Black Eyed Peas
Assim como existem canções que melhoram ao longo dos anos que se passam depois do seu lançamento também existem canções que pioram. Às vezes, porém, essa canção que a gente percebe que piorou não simplesmente perdeu qualidade e, sim, a gente começou a realmente perceber a má qualidade sempre teve. Esse é caso de My Humps do Black Eyed Peas.
Lançado em 2005 no auge do sucesso do grupo com o lançamento de Monkey Business, quarto álbum da carreira deles e segundo com a presença da Fergie, My Humps se tornou um sucesso comercial e, ao mesmo tempo, teve impacto cultural. Um impacto ruim devido a sua recepção extremamente negativa, especialmente em relação a composição sexualmente explicita e considerada machista. Citada em vários momentos como uma das piores canções de todos os tempos, My Humps alcançou o número três na Billboard com repercussão mundial, especialmente no Brasil, venceu o Grammy de Best Pop Performance by a Duo or Group with Vocal e se tornou uma das canções assinatura do Black Eyed Peas. Depois de dezesseis anos do seu lançamento, My Humps continua a confirmar o seu lugar de grande desastre musical, mesmo encontrando um lugar de carinho na memória de muitas pessoas. Incluindo a minha memória afetiva.
Vamos aos fatos: My Humps é machista. Não estou querendo ser “lacrador” em cima de canção que serve apenas para diversão, mas, sinceramente, entender a letra da canção é um verdadeiro passei para a terra da vergonha. E nem mesmo chega perto do famoso prazer culposo, pois isso está muito longe de chegar perto do desastre que é a composição aqui. Apesar de ser tecnicamente muito bem construída, a letra é de uma pobreza gramatical gigantesca e de uma visão que coloca a mulher apenas com uma exploradora de homens devido a seu corpo curvilíneo. Até é possível estabelecer uma tentativa de defender a canção ao falar que a “narradora” aqui não tem problema em ser usada, pois tem consciência do seu papel nessa “troca”. Todavia, o resultado passa bem longe de qualquer tentativa de empoderamento, mas, sim, de sexualização descabida e sem freios. Claro que em 2005 não havia tamanha consciência sobre esse tipo de representação da mulher como acontece atualmente. Até pode ser verdade, porém, Milkshake da Kelis fez um trabalho infimamente melhor ao colocar uma mulher como a peça central do seu desejo sexual dois anos antes. Na verdade, My Humps ainda erra ao ser uma tentativa de “imitar” o hit da Kelis.
Sonoramente, o sucesso do Black Eyed Peas é uma mistura de electropop, dance-pop e hip hop cadenciado com base de percussão que se assemelha bastante com a proposta de Milkshake. Entretanto, o resultado aqui é bem menos inspirado, apesar de terminar em uma batida perfeitamente viciante do começo ao fim. Isso não quer dizer que a falta de criatividade não se mostre com força ao longo da duração de My Humps fantasiado de ideias geniais como, por exemplo, a adição de vocalizações em forma de baforadas que está presente em toda a canção. O que salva a canção de não ser uma verdadeira bomba são as performances de Fergie e de will.i.am, especialmente o da cantora. Antes de tentar a carreira solo mais meteórica de todos os tempos, Fergie mostrava o seu carisma em uma entrega despretensiosa, sexy, divertida e cheia de personalidade. A performance da cantora é tão boa que deveria estar em uma canção bem melhor. E, apesar de ser o produtor dessa bomba, will.i.am mostra que tem química com a Fergie de forma natural. Ainda existem algumas canções que entram nessa categoria de envelhecer igual leite fora da geladeira, mas My Humps tem alcunha de ser aquela que já era ruim quando foi lançada. O problema é que muitos não perceberam devido a uma ilusão de ótica muito bem feita do Black Eyed Peas.
nota: 5,5
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