6 de abril de 2021

Primeira Impressão

Magic Mirror
Pearl Charles


Nem sempre o ato de escutar um álbum é necessário um momento catártico, isto é, aquele momento que a gente entra em um espiral de emoções tão fortes que são capazes de fazer a gente até mesmo rever conceitos pré-estabelecidos, seja para o bem ou para o mal. Às vezes, a grande qualidade de um álbum é a fazer a gente simplesmente curtir um bom momento. Sem grandes arrombos de criatividade. Sem grandes momentos de pura genialidade. Sem precisar tirar o folego. E nada mais. Nem por isso, porém, o trabalho passa perto de ser ruim. Pelo contrário, pois esse tipo de trabalho pode ser tão bom quanto o auspicioso Magic Mirror da cantora Pearl Charles.

Lançando o terceiro álbum da carreira, Pearl Charles é o tipo de artista que a gente descobre e, mesmo que não vire o topo da nossa playlist, fica voltando ocasionalmente para escutar as suas canções. A melhor definição para Magic Mirror é o tipo de álbum composto de canções que parecem tocar em rádios FM com uma pegada adulta/contemporânea que se encaixa perfeito para ser a trilha sonora ao fundo para um dia de faxina ou uma reunião intima entre amigos. Inofensiva, mas melódica e extremamente agradável, a sonoridade do álbum é uma união entre soft rock, country, americana e folk que é pesadamente influenciada pelos anos setenta. Na verdade, Magic Mirror poderia facilmente ser um álbum de um grande nome da música no começo de carreira nos primeiros anos da década de setenta que a gente acreditaria sem grandes dificuldades. Isso não quer dizer, porém, que o trabalho seja datado, mas, sim, emula de forma louvável a sonoridade da época com personalidade distinta e muito bem construída.

Em What I Need, uma das melhores do álbum, Pearl Charles entrega uma deliciosa e confortante soft rock/americana que envolve a gente como veludo sobre a pele. A canção não conquista a gente pela força e, sim, pela gentileza que vai sendo desenvolvida ao longa da sua duração. O único ponto fora da curva é a inusitada Only for Tonight: abrindo o álbum, a faixa é uma mistura leve de soft rock com disco que faz a gente acreditar que o álbum vai seguir esse mesmo modelo. Claro, Magic Mirror muda de direção sonora para algo bem menos pop. Pensando com mais clareza fica claro que a adição de disco é até algo perspicaz e que faz sentido dentro do contexto do álbum, mesmo que seja algo que no quadro final fique levemente estranho. O que se manter intacto do começo ao fim é a capacidade de Pearl de falar muito sobre sentimentos sem precisar ser verborrágica.

Concisa, direta e dona de uma poesia simples e eficiente, a cantora pode não tirar momentos de pura genialidade lírica, mas o seu trabalho é certeiro ao não desperdiça nenhum momento. Don’t Feel Like Myself é uma crônica tocante sobre a nossa jornada interior de todos para encontrar a nossa verdade e, principalmente, como a gente vai colocar em prática as nossas descobertas mais intimas. Em Magic Mirror, faixa que dá nome ao álbum, Pearl Charles continua essa jornada por entendimento próprio, mas, dessa vez, o objeto em questão é a jornada em si com os seus caminhos tortuosos, os atalhos errados e a noção de parecer estarmos presos em um lugar só dentro de nós mesmos. Emoldurando a Joni Mitchell, a cantora entrega o seu momento mais emocionante de todo o álbum, mas o melhor momento lírico está em Take Your Time. Uma reconfortante e emocionante canção sobre superar problemas envolvendo a saúde mental, a faixa apresenta um verso realmente que sintetiza esse tipo de problema com precisão e beleza:

The moon is darker on one side
Like the shadows in our minds
The tiniest dim before the light
Tilt your head to find the shine

Apesar de vários ótimos momentos, Magic Mirror não apresenta nenhum momento realmente genial que tire a gente do eixo, mas, felizmente, isso não se torna um problema no final das contas. O grande êxito de Pearl Charles é nos levar em uma caminhada tranquila e cativante do começo ao fim. E isso é o que a gente precisa de tempos em tempos.


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