IZA
Terminei a minha resenha do álbum debut da Iza escrevendo dessa maneira: “Dona de Mim é um começo que soa mais como um presságio sobre o que o futuro guarda para a IZA e, queridos leitores, o futuro do pop brasileiro está em ótimas mãos”. Cinco anos depois, a cantora confirma essa minha previsão com o lançamento de AFRODHIT. A surpresa é que a mesma trilhou um caminho diferente do que se esperava.
Apesar de não ter sumido propriamente dito, pois, a mesma se manteve relevante com o lançamento de singles avulsos e suas aparições na TV, Iza não parece seguir a exatamente mesma cartilha que outras estrelas pop brasileiras atualmente. Isso porque AFRODHIT é facilmente um trabalho que tem diretrizes diferentes do que fazer canções para serem apenas possíveis virais para bobarem em redes sociais. Na verdade, o álbum tem uma completude ímpar que dá para entender que todas as canções tem sentido estético, lírico e pessoal para a carreira da Iza e, principalmente, pessoal. Depois do fim do seu casamento que não foi nada amigável, a cantora descartou um álbum finalizado para gravar novas canções que se adequassem com a nova fase da cantora. E isso é nítido ao ouvir o álbum em todos os momentos. AFRODHIT não necessariamente alcança os picos do Lemonade da Beyoncé, mas a comparação com entre os dois trabalhos é claro: uma volta as raízes musicais com uma excursão na sua negritude ao poder expiar as dores de um relacionamento. Para Iza é preciso colocar uma dose de divorcio complicado e uma tonelada de brasilidade para emoldurar o resultado final. E tudo é feito de maneira realmente louvável.
É preciso admitir que o álbum não é perfeito, mas apresenta um amadurecimento claro, refinado e gratificante em relação ao primeiro álbum, aumentando a sensação que Iza não procura as saídas fáceis e, sim, constrói as suas saídas ao lapidar a sua sonoridade de maneira realmente autoral. Por isso, AFRODHIT é na base uma mistura de pop e R&B, sendo incrementado por doses inspiradas e reluzente de afrobeats, hip hop, soul, rap e MPB que nunca parece ser artificial ou forçado. Na verdade, essa evolução sonora ouvida aqui é extremamente natural para a carreira da Iza e é feita de maneira tão sincera e dinâmica que até podemos esquecer alguns pontos que não estão na mesma altura do que o resto do álbum. É dessa sinceridade artística que ajuda a destacar ainda mais a Iza, pois, ao contrario de outras que tentam fazer a sua sonoridade ser a representante do Brasil na música, Iza consegue alcançar esse mérito de uma maneira natural, orgânica e iluminada. Novamente repito: AFRODHIT não é um acerto do começo ao fim. Existem alguns fillers que poderiam ter sido deixadas de lado e algumas pontas soltas em alguns lugares. Todavia, o que a produção alcança aqui tem veracidade sobre ser o que é a sonoridade de uma verdadeira diva pop brasileira.
Um dos melhores momentos do álbum é logo nos seus momentos inicias com a baladona R&B Nunca Mais em que a cantora começa a sua expiação amorosa em que a mesma declara de maneira afirmativa “Ou fica pra vida toda, ou pra nunca mais”. Iza muda o tom de dramático para raivoso para entoar a hip hop/pop Que Se Vá para literalmente lavar a roupa suja em um dos momentos mais incisivos do álbum sobre o seu divórcio:
Quis até o pote da cozinha, 'vê se pode? (E-ei)
Lembrei que cobra abraça antes de te dar o bote (E-ei)
Quando tava na pior, eu que tava contigo
10 milhões de dias, se eu cobrar, tu tá fo****
Apesar de ótimos momentos, as composições do álbum ainda são o dedão de Aquiles da discografia da Iza. Existe uma melhora clara, mas nem todas as canções tem a mesma graciosidade criativa que os melhores momentos do álbum. Falta complemento para elevar boas ideias para outro patamar que fique bem no luminoso limiar entre o artístico e o comercial. Tirando isso, Fé nas Maluca, single com a parceria da ótima MC Carol, é um exemplo de potencialidade que a lírica possui ao ter momentos ótimos em letra fácil e viciante. Outro momento nesse mesma pegada é sensual Fiu Fiu com a participação L7nnon. Um adendo sobre a música: mesmo não tendo achado nada referente, a canção parece ter usado sample do Ameianoite da Pabllo Vittar com a Gloria Groove, pois, se não, o refrão é um plágio bem na cara dura. Tirando isso, AFRODHIT é um álbum que realmente funciona não apenas devido a presença da Iza por trás dando direção e, sim, a sua magnética, versátil e brilhante força ao entoar todo o álbum. É bastante interessante e gratificante ouvir uma artista como Iza entoar canções tão diferentes com performance iguais sem abusar de efeitos vocais e dependendo apenas do “gogó” para entoar com a mesma vitalidade uma canção tão distinta como Terê para depois encarar uma balada classuda como Uma Vida é Pouco Pra Te Amar. Outros momentos que precisam ser exaltados é a deliciosa Boombasstic com participação de King e divertida Mega da Virada em dueto com Russo Passapusso. Ao finalizar AFRODHIT é preciso fazer outra profecia que com o resultado ouvido aqui é fácil perceber que a Iza se caminha para a ser uma das melhores artistas brasileira de todos os tempos.
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