Xênia França
Com a morte de dois dos maiores nomes da história da música brasileira, Elza e Gal, em 2022, a indústria brasileira abre um imenso vácuo de presença, beleza e força que nunca será novamente preenchido. Felizmente, existem bons nomes que possam buscar caminhos próprios e amenizar essa falta como é o caso da baiana Xênia França. O seu segundo álbum, Em Nome da Estrela, é um acalento para os nossos corações machucados pelas perdas recentes.
Devo dizer que, apesar de ter gostado do álbum, Em Nome da Estrela não está em outro nível devido a faltar o momento de arrebatamento que o mesmo promete dedes o começo. Lindamente instrumentalizado e com uma produção que sabe muito bem criar toda uma atmosfera ideal para o mote central do álbum, o álbum não tem um ou mais momentos que tudo isso é elevado ao estado pleno e de graça que faz a quem ouve ser retirado do chão em estado de transe. Isso é um grande problema? Não, pois ainda é possível perceber a magistral construção da produção. O resultado final fica apenas com aquele famoso gosto de quero muito mais que impede de chegar ao esplendor. Deixando isso de lado, Em Nome da Estrela é elegante, envolvente e deslumbrante trabalho de uma brasilidade refinada e auspiciosa. E tudo isso é devido a força de Xênia França.
Dona de uma voz aveludada, melódica e deliciosamente brasileira, a cantora é a perfeita definição de diva em todo o seu estado de graça. A sua presença é tão forte e, ao mesmo tempo, reconfortante que deixa quem escuta completamente envolvido em cada nota que a mesma dá, independente de quem estilo que a mesma esteja entoando. É como se a voz da Xênia fosse o ar quente que enche o balão e o faz voar pelos ares, preenchendo cada lacuna das canções com uma personalidade radiante e essencialmente única. Se as todas as canções pudessem estar exatamente no mesmo nível da magnética presença da cantora, Em Nome da Estrela seria genial. Felizmente, como já apontei anteriormente, o álbum tem grandes momentos para ser descoberto e algumas surpresas.
Sonoramente, o álbum é uma mistura impecável de MPB/samba com doses preciosas de soul, R&B, art pop e jazz que o transforma em um trabalho multifacetado, mas que nunca perde a sua brasilidade. Com a sua essência na música negra nacional e internacional, o trabalho é deslumbro sonoro que se desdobra como uma tempestade silencia e impetuosa do começo ao fim. Um dos melhores momentos é logo na abertura com Renascer que parece ser um desague perfeito de todas as influencias da cantora em magistral e encorpada mistura de soul e MPB. Com uma pegada mais potente e marcante surge Futurível com uma batida que lembra o pop dos anos oitenta com toques de R&B. Em Ânimus x Anima, a cantora parece se inspirar na sublime e atemporal personalidade da Erikah Badu para criar um pequena e acachapante viagem. E o momento mais surpreendente é a jazz From the Heights em que Xênia encorpara quase espiritualmente a força de uma Billie Holliday para entregar uma performance espetacular. Outros momentos ficam por conta a essencialmente brasileira Dádiva e boa parceria com o Rico Dalasam em Já é. Em Nome da Estrela mostra que o futuro da música está nas mãos de gente com a capacidade incrível de uma Xênia França que, felizmente, tem muita estrada pela frente para se colocar no merecido panteão da música brasileira.
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