12 de abril de 2020

Primeira Impressão

Future Nostalgia
Dua Lipa



Poucas vezes durante a história do blog presenciei tamanha aclamação para um álbum pop como está sendo para o Future Nostalgia, segundo trabalho da Dua Lipa. Katy Perry e a Britney Spears nunca nem passaram perto. Rihanna e a GaGa tiveram momentos inspirados, mas bem longe de aclamação quase unânime. A única que alcançou foi a Beyoncé, mas demorou anos e só lá pelo quinto álbum que chegou a esse momento e, sejamos sinceros, a cantora entregou álbuns que foram muito mais longe que apenas ser pop. A minha surpresa foi imensa ao ver que o álbum estava recebendo uma enxurrada de críticas extremamente positivas da crítica e do público, alcançado um altíssimo 89 no site Metacritic (na primeira dúzia de avaliações, a nota era de 99!). E a surpresa gerou uma grande desconfiança, pois, assim como críticas muito negativas, o que parece ser uma unanimidade não parece certo. Claro, sempre vai ter alguém que não vai gostar, mas, por enquanto, é uma minoria bem pequena. Então, precisei escutar o mais rápido possível para compreender se esse hype era o que está sendo falado. A minha conclusão é: Future Nostalgia não é o melhor álbum pop de todos os tempos. Entretanto, Dua Lipa entrega um trabalho excepcional, elevando a sua imagem para um novo patamar com um álbum que é fácil um dos melhores de pop dos últimos anos.

Quando resenhei o debut da cantora escrevi que "em um mundo cheio de novas cantoras de pop muito parecidas entre si, Dua Lipa é um verdadeiro sopro de ar fresco. Não que a cantora faça uma revolução no seu álbum homônimo. Longe disso, pois o álbum entrega o bom e velho pop, sem adição de muitas outras sonoridades. O que faz da jovem cantora realmente interessante é a sua não acomodação em criar um pop ordinário e, sim, dar substância verdadeira ao quebrar expectativas ao utilizar as suas características.". Esse trecho serve quase que por inteiro em relação ao Future Nostalgia. O que muda aqui é o fato da produção elevar a novos patamares o pop de Dua Lipa em uma aula sobre como se deve fazer um álbum pop. Tudo começa pela decisões mais técnicas e pontuais como é o caso da escolha de ter apenas onze faixas. Parece algo que não repercute no resultado final, mas, queridos leitores, um álbum tão compacto e relativamente rápido é a chave fundamental para o mesmo alcançar o seu objetivo de ser essa explosão pop. É só olhar a época de outro da Madonna: a maioria dos seus álbuns tinha em torno de nove até onze faixas, sendo a única exceção o Erotica com quatorze. A decisão é importante já que não faz o álbum ter pontas soltas, não faz ter chance se tornar arrastado e diminui os riscos de errar. Tudo isso ajuda aumentar a sensação de querer ouvir o álbum completo várias vezes, aumentando a possibilidade de quem gostar do trabalho como um todo e não apenas de um ou duas faixas. Obviamente, essa não é a única razão para fazer de Future Nostalgia um álbum tão excepcional.

Com uma produção divida entre vários nomes, Future Nostalgia entrega todo o que um álbum pop precisar ser: divertido, dançante, viciante e despretensioso. Só que isso é alçado a um patamar muito acima da média devido ao seu refinamento estético ao criar uma rica e moderna mistura de dance-pop, synth-pop e electropop com uma brilhante e magistral camada disco que ajuda a sonoridade a ganhar uma película atemporal. Tudo isso sem perder, porém, o fator comercial que o pop que sempre aparece em alta em todas as faixas, especialmente nos melhores refrões dos últimos tempos. Outra característica que a Dua Lipa já tinha mostrado na sua sonoridade é o fato de nunca entregar canções lineares e, sim, peças pop com nuances e texturas surpreendentes que apenas encorpam o já ótimo trabalho. Isso fica claro na faixa homônima que abre o álbum: Future Nostalgia é "uma interessantíssima e refrescante dance-pop com toques de electro e funk, comprovando a minha sensação que a cantora precisa quebrar expectativas em todas as suas canções.". Outro ótimo exemplo é a mid-tempo electropop com toques funk Pretty Please que constrói uma batida falsamente minimalista para entregar uma canção deliciosa cadenciada e de uma sensualidade única. E personalidade que não falta para o álbum, pois Dua Lipa é uma artista realmente diferenciada nesse quesito.

Explicar o carisma de alguém é meio difícil, pois existem vários tipos dependendo de quem é o objeto de análise. E o caso de Dua é bastante único. A cantora apresenta um carisma tipo blasé de menina "too cool for school" que é na verdade um poço de simpatia natural. Esse tipo de carisma não deveria funcionar na teoria, mas para a Dua é um dos grandes diferencias que a fazem ser a diva pop em ascensão número um da atualidade e uma promessa forte para o futuro bem próximo. Além de ser dona de voz poderosa e marcante sem precisar de usar grandes artifícios, Dua deve muito a esse carisma a capacidade de carregar canções que poderia ser desastrosas na mãos de alguma outra cantora. Caso da excepcional Break My Heart que parece uma parente distante de Dancing on My Own ao ser uma perfeita dance-pop para "dançar e chorar na pista". Outros momentos de destaque ficam por conta do primeiro single Don't Start Now, a deliciosa Levitating, a dance-pop/disco/funk Love Again e empoderada Boys Will Be Boys. Devo dizer que Future Nostalgia nem sempre acerta o alvo cem por cento como é o caso da dispensável Good In Bed, mas isso é compensado pelo seu ápice: a maravilhosa Physical. E o fato de a escolha dos singles ser perfeita é outro ponto que merece um elogio, pois ajudou a aumentar o hype do lançamento do álbum. Irei repetir: Future Nostalgia não é o melhor álbum pop de todos os tempos. Todavia, o álbum não apenas é o trampolim para o começo da consagração da Dua Lipa, mas, principalmente, o álbum perfeito para a época em que vivemos.


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