Laura Mvula
Todos os anos sempre surge um álbum que se encaixa perfeitamente na acunha de “melhor álbum que você não escutou”. Em 2021, o dono do título fica para o ótimo Pink Noise, terceiro álbum da britânica Laura Mvula.
Tudo fica ainda mais interessante ao notar a qualidade do álbum é lembrar que o primeiro single foi a canção Safe Passage que, apesar de boa, é a mais fraca do trabalho. Além disso, a canção não parece combinar com a atmosfera geral do álbum, criando uma bolha logo no seu começo que, felizmente, não atrapalha o rendimento final. O clima de Pink Noise é uma mistura eletrizante, inesperada e lindamente produzida de R&B, pop, funk e disco que transita perfeitamente entre o lado artístico e o comercial dos anos oitenta. A melhor definição para esse caldeirão suculento de sabores é como se fosse uma versão de Grace Jones encontrando a Pat Benatar com fortes toques de Prince, Chaka Khan e até mesmo Talking Heads. Pode até parecer uma mistura estranha, mas a produção do álbum faz funcionar como se fosse algum fácil, tendo como principal sustentação a força de Laura Mvula.
Apesar de conhecer o talento da cantora de outros carnavais, Pink Noise é a sua melhor e mais abrangente trabalho em que consegue mostrar todo o seu potencial ao ser uma deusa vocal e uma versatilidade incrível. Não há nenhum segundo que a presença de Laura não seja poderosa e completamente moldada para a proposta da canção, deixando a sua voz preencher o espaço cada espaço como se fosse o próprio ar. Acredito que a melhor maneira de notar o quanto especial é a presença de Laura é notar a diferenças performáticas entre Conditional e Church Girl. Na primeira, Laura embarca em performance densa e sombria para combinar perfeitamente com a produção art pop/R&B que usa de sons de percussões para dar a base para a cadencia instrumentalização. Logo em seguida literalmente, a cantora embarga em uma azeitada e cheias de nuances synthpop com toques de funk que invoca um sentimento deliciosamente de leveza e alto astral devido a sua ótima performance. Apesar de completamente diferentes, a fluidez entre as interpretações de Laura é a ponte que dá a fluidez para as canções de maneira natural. E isso é usado bastante, pois seria um desastre devido as mudanças de rumos de Pink Noise.
Sabendo como ser experimental sem perder esse rumo de ter sido baseado em sonoridades vindas nos anos oitenta, a produção da própria Laura ao lado de Dann Hume e, ocasionalmente, de Troy Miller consegue navegar em um oceano de referências sem nunca perder a linha do horizonte e muito menos o nível de qualidade que é apresentado. E o mais incrível é que em nenhum momento Pink Noise recaí na nostalgia barata ou na pastiche sem graça, mas, sim, na reverencia original. A batida aconchegante da balada R&B Magical caberia perfeitamente na voz de Chaka Khan, mas Laura cria a sua própria marca de maneira permanente. Em Remedy, uma funk com toques pesados de synthpop, a batida se torna sombria para combinar com a forte composição que toca em assuntos como, por exemplo, policia brutalidade e destruição da natureza. Dando nome ao álbum, Pink Noise apresenta uma batida dançante, enérgica e completamente envolvente que conquista desde os primeiros acordes. Golden Ashes é uma poderosa balada mid-tempo de R&B contemporâneo excepcional que abre caminho para o ótimo dueto com o cantor Simon Neil na synthpop What Matters. E, por fim, o álbum é fechado de maneira apoteótica com a presença da sensacional Before the Dawn. Ao elevar a sua sonoridade, Laura Mvula entrega um dos melhores álbuns de 2021, mas que muitos vão passar batido. Todavia, quem ouvir vai se deliciar com essa pérola que merece ser conhecida.
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