19 de julho de 2021

Primeira Impressão

Good Woman
The Staves



Nem sempre a ousadia consegue pagar às custas de mudar o foco de uma sonoridade já estabelecida. O quarto álbum do trio de irmãs The Staves é um ótimo exemplo desse problema: Good Woman tenta quebrar as expectativas do bom e velho folk, mas realmente funciona quando o resultado é tradicional.

Apesar de nunca ter ouvido nenhum trabalho das britânicas é fácil notar que a sonoridade construída até aqui sempre foi se baseando em referências sólidas e uma atmosfera que privilegiou o famoso ditado “menos é mais”. Em Good Woman, porém, fica fácil notar que as irmãs deram para o prestigiado produtor John Congleton total liberdade para alterar substancial a direção das suas canções. Sem alterar gêneros e, sim, estilo, o produtor adiciona uma camada pesada, reluzente e metódica de influências de indie rock, alt rock e indie pop para encorpar o folk/country do trio. Isso poderia ser uma ótima ideia se o resultado não soasse demasiadamente produzido em vários momentos. Tecnicamente ótima e sem nenhum problema de execução, Good Woman demorou demais para se conectar comigo em um nível pessoal devido principalmente a essas escolhas que parecem ir contra a essência do trio. Infelizmente, essa sensação permeia quase todo o álbum, deixando um forte sentimento de decepção que encolhe as possibilidades artísticas que o álbum poderia alcançar. Entretanto, existem alguns pontos realmente bons que merecem ser destacas com os elogios necessários.

A primeira delas é a excepcional harmonia vocais que as integrantes do The Staves mostram durante todo o álbum. Mesmo quando as canções não estão a altura, os vocais de Jessica, Camila e Emily Staveley-Taylor são simplesmente impecáveis e conseguem transitar entre todas as mudanças rítmicas de Good Woman sem perderem a qualidade. Em segundo, o álbum apresenta bons momentos nos instantes que a pomposidade da produção é deixada de lado para dar espaço para uma simplicidade natural. Em Next Year, Next Time, a batida envolvente resulta em canção indie rock/folk leve e ensolarada. As harmonias vocais de Nothing's Gonna Happen fazem a gente se arrepiar e se emocionar desde a primeira nota, mesmo com algumas decisões sonoras um pouco esquisitas para essa delicada balada indie/folk. A faixa Sparks parece emoldurar uma mistura de country pop e pop rock dos anos noventa com uma finalização suavemente deliciosa. Emocionalmente, Paralysed é a canção com maior força assim como também é que melhor funciona em questão da ousadia da produção ao começar como uma balada com vocais em off para se ganhar corpo total na sua parte final. Finalizando os destaques do trabalho está a vintage folk Failure e a sua composição densa e melancólica. Analisando com maior cuidado, Good Woman deve ser o tipo de álbum que funciona melhor sendo executado ao vivo durante um show, pois poderia ser melhor apreciado por sua criatividade instrumental e, claro, os vocais de The Staves. Como álbum, porém, o resultado é bem longe do que poderia se esperar dos talentos envolvidos.

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