2 de maio de 2021

Primeira Impressão

Life Support
Madison Beer


Em seu álbum debut, a novata Madison Beer mostra claramente que está esteticamente pronta para ocupar um lugar entre as jovens divas pop contemporâneas. Infelizmente, esse estar pronta não quer dizer que Madison entrega em Life Support um trabalho que realmente chega a empolgar, pois falta ainda um longuíssimo caminho para a cantora conseguir mostrar que consegue transportar as boas ideias que a cerca em execuções que estejam a altura do seu potencial.

Sonoramente, o álbum não apresenta exatamente um grande e decisivo erro que comprometa o resultado final e, sim, uma coleção de erros pontuais que se agrupam para colidirem em um desvio de qualidade. A maior culpa, porém, vem de apenas um lugar: a produção. Capitaneado pela própria Beer e Leroy Clampitt (Justin Bieber, Adam Lambert, Allie X), a ideia por trás de Life Support é criar um álbum pop/R&B que, ao mesmo tempo, siga tendências vindas de outros nomes como Ariana Grande e Billie Eilish misturando com referências indies como da Lana Del Rey e toques de pop clássico como da Mariah Carey, mas sempre construindo saídas fáceis para que a cantora mostrar a sua própria personalidade. Proposito interessante que cai por terra devido essa mesma produção querer morder mais que aguenta mastigar em um projeto ambicioso demais para a inexperiência de Madison e, principalmente, a sensação de não saber onde quererem exatamente chegar com o trabalho. Ouvir Life Support é como receber um presente embrulhado com o mais bonito, sofisticado e caro papel de embrulho enfeitado com o perfeito laço, mas quando a gente olha o conteúdo é apena um bibelô de 1,99. Muito brilho para pouco conteúdo, mas obviamente pode agradar a quem não liga para degustar gato por lebre. Melhor que apontar de forma genérica é melhor apontar um exemplo claro: a faixa Stained Glass.

Single promocional do álbum, Stained Glass apresenta a síntese dos erros que o álbum mostra como um todo. Tecnicamente, a faixa é um trabalho impecável, mas que recorre a ideias estranhas para dar personalidade à Madison. A adição de uma base de percussão que é a saída para fazer a canção soar maior do que realmente é: uma mid-tempo electropop romântica. Não que seja exatamente ruim, mas a decisão erra em achar que apenas uma adição e/ou mudança instrumental é capaz de dar para a canção a originalidade necessária para se destacar. Na verdade, o que a produção precisaria executar é a construção do começo ao fim de uma atmosfera que realmente segurasse esse peso de uma ideia tão ambiciosa. O problema é que a sonoridade de Madison parece querer clamar por ser comercial, esquecendo que ultimamente é necessário primeiro dar um passo artístico e encontrar o seu público sem precisar se curvar aos apelos radiofônicos. É como seguir a boiada sendo um carneiro, pois, apesar de ir na mesma direção, existe uma originalidade na sua figura. Apesar desses erros, Stained Glass também mostra as boas qualidades que Madison Beer e que faz a gente acreditar que a cantora pode ter um futuro promissor. 

Apesar de carecer de bastante profundidade, Madison apresenta composições realmente elogiáveis, pois conseguem cumprir espaços que a produção não chega perto. Especialmente em relação ao equilíbrio entre estética e conteúdo pop. Além disso, Madison é uma cantora mais do que interessante vocalmente no instante que encontra o seu espaço para mostrar versatilidade, mesmo que em vários momentos soe como alguém que a gente já ouviu recentemente. Em Effortlessly, fofa e encantadora balada pop, a cantora encarna a sua versão Mariah encontra Ariana, mas também dá lapsos de personalidade própria em momentos importantes da canção. Homesick é o tipo de canção que seria um filler dispensável com outras cantoras, mas com Madison parece encontrar uma interprete moldada para esse tipo de canção ao saber se utilizar de pequenos momentos para dar vida ao trabalho. Boyshit tem um começo pretencioso que vai sendo diluído pela boa ideia de a transformar a batida em uma mistura de electropop e EDM envernizado com delicadeza. Todavia, o melhor momento de Life Support é na faixa que o abre: Good in Goodbye parece ter as pontas aparadas na medida certa para ter individualidade artística e ter apelo bastante comercial. Sem ter força suficiente para sustentar 17 faixas, Life Support poderia ser um debut bem pior para Madison Beer, mas também poderia muito melhor se tivesse noção exatamente qual é o caminho certo para seguir.

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