Natalia Lafourcade
Apesar da imensa popularização da música latina nos últimos dois anos parece ainda existir certo muro que impede que o público fora dessa região possa realmente conhecer algo que vai além do mainstream. Inclusive até em relação a relação dos brasileiros com a música de latinos hispanofalantes. E é por isso que é extremamente fácil perdermos joias raras como é a genial Alfonsina y el Mar de Natalia Lafourcade.
Conhecidíssima e aclamadíssima artista mexicana com uma carreira de vários anos, Natalia Lafourcade vem transitando entre o indie rock, folk, latin rock e até mesmo a bossa nova durante a sua carreira, mas nos últimos trabalhos decidiu voltar as raízes da sua cultura ao fazer homenagens a grandes nomes do cancioneiro mexicano e da américa latina com regravações e, também, canções inéditas. Recebendo o último Grammy Latino de Álbum do Ano para o projeto Un Canto por México, a cantora prepara a continuação desse álbum e como primeiro single lançou a espetacular Alfonsina y el Mar. E, queridos leitores, não acreditem que vocês podem imaginar o que é a canção, pois qualquer expectativa cai po terra no instante que o trabalho de desenrola em uma épica e devastadora saga musical.
Com um pouco mais de nove minutos, Alfonsina y el Mar é na teoria uma canção simples. Basicamente voz e violão com a inclusão de outros instrumentos e efeito sonoros aqui e ali, a produção parece buscar uma estética acústica para dar a atmosfera ideal para que a canção seja como uma narração de uma lenda de raízes latinas musicada. E, apesar de toda a simplicidade sonora, o resultado é uma verdadeira viagem por uma melodia falsamente simples que se mostra um trabalho intricado, complexo e de uma riqueza melódica impactante. Assim como um contar de história, a canção pega atalhos, desvios e caminhos que seriam quase inimagináveis, criando uma canção densa, envolvente e de uma noção emocional devastadora. Ouvir Alfonsina y el Mar é como embarcar em um navio que nos leva para um passeio no que existe de mais espiritual do povo latino americano. Essa sensação é aumentada devido a incrível e minuciosa composição da versão original da Mercedes Sosa. Escrita em homenagem a poetisa Alfonsina Storni que se suicidou em 1938 no Mar da Plata, a composição é de um poder cru que não parece deixar uma marca viva em quem escuta. De uma beleza melancólica quase tocável, Alfonsina y el Mar é defendida de maneira deslumbrante por uma performance sentimental e que consegue exalar uma tristeza misturada com um sentimento de contemplação de Natalia Lafourcade que ajuda a dar ainda mais força emocional para a canção. A força de Alfonsina y el Mar é algo que transcende idioma, países e cultura sem esquecer, porém, de fazer a gente querer emergir e descobrir mais sobre o cancioneiro dos países que nos cercam.
nota: 9
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