Kelly Clarkson
Com uma carreira extremamente consolidada, a Kelly Clarkson entrou em uma nova fase da sua carreira: a maturidade plena. Sem alcançar o mesmo sucesso comercial de antes, a cantora apostou nos últimos tempos em seu programa de entrevistas que se tornou um sucesso, especialmente devido ao carisma da artista. Felizmente, Kelly ainda se foca na sua carreira musical que não é apenas um caça níquel irrelevante, mas, sim, o trabalho de uma artista que pensa no seu oficio de maneira cuidadosa, inteligente e criativa ao lançar o seu ótimo décimo álbum chemistry.
O álbum é vagamente um álbum conceito, pois, apesar de não ter uma finalização tão refinada para esse caminho, se mostra bem trabalhado no que a ideia de descrever todo o arco de um relacionamento do começo ao seu fim. Obviamente, o álbum é a reflexão/expiação/desabafo sobre o tumultuado divorcio da cantora com o seu ex-marido. E, queridos leitores, Kelly não deixa nada para a imaginação ao enfiar todos os dedos na ferida ao falar abertamente e sem muitos rodeios sobre o divorcio e os seus sentimentos. Isso ficou extremamente claro com o lançamento do ótimo single duplo mine e me: “de um lado, mine está a crônica sobre o coração quebrado e o relacionamento tóxico que a mesma estava quando casada. Do outro lado, me é a canção de superação em que a cantora encontrou o caminho para superar e seguir em frente. Obviamente, tudo poderia desandar para o clichê ou apenas ser mediano como os trabalhos das colegas citadas, mas, felizmente, Kelly volta com tudo ao entregar dois ótimas canções pop como a mesma já entregou várias vezes”. E o grande trufo é que, apesar de voltar ao assunto várias vezes, a qualidade lírica mostra o amadurecimento da artista ao ser sempre inteligente, muito bem pensada, autor referencial ao invocar trabalhos anteriores, sincera e, principalmente, sem nunca parecer um desfile de lamentações vazias. Na verdade, Kelly sempre soa tão honesta nas suas crônicas sobre corações quebrados, promessas vazias e lembranças agridoces que a mesma nunca parece nos cansar sobre essa sessão de terapia/desabafo que é chemistry. E não existe uma melhor condutora que a própria Kelly.
Obviamente, a cantora sempre foi conhecida pelo seu talento vocal desde a sua primeira vez que apareceu no American Idol, mas foi com o tempo que a mesma foi se transformando em mais que apenas uma grande voz para uma das maiores vozes da sua geração. E essa qualidade inunda todo o álbum, pois Kelly continua a carregar esse posto com louvor. Não é apenas sobre o alcance vocal, apesar de Kelly domina essa parte de maneira única, mas as texturas, nuances e a versatilidade que a cantora usa de maneira tão fluida e natural. E existe uma qualidade na persona da cantora que a acompanha desde a época do começo da sua carreira que é um dos elementos importantes para o seu sucesso e a sua imensa evolução vocal: a sua persona “girl next door”. Kelly emana uma sensação que mistura o fator de ser uma garota comum que poderia ser literalmente a sua vizinha e a impressiona da mesma ser fácil de compreender, fazendo a mesma criar um vínculo fácil com quem a escuta. Em chemistry, isso é a base fundamental para fazer a jornada da artista tão facilmente deglutível desde a primeira canção na excelente power balada pop Skip This Part. Sonoramente, o álbum é conduzido por Jesse Shatkin com algumas produções de Jason Halbert entregando um sóbrio, adulto, centrado e um pouco seguro demais trabalho de pop rock com pinceladas de pop soul, synth-pop, R&B e indie pop. Nada genial ou inovador, mas sempre seguro do material lírico, vocal e instrumental. Quando ousa levemente, o álbum entrega boas perolas como a delicinha Favorite Kind of High, coescrita por Carly Rae Jepsen, e a divertida pop rock/country Red Flag Collector. Outros momentos que merecem destaque são a poderosa High Road, a esperançosa Magic e, por fim, a emocionante Lighthouse. Kelly Clarkson conquistou com todo o louvor o seu lugar entre as grandes artistas pop de todos os tempos e chemistry é o resultado dessa caminhada aliando-se a vontade de continuar a evoluir.
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