Duda Beat
Às vezes sinto culpado por não acompanhar de mais de perto a cena musical brasileira que está longe do mainstream. Muitas vezes apenas conheço algum artista nacional quando vejo o seu burburinho por redes sociais ou/e quando o mesmo consegue chegar na TV. E é por isso que tenho arrependimento de não ter conhecido a Duda Beat quando estourou com o sucesso de Bixinho em 2018, deixando apenas para agora durante o lançamento do seu segundo álbum. Em Te Amo Lá Fora, a cantora entrega uma preciosidade do cancioneiro nacional contemporâneo, mesmo que não esteja no mesmo hype que muitos estejam falando por aí.
Analisando Te Amo Lá Fora com cuidado vejo que o álbum é tipo que, apesar de ter minhas críticas, será o tipo que voltarei a escutar várias vezes no futuro devido ao seu altíssimo fator de envolvimento do começo ao fim. Dito isso, a minha maior crítica e que impede de não dar uma nota maior é o fato do trabalho não ter o que chamo de “o momento”. Completamente coeso e fluido, Te Amo Lá Fora fica carente daquele momento de pura genialidade que possa elevar consideravelmente o resultado final. Ao ficar em uma linear, mas alta, régua de qualidade, o álbum não parece gerar um impacto fulminante para conseguir conquistar de vez quem escuta de forma fragmentada a sonoridade de Duda. Isso não quer dizer que o álbum perde qualidade, mas, sim, não vive toda a sua potencialidade. Tirando esse ponto do caminho, Te Amo Lá Fora é um trabalho de uma graça deliciosa e uma aula como fazer pop enraizado nas origens brasileiras.
Mesmo sem alcançar um patamar altíssimo, Duda Beat entrega o que sempre digo que uma diva pop deveria fazer para realmente entregar um pop brasileiro de qualidade: pegar todas as influências de gêneros e ritmos brasileiros e usar como base para construir batidas modernas. Lembrando a ideia por trás do trabalho da Rosalía em EL MAL QUERER, a produção entrega uma fusão edificante de MPB, forro, manguebeat, brega e carimbó que leva pinceladas de R&B, pop e eletrônico em uma sonoridade original, natural e gostosa de se ouvir. Te Amo Lá Fora costura toda essa carga pesadíssima de brasilidade com uma espetacular inteligência em saber se aproveitar o melhor de cada uma, criando um trabalho original que não perde em nenhum momento as origens de Duda. Nascida no Recife, mas plenamente familiar com sonoridade de vários lugares do Brasil, Duda Beat é o tipo de artista que sabe o que quer e tem na escolha da produção o casamento perfeito para poder explorar todas as possibilidades seguindo a sua personalidade única. Logo de cara, o álbum já apresenta uma joia com a ótima Tu e Eu que ao colocar o sample de Coração de Papel da lendária cantora popular pernambucana Cila do Coco adiciona a camada perfeita de significância, respeito e inteligência sonora. Ao criar uma mistura perfeita entre o moderno e o tradicional bem no seu abre-alas, Te Amo Lá Fora dá o tom perfeito para quem nunca ouviu os trabalhos de Duda entender um pouco sobre o que ainda está por vim.
Meu Pisêro, single de trabalho, é o tipo de obra que consegue elevar em outro patamar uma ideia relativamente simples ao criar um delicioso forró pop. A canção também dá para notar outra característica importante do álbum ao exalar uma qualidade técnica nítida. Com um trabalho instrumental espetacular e que retruca no mesmo nível a qualidade de ideias, a produção dá para todas as canções de Te Amo Lá Fora um detalhe importante que sempre reclamo de vários artistas atuais nacionais: a sensação de completude. Nenhuma das faixas ouvidas no álbum nem chegam perto de parecerem inacabadas, pois apresentam um claro começo, um desenvolvimento fluido e um final climático e que amarra todas as pontas soltas. Em Nem um Pouquinho, parceria com o baiano Trevo, a produção criar uma impressionante mistura de forró, rap e manguebeat que soa irresistivelmente encorpada, sabendo explorar os seus mais de quatro minutos de forma completa sem deixar nenhum gosto amargo de quero mais. Arrematando toda essa cesta de deliciosos quitutes nacionais, Duda Beat é uma artista realmente adorável em todos os instantes. É quase impossível não se deixar levar pela suave e aveludada voz da cantora e o seu gotoso sotaque ao cantar sobre as dores do coração, a sofrência de amar quem não quer a gente e a delicia de ser desejado. 50 Meninas é um reggae abrasileirado em que a cantora parece finalmente perceber o boy lixo por quem se apaixonou para logo depois encontrar realmente o amor da sua vida com a romântica e fofa Decisão de te Amar. Na destruidora de emocionais Meu Coração, Duda usa a sua melódica voz para dar o sentimento dessa triste balada. E, por fim, o álbum finaliza com a ótima e sensual Tocar Você que se transforma em uma surpreendente electropop que funciona melhor que na teoria dentro do álbum. Mesmo ainda fresco na minha memória, Te Amo Lá Fora tem todo o potencial de virar um cult clássico dentre da história da música brasileira. E é apenas porque a Duda Beat apenas está começando.
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