London Grammar
Californian Soil, terceiro álbum da banda London Grammar, é o tipo de trabalho que fica quase impossível negar a sua qualidade em vários níveis, guardando algumas ótimas surpresas. Entretanto, também fica impossível não notar que tirando alguns problemas aqui e ali, o álbum poderia ter sido algo bem melhor que o seu real resultado.
E qual o problema que transforma um álbum tão bom em uma certa decepção? Trabalhando sempre em uma atmosfera que prefere entrar na nossa mente se esgueirando pelas rachaduras, Californian Soil não consegue encontrar um porto seguro para fixar lar e termina soando menos impactante que poderia. Apesar de ser uma escolha atmosférica da produção para todo o álbum, a sensação que passa é que existe toda um potencial desperdiçado pelo London Grammar de não chutar a porta para realmente deixar uma substancial trilha de emoções e sentimentos ainda mais potentes que a gente sente após ouvis os seus cerca de quarente e cinco minutos. Ouvir Californian Soil é como navegar em um mar calmo e constante que fica a vontade de tormenta para sacudir as coisas de forma excitante e inesperada. Como dito anteriormente, isso não quer dizer que o London Grammar não entregue um álbum realmente interessante.
Produzido inteiramente pelo trio com a colaboração de poucos nomes em algumas faixas, Californian Soil é um refinado, coeso e atmosférico mistura de synthpop/eletrônica que se comporta também como um trabalho de indie pop, especialmente nas suas composições. Um cuidado excepcional com a construção instrumental de cada canção ajuda o resultado final, pois cria uma intricada rede sonora que consegue mostrar boa parte das ricas e constantes nuances mudanças sonoras. Sem se ater em nenhum estilo fixo, mas trabalhando na delicadeza, London Grammar guarda um sequencia primorosa no seu “miolo” que já vale por quase um álbum completo. Começa por Lord It's a Feeling e a sua construção sombria e amadurecida que mistura synthpop com toques de pop rock e art pop para contar a história de um verdadeiro “boy lixo” de maneira poética. Em How Does It Feel, a banda entrega a faixa mais comercial com adição sutil de EDM na mistura synthpop, mas sem perder o tino artístico e a qualidade técnica. Então surge a ótima Baby It's You que “é uma auspiciosa, envolvente e graciosa pop soul com electropop, drum bass e eletrônico em uma batida elegante. Contida, mas longe de ser minimalista, a atmosfera quase dreamy ajuda a canção a ter um verniz que pode até soar massificado, mas é, na verdade, um trabalho de uma beleza simples e edificante” para culminar em Call Your Friends em que a performance assombrosa de Hannah Reid se mostra como a cola que une pontas soltas em Californian Soil.
Em todo o álbum, a vocalista é uma presença que transita entre o melancólico, o etéreo e o profundo sem perder rumo e acrescentando uma dose cavalar de emoção devido a sua voz encorpada e com um toque de mistério que funciona muito bem em qualquer momento que a produção constrói. Na verdade, as performances de Hannah é que eleva alguns degraus o resultado de Californian Soil, pois consegue pegar o poderia ser apenas ok e o transforma em uma canção realmente digna de elogios. No single Lose Your Head, “Hannah Reid dá o toque de classe essencial para que a canção funcione quando todas as suas partes estão juntas” para acrescentar uma dose de vigor em uma performance com toques de indie folk na pomposa Talking. E essa mesma Hannah soa como uma ninfa da floresta na faixa que dá nome ao álbum, a synthpop/indie Californian Soil. O álbum termina em um momento realmente interessante em America que dá guinada de 180° ao ser um trabalho com os dois pés no indie pop/rock, deixando de lado o synthpop de forma enigmática e auspiciosa. Uma prévia do que pode estar por vim? Não sei, mas espero que o London Grammar possa aparrar os erros vistos em Californian Soil para entregar o álbum que o trio tem a capacidade de produzir.
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