MØ
Devo admitir que nem sempre entro na escuta de um álbum da maneira mais imparcial possível, pois fatores externos podem influenciar e gerar um pré-conceito sobre o que deve encontrar. E é por isso que de vez em quando surge boas surpresas como é o caso de Motordrome, terceiro álbum da dinamarquesa MØ.
Apesar de acompanhar já tem algum tempo a carreira da cantora e sempre ter a achado um talento subestimado, o resultado de Motordrome é bem melhor que era esperado por mim, especialmente depois de ler criticas especializadas e a recepção de parte do público que foi em geral apenas morna. Todavia, ao ouvir o trabalho fui capaz de entender o motivo da recepção ter sido assim, pois o trabalho não é exatamente o mais extravagante que uma cantora pop poderia entregar. Entretanto, quando se presta bem atenção a produção final é fácil notar que estamos diante de redondo, carismática, cool e despretensioso trabalho pop. E Motordrome entrega basicamente essa coleção de qualidade do começo ao seu fim.
Essencialmente, o álbum é um trabalho refinado de synthpop que não chega ao ápice do gênero, mas passa bem longe de ser esquecível devido a precisão milimétrica que a produção adiciona as nuances para incrementar a sonoridade do álbum. Coeso e fluido, Motordrome é como o prato feito que a gente já conhece, mas que é temperado dos toques de especiarias que adiciona sabor diferentes sem perder a sua essência original. A adição de percussão a partir da segunda metade de Kindness, canção que abre o álbum, faz com que a canção se torne um abre alas perfeito, pois mostra toda a capacidade da produção e da cantora de mostrar que consegue seguir uma cartilha definida e, ao mesmo tempo, desenhar fora das linhas e com personalidade própria. “Ao não se apoiar na sombra direta de ninguém, MØ entrega em Live To Survive a sua versão da onda post-disco/dance-pop com uma moldura amadurecida e melancólica. Sem cair direto na influência, e, sim, dando pinceladas firmes, a produção acerta o tom em uma canção bem amarrada do começo ao fim que não explode sonoramente, mas envolve o público em braços quase irresistíveis”. Uma das costuras que arrematam o resultado de Motordrome é o vocal encorpada de MØ.
Dona de uma voz com um timbre único, rico e anasalado, a cantora tem uma potencia que não traduz a grandes notas, mas, sim, a grande presença. Em qualquer canção, a cantora apresenta uma maneira de cantar que se aproveitar de cada nota para criar momentos para mostrar a riqueza de sua voz em pequenos e marcantes momentos. Wheelspin é abastecido por essas marcas vocais. Buscando uma textura vocal que combine com a presença do melódico baixo, MØ entrega uma performance sombria, aguda e sinuosa que vai entrando nas entranhas da densa e comedida batida. Entregando uma bela e sentimental performance, a cantora se mostra mais tradicional ao entoar a balda mid tempo Goosebumps que brilha no instante que se manter minimalista quando poderia se reder aos clichês de uma canção do estilo. A climática Youth Is Lost é o tipo de trabalho que poderia facilmente cair no estado de filler, mas é salva de maneira sensacional pela magnética performance vocal que agrega uma interessante dinâmica para a faixa. Mesmo que seja recheado por fillers que deixam o resultado menos impactante que o desejando, Motordrome é um trabalho que merece ser apreciado na sua verdadeira faceta: um atestado da qualidade da MØ como uma artista definitivamente pop.
Nenhum comentário:
Postar um comentário