13 de agosto de 2023

Primeira Impressão

PARANOÏA, ANGELS, TRUE LOVE
Christine and the Queens



Um dos artistas mais intrigantes dos últimos tempos é o Chris, mais conhecido pelo nome artístico de Christine and the Queens. E, sinceramente, o seu trabalho não está perto da perfeição, mas isso não parece estar no intuito do cantor já que parece que é da imperfeição que o mesmo busca inspiração. E no seu quarto e gigantesco álbum, Paranoïa, Angels, True Love, Cris entrega um dos mais complexos, ambiciosos, bonitos e marcantes álbuns pop dos últimos tempos. E que faz o álbum tão incrível é que o resultado é irresistivelmente imperfeito.

Para quem se “aventurar” nesse colossal álbum de vinte faixas e mais de uma hora e meia se prepare para realmente entrar em uma jornada dentro do mais puro suco da persona do artista. Não apenas o que melhor representa Chris, mas a sua versão mais refinada, grandiosa, inflada, intrigada e complexa. Na maioria das vezes, essa duração poderia facilmente ser o grande peso para a construção do álbum. Felizmente, a produção de Chris ao lado de Mike Dean monta um cenário tão bem construído e fluido que a sua duração é facilmente explicada e, principalmente, necessitada para dar conta da magnitude do cerne de Paranoïa, Angels, True Love. Inspirado na lendária peça Angels in America, sobre a pandemia da AIDS nos anos oitenta, o álbum é divido entre três partes como o nome sugere, ajudando a conectar toda a sua extensão de maneira bem harmonizada. Tenho que admitir que precisei escutar cada parte separadamente, pois seria complicado ouvir tudo de uma vez. Essa decisão foi ótima para entender com calma toda a plenitude do álbum, sendo possível ver suas qualidades e falhas claramente. O grande problema do álbum é a sua leve, mas persistente, sensação de pretensiosidade constante.

Não acho que o Chris seja um artista pretencioso, mas o álbum tem essa sensação que o permeia como uma fraca bruma que é deixada ser percebida quando a produção dá uma tropeça. Obviamente, um álbum tão grande é quase impossível manter a mesma qualidade em todas as faixas e isso não é problema. O que acontece é que quando dá uma abaixada na qualidade é fica nítido essa vontade demasiada de soar profundo e cerebral quando os melhores momentos de Paranoïa, Angels, True Love é quando tudo soa naturalmente emocional e fluidamente orgânico. E o principal momento de pura e indiscutível genialidade no álbum é genial Track 10. Com mais de onze minutos, a canção é um impressionante synth-pop/art pop/trip hop que se constrói lindamente devido a uma sensacional áurea quase como se fosse um fluxo continuo de pensamentos de Chris emoldurado por um instrumental operístico. Na verdade, a faixa encerra o melhor lado do álbum, Paranoïa, que ainda contem a magistral Tears Can Be So Soft, a lidíssima A day in the water e, por fim, uma das três parcerias com a Madonna em Angels Crying in My Bed. E falando em Madonna é necessário dizer que a presença da Rainha do Pop é ao mesmo tempo interessante e decepcionante.

Quando foi anunciado a presença da cantora no álbum em três faixas fiquei realmente excitando para ouvir qual seria o resultado. Então, após ouvir as três faixas, além da já citada ainda tem I Met an Angel e Lick the Light Out, fiquei frustrado ao perceber que a Madona apenas “declama” versos dentro das canções e não canta em nenhuma das canções. E isso é uma grande perda de oportunidade, mas é compensado pelo fato de as três canções serem realmente ótimas. Na verdade, os trabalhos são os melhores que a Madonna esteve envolvida em anos ao lado do remix de Break My Soul. Em especial, I Met an Angel é um verdadeiro banger synth-pop com indie pop/rock que faz a gente lembrar pesadamente dos grandes momentos da era Ray of Light. Sonoramente, Paranoïa, Angels, True Love parece beber das mesmas fontes da Madonna ao ser uma mistura impressionante de eletrônico, synth-pop, art pop, trip hop, indie pop e experimental com uma construção instrumental que flerta com o clássico pesadamente. Outro momento que se destaca durante essa viagem é a apoteótica He's Been Shining for Ever, Your Son e a performance impressionante de Chris. O artista é dono de uma voz melódica, delicada e com uma melancolia intrigada ao seu timbre. Não é exatamente potente, mas domina todas os altos e baixos do álbum, sabendo dosar bem os efeitos vocais para ser agregador de intenção para todas as canções. Paranoïa, Angels, True Love não é a carta magna de Chris ainda deve entregar no futuro. Entretanto, a sua concepção, criação e lançamento já mostra que o artista é um artista magistral em caminho para a glória.


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