Kero Kero Bonito
Pergunta: pode uma EP com apenas três canções de poder disputar um posto entre os melhores álbum do ano? Teoricamente, a resposta é não. Entretanto, a banda Kero Kero Bonito mostra com o EP Civilisation II que na prática é uma realidade bastante provável.
Com apenas três canções, o EP é uma pequena, mas poderosa lição de como fazer um eficiente trabalho que consegue ter estrutura, dinâmica, continuidade e noção de completude que muitos álbuns de verdade não apresentam. Claro, existe uma sensação gigantesca de “quero mais” que começa assim que a terceira canção termina, mas isso é um problema bem pequeno quando se analisa o quadro geral. Tudo começa com o ótimo single The Princess and the Clock “que consegue unir toques de J-pop com uma forte influencias de trilhas sonoras de vídeo game para construir uma fofa, dançante e estilizada synthpop/ecltropop que ganha pontos principalmente na sua construção bem mais encorpada que uma escutada descompromissada. Não digo que a canção seja de fácil entendimento e, também, não faz a gente gostar no primeiro instante, mas, tirando esse defeito, The Princess and the Clock tem uma batida limpa, muito bem pensada e com uma instrumentalização muito acima da média para esse tipo de canção”. Civilisation II dá uma leve queda de qualidade na segunda faixa que é compensado pela extraordinária canção que o encerra.
21/04/20 é uma synthpop com nuances de J pop e pc music que parece inofensiva demais, mas que conquista primeiramente pela leveza instrumental. Todavia, quando a gente dá uma olhada com mais cuidado para a composição é possível notar uma profundidade quase desconcertante, pois a letra narra um dia inteiro durante o lockdown causado pela Covid-19. Ao saber misturar um tema tão complicado com uma mistura de fofice, crônica do dia a dia e delicadeza, o Kero Kero Bonito eleva o resultado final para um nível completamente diferente que a sonoridade parece seguir. É um pequeno tropeço em Civilisation II, mas que é perdoado não apenas pelo resultado final de 21/04/20 como também com o aparecimento da espetacular Well Rested. Com um pouco mais de sete minutos, a faixa é uma viagem psicodélica que mistura vários gêneros em um trabalho encorpado, complexo, hipnotizante e de uma riqueza sonora excêntrica. Definir exatamente qual a classificação da canção é difícil, pois a produção de Gus Lobban, membro da banda, construí várias camadas que vão sendo descobertas ao longa da sua duração, passando por synthpop, eletrônica, EDM, pc music, electropop e indie pop. Apesar dessa profusão de gêneros, o resultado final de Well Rested é imensamente harmônico. Não existem fios soltos ou exageros, mas, sim, uma coerência ímpar que entrega cada mudança e/ou nuances no momento certo. Ao fechar de maneira apoteótica Civilisation II, o Kero Kero Bonito faz por merecer disputar como um dos melhores álbuns de 2020.
notas
The Princess and the Clock: 8
21/04/20: 7,5Well Rested: 8,5
Média Geral: 8
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