27 de julho de 2021

O Cover do Cover

Gloria
Angel Olsen


Nem sempre encontramos toda a força de uma canção apenas durante os seus minutos de duração, mas, sim, no contexto que a envolve. Em Gloria, a cantora Angel Olsen entrega um cover envolvido em vários contextos diferentes para alcançar o seu verdadeiro poder.


Primeiro single de um EP com regravações de canções dos anos oitenta, Gloria é a releitura do sucesso de 1982 da cantora Laura Branigan que já tinha sido uma regravação do original do italiano Umberto Tozzi de 1979. Liricamente, a canção apresenta dois versões distintas, apesar de ter a mesma personagem principal. A original, o protagonista sonha com a tal Gloria e promete encontra-la na realidade para a livrar de todos os problemas. Já na regravação, a narradora adverte a personagem que tem problemas pessoais a tomar cuidado com os sentimentos das outras pessoas, pois o final da história sempre é o da solidão. Nessa segunda versão, o tom é mais sombrio e melancólico, indo na direção contrária da produção que entrega uma cativante e vibrante mistura de disco, synthpop e pop rock. E é dessa contradição que regravação de Laura Branigan ganha um lugar especial no panteão da cultura pop. Com Angel Olsen, Gloria ganhar contornos sonoros que acompanham de maneira alinhada a composição em inglês.

A produção dessa versão cria uma densa, madura e realmente sombria indie rock com toque de arte rock e leves pinceladas do synthpop original, criando uma base perfeita para a composição melancólica. Mesmo que perca esse interessante atrito entre forma e conteúdo, Angel Olsen consegue preencher essa lacuna devido a espetacular instrumentalização que aposta na utilização de instrumentos como, por exemplo, violinos para dar força a construção da atmosfera. Enquanto isso, a tocante performance da cantora é aprimorada pelo uso sábio de efeitos vocais que auxiliam a cantora a dar ainda mais sentido para a sua belíssima interpretação que transita entre o contido para o épico no seu clímax. Obviamente, ouvir Gloria na voz de Angel Olsen sem conhecer todo o seu contexto é uma experiencia única, mas tudo muda de patamar ao ter o conhecimento de como as coisas chegaram aqui.
nota: 8,5

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