Rico Dalasam
O segundo álbum do cantor/rapper Rico Dalasam deixa bem claro o imenso talento do artista de maneira direta e sem espaço para dúvidas. Entretanto, Dolores Dala Guardião do Alivio deixa a mostra que o artista está apenas no começo da sua jornada, pois apresenta uma sonoridade que parece ainda não estar cozida totalmente.
Apresentado em forma de previa no EP de mesmo nome lançado no final do ano passado, o álbum apresenta um resultado bem parecido em relação a qualidade. Não apenas devido a incluir as mesmas faixas, mas também pelo de não ir além da atmosfera já construída. Acredito que a principal razão dessa não evolução entre o EP e o álbum é a insistência em rechear o trabalho de intros que, infelizmente, não pesam suficiente para dar contribuir com o resultado final. Essa decisão quebra vários momentos de construção de atmosfera, deixando o álbum com um resultado truncado e sem fluidez continua. Preso a essas amaras que Rico construiu para si, Rico Dalasam parece ainda ter receio de liberar o seu talento de forma irrestrita, sem medo e vulcânica, pois precisa de uma estética que se afunde ainda mais na poesia da sua lírica urbana/queer. Uma pena que o artista ainda esteja preso a essa concepção, porque as suas canções já exalam plenamente esse desejo de maneira direta e carismática. Falta condensar todas as ideias soltas. Editar as concepções que saem do foco da sua sonoridade. Aumentar a força da mensagem importante para o máximo. E, por fim, criar uma sensação de envolvimento que não fique fragmentada em faixas soltas para um envolvimento geral do começo ao fim. Apesar desses problemas, Dolores Dala Guardião do Alivio apresenta qualidades sensacionais que merecem ser elogiadas.
Primeiramente, Rico Dalasam coloca mais um tijolo na construção de uma música queer que consegue ultrapassar clichês e estilos para falar de forma honesta sobre sentimentos, neuras, medos, paixões e emoções. Em Última Vez, o artista entrega uma crônica sobre um relacionamento complicado que uma das partes tem medo de assumir, mas que ambos parecem presos no mesmo lugar devido ao desejo a flor da pele. Com uma composição direta e um refrão deliciosamente carismático, a canção não se esconde em lugares comuns para expressar esse problema amoroso, mas, sim, usa esses lugares comuns sobre relacionamentos para expressar toda a força sentimental. Em segundo lugar, o Rico apresenta uma brasilidade refinada que sabe muito bem dosar referências nacionais como, por exemplo, funk, MPB e samba com as influências internacionais do rap, hip hop e R&B para criar uma sonoridade que parece estar em crescimento e, mesmo assim, já desponta para algo de criatividade única. Braille é uma sensual, divertida e viciante mistura de funk e hip hop que dá o tom perfeito para a composição sobre desejar quem talvez não seja o ideal. Outros momentos de destaques vão para a delicadeza melancólica de Expresso Sudamericah e a explosão de brasilidade no samba/rap de Estrangeiro. Espero realmente que Dolores Dala Guardião do Alivio seja uma das paradas para que Rico Dalasam possa chegar ao lugar que o seu talento parece o levar no futuro.
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