, épico, urgente, parecendo mais do que parece ser na verdade. Uma característica que já era ouvida nos trabalhos anteriores, mas que aqui chega em um patamar novo no instante que o público consegue perceber integralmente todas as nuances e texturas usadas para construir o trabalho. Se antes, o cantor poderia soar um pouco distante, o álbum faz com que o público encare de frente o The Weeknd como se fosse um trem vindo diretamente. Felizmente, a colisão acontece da melhor forma possível, principalmente para aqueles que já gostam da sonoridade do cantor, colocando todas as suas cartas na mesa sem ter medo ou mesmo muita preocupação em converter aqueles que não gostam. E uma dessas principais cartas é a versatilidade de The Weeknd em transitar entre as suas várias personas artísticas. 

Apesar da faceta mainstream do The Weeknd ser a mais conhecida, After Hours deixa claro que o artista é bem mais que o dono de alguns hits radifônicos A tática para isso é dividir o álbum em três "seções" diferentes em que cada uma será dona de um estética, sonoridade e gêneros diferentes, indo na linha oposta dos outros álbuns em que as facetas do cantor eram apresentadas esparsamente. O álbum começa com o The Weeknd indie/alternativo R&B em duas faixas que, infelizmente, não estão a altura do resto do álbum. Arrastadas e sem dizer para o que vieram, Alone AgainToo Late são uma pedra no caminho inicial que não dá a noção do que é realmente o álbum. As coisas mudam drasticamente com o começo do The Weeknd R&B tradicional/trip hop. A atmosfera também muda do sombrio para o melancólico/reflexivo/romântico com a presença da simpática Hardest To LoveScared To Live e o seu sample de Your Song do Elton John e a dramática Escape From LA. O melhor, porém, fica com a forte e desconcertante honesta Snowchild sobre os fantasmas do cantor. A terceira e final seção é a melhor parte do álbum: o The Weeknd popstar/electopop king. Começando pela pesada e envolvente FaithThe Weeknd nos leva para um passeio no underground pop dos anos oitenta em que os pecados são muitos, as luzes neon cegam e os sintetizadores eram os manda-chuvas. A nostálgica In Your Eyes, a batida new wave triste de Save Your Tears, a complexidade de After Hours e, claro, o grande momento do álbum como todo, a excelente Blinding Lights. E apesar de se dar bem em qualquer faceta é aqui que o The Weeknd brilha em performances empolgantes, poderosas e com personalidade ímpar. Outro ponto que precisa ser discutido é a capacidade do The Weeknd fazer em algumas das suas composições soarem elegantes e sensuais ao invés de vulgar ao falar se sexo abertamente e sem nenhum pudor. E isso é um verdadeiro talento. É fato que não há nada realmente genial em After Hours. Felizmente, ao entregar o seu melhor álbum, o The Weeknd dá um passo na direção certa para alcançar o seu nirvana.


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