Rita Ora & Imanbek
Todas as vezes que estou ouvindo um álbum tento dar um sentido para a existência do mesmo. Pode ser desde o comeback de um grande artista depois de um período em baixa, passando para o grande debut de uma promessa até chegar a consagração máxima de artista. E, obviamente, existem uma centena de outras razões, mas, pela primeira vez, deparo com um trabalho que sinceramente não sei exatamente qual o motivo do seu lançamento a não ser a total falta de noção. Estou falando do EP Bang, parceria da Rita Ora com o DJ Imanbek.
Sejamos sinceros, a carreira musical da Rita Ora até hoje nunca realmente fez muito sentido, pois a britânica nunca mostrou de verdade para o que veio. Tirando um ou outro acerto, Rita sempre pareceu mais uma “personalidade da mídia” devido as suas aparições como modelo, atriz, apresentadora e jurada de reality show. Bang surge na parca discografia da artista para mostrar que, apesar de talentosa, Rita não tem a menor ideia sobre o que fazer com os seus dotes musicais. Com apenas quatro canções, o EP consegue ser uma cartilha bem detalhada sobre o que não fazer. É claro que parte da culpa vai para a produção do DJ Imanbek. Mesmo dividindo a produção com alguns nomes, o DJ é o timão que deu a direção para esse desastre em quatro atos. Tudo começa até de forma menos tenebrosa com a mediana Big.
De longe a melhor canção do EP, Big ainda é uma coleção de um monteado de clichês que dão a temática do que está por vim. Uma EDM com toques de eurohouse e hip hop, a faixa parece que tenta ser em cerca de dois minutos e meio uma grande explosão pop, mas que acaba por terra devida a total falta de carisma que a produção exala do começo ao fim. Previsível e batida, Big ainda pode se vangloriar de ter um refrão redondinho e uma performance de Rita na média. Possivelmente, o sobro de qualidade aqui veio da presença da co-produção de David Guetta que até pode ter seus defeitos, mas também já teve acertos verdadeiros. Tudo começa a desandar com a presença de Bang Bang.
Acredito que a produção pensou em criar para a faixa uma batida que rapidamente fosse reconhecida pelo público. Por isso, o sample usado foi o do instrumental de Axel F, tema clássico do filme Um Tira da Pesada estrelado pelo Eddie Murphy. Todavia, o problema é que apesar de icônico, a canção já tinha sido usada e popularizada em 2005 pelo projeto animado Crazy Frog. Quem não conhece essa anomalia que surgiu há mais de quinze anos atrás é melhor dar uma olhada no YouTude para entender exatamente sobre o que estou falando. O sample vem com uma carga pesada de vergonha alheia que precisaria de uma produção extremamente criativa para tirar esse verniz indesejado, mas, infelizmente, Bang Bang passa longe de ter alguma criatividade latente ao entregar uma extremamente mediana, sem sal e pouco interessante EDM/dance-pop que faz o arroz com feijão de forma apática. Nem para ser prazer culposo serve, mas ainda é melhor do que a parte final de Bang.
Em Mood, o EP muda a direção de EDM para um pop que parece querer imitar/sugar do k-pop. Extremamente marcante em uma batida que mistura hip hop, trap e pop, a canção parece uma gozação sobre o que é fazer k-pop. Já disse que não morro de amores pelo gênero, mas quando bem feito, o gênero sul coreano pode entregar momentos realmente divertidos e inspirados. A tentativa feita por Rita e Imanbek é canhestra e, sinceramente, quase uma ofensa. A única coisa de bom que pode ser dita é a participação do argentino Jhea que entoa versos em espanhol. Obviamente, a sua inclusão é outro momento de se perguntar “o que está acontecendo aqui?”, ainda mais que o artista está bem longe de ser o Bad Bunny, mas é algo ok em uma poça de mediocridade. Finalizando o desastre aparece The One que parece tentar ser uma direta EDM acaba se tornando uma pastiche irritante e rasa sobre o que é o gênero. Sinceramente, não entendo que ninguém ao ouvir o projeto parou e pensou: “realmente isso é algo que merece ser lançado?”. É claro que um EP vindo da Rita Ora que pagou um restaurante para abrir e cobrir o fato dela ter dado uma festa de aniversário para dezenas de amigos em plena pandemia logo depois de descumprir a quarentena após ter viajado não é esperado muito bom senso.
notas
Big (with David Guetta & featuring Gunna): 5,5
Bang Bang: 5
Mood (featuring Khea): 4
The One: 4
Média Geral: 4,6
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