15 de abril de 2021

Primeira Impressão - Outros Lançamentos

DEMIDEVIL
Ashnikko


É cada mais difícil estourar no cenário pop fazendo apenas pop, pois as barreiras entre o gênero e outros como, por exemplo, R&B, trap, soul e disco estão cada vez mais inexistentes. E é por isso que descobrir uma artista como a cantora/rapper Ashnikko é realmente excitante. Em seu primeiro mixtape, Demidevil, artista pode até mostrar que não está completamente formada, mas o demonstra com clareza o motivo de ser o grande possível nome do pop para um futuro próximo.

Sonoramente, Demidevil é superficialmente honesto e divertido aglomerado de pop-trap, pop e rap permeado por pop punk, R&B, pop rock e electropop, mas que mostrar lapsos de uma possível genialidade no instante em vários momentos, especialmente no seu começo bem melhor que o esperado. O tom da mixtape é dado logo pela colorida e exagerada Daisy. Misturando pop e trap, a faixa tem um carisma estranho e único e, ao mesmo, extremamente vendável como algo fora da caixinha do mainstream que parece pegar alguma influência das batidas marcadas do k-pop. Em Toxic, Ashnikko parte para algo mais denso, mas não menos comercial. Referenciando claramente a canção da Britney Spears, a faixa tem a capacidade de mostrar de fato a maior característica da sonoridade de Demidevil: hip hop/rap para o público pop encontra pop rock de boutique que passa longe de ser dispensável. Acredito que o principal fator para o trabalho não cair em uma fossa sem volta de mediocridade é o seu resultado extremamente divertido. Não há só um momento que o público irar achar tedioso, arrastado e sem graça, mesmo não achando que o trabalho seja genial. Além disso, algumas ideias ajudam a melhorar mais a percepção que estamos diante de uma artista realmente interessante. Deal with It, um dos melhores momentos da mixtape, usa o sample de Caught Out There da Kelis para dar o toque especial no que poderia resultar em uma mediana mistura de pop rock e pop trap. Finalizando a parte inicial aparece a sexy e esquisita Slumber Party com a presença da rapper Princess Nokia. Falando sobre a sua atração por mulheres de forma aberta, ácida e divertidíssima, Ashnikko dá outra amostra sobre o seu potencial ao relevar um senso de humor primoroso e uma persona feminista aguçada.

O empoderamento mostrado por Ashton Nicole Casey, nome de nascimento de Ashnikko, não é sobre querer ser e, sim, sobre já ser “fodona” naturalmente, sabendo usar a sua personalidade “esquisita” para ter a sua voz ouvida e levada a sério. E a maneira que a artista faz isso é através do humor ácido e, por muitas vezes, escrachado. Cheia de referencias pop divertidas e uma verborragia afiada, as composições de Demidevil nem sempre acertam o tom e ainda falta certa substância que é refletido também na construção sonora do álbum. Irregular, mas sem se tornar ruim, a mixtape continua com a legalzinha Drunk with My Friends que, apesar de cumprir o seu papel como filler, deixa claro que ainda é preciso dar nuances para a sonoridade de Ashnikko para que não parece como tudo sendo uma grande continuação de canções com a mesma batida. Esse erro é cometido ainda em duas canções. Good While It Lasted apresenta uma variação indie rock da persona da artista, mas deixa claro que ainda é preciso maturidade para a mesma estabelecer o seu alcance. O maior erro da mixtape é a parceria com Grimes em Cry, pois a canção não chega perto do potencial das suas artistas ao terminar como a faixa mais dispensável de todo o trabalho quando poderia ser o seu grande momento. E, apesar de ser cedo, é possível ver que Ashnikko tem versatilidade para ir da rapper badass para a cantora pop rock estilosa com a mesma potencial. É preciso, porém, de consistência e uma dose de experiência para aparar as arestas soltas e polir exageros aqui e ali. Quando a mesma está inspirada é capaz de entregar faixas com a pegajosa e sombria Little Boy, a hilária regravação/reinvenção/paródia de Sk8er Boi da Avril Lavigne intitulada L8r Boi e a exagerada, ultrajante e divertidíssima Clitoris! The Musical. Mesmo sendo um trabalho que não tem a intenção de ser “completo” e ainda mostrando falta um espaço imenso para evoluir, Ashnikko é o tipo de artista que já sabe como entrar chutando a porta e estar a dois passos de ser torar uma verdadeira explosão.
notas
Daisy: 7,5
Toxic: 7,5
Deal with It (featuring Kelis): 7,5
Slumber Party (featuring Princess Nokia): 7,5
Drunk with My Friends: 7
Little Boy: 7,5
Cry (featuring Grimes): 7
L8r Boi: 7,5
Good While It Lasted: 7
Clitoris! The Musical: 7,5
Média Geral: 7,3

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