JADE
28 de setembro de 2025
Uma Dose de Dor de Coração
Vodka Cranberry
Conan Gray
Conan Gray
Uma das melhores faixas de Wishbone, Vodka Cranberry se consolida como uma das grandes baladas do ano, evidenciando de forma clara todo o potencial vocal de Conan Gray.
Assim como o restante do álbum, a canção é um indie pop/pop rock maduro, estilizado e muito bem produzido, que reflete influências dos anos 1990 e 2000. O resultado é uma sonoridade ao mesmo tempo familiar e nostálgica, sem jamais soar datada — mérito da produção refinada de Dan Nigro.
O verdadeiro destaque, no entanto, está na performance de Conan: ele conduz a faixa desde um início delicado e contemplativo até um final grandioso, no qual seu imenso alcance vocal se revela por completo. O ápice de Vodka Cranberry é justamente essa construção climática, erguida “tijolo por tijolo”, até se transformar em uma perfeita tempestade emocional. A composição também merece elogios, pois explora de maneira inspirada a dor de um coração partido, refletindo com maturidade os dilemas da vida adulta do artista. No fim, a faixa se consagra como um dos melhores momentos da crescente carreira de Conan Gray.
nota: 8
Uma das Melhores
One of the Greats
Florence + The Machine
Florence + The Machine
Obviamente, eu já espero nada menos que excelência vindo do Florence + The Machine, mas, sinceramente, fazia algum tempo que uma canção da banda não tinha o mesmo impacto fulminante como a genial One of the Greats.
Segundo single de Everybody Scream, a canção entra diretamente no hall das melhores da discografia da banda e, também, no topo entre as melhores do ano. E acho que isso não é de surpreender, mas a canção supera devido à sua imensa e descomunal força emocional, em que tem possivelmente a composição mais crua, honesta e devastadora que escutei em anos.
One of the Greats é uma crônica genial sobre a percepção da nossa mortalidade (influenciada diretamente por uma experiência de quase morte da Florence em 2023) ao mesmo tempo que é uma visão aguçadíssima e destemida sobre o lugar da mulher na indústria da música. Assuntos profundos e espinhosos como esses não são territórios desconhecidos para a banda, mas aqui é algo que, sinceramente, encontra a perfeição lírica devido a como a Florence, ao lado de Mark Bowen, consegue fundir os assuntos tratados com uma fluidez impecável, criando uma narrativa robusta sem nunca soar pretensiosa, que vai se desenrolando em um soco no estômago atrás de outro.
E o grande ápice de uma composição já de qualidade altíssima é quando surge o melhor verso de 2026: “It must be nice to be a man and make boring music just because you can”. Eu dei uma lufada de ar misturada com uma risada sincera ao ouvir o verso. Sonoramente, One of the Greats é uma classuda, poderosa e marcante mistura de indie rock, art rock e gothic rock, com uma inspirada instrumentalização que carrega toda a força da composição sem dar espaço para vazios e, também, sem se sobressair a ponto de tirar o foco principal da canção. Florence entrega uma performance sensacional, como sempre, transmitindo toda a emoção crua da sua composição sem exageros e sem fugir também da melancolia e da acidez.
One of the Greats já vem com o nome perfeito, que indica o seu lugar no panteão da discografia do Florence + The Machine.
nota: 9
Única
Cheap Hotel
FKA twigs
FKA twigs
A carreira da FKA twigs é, possivelmente, uma das mais imprevisíveis da música atual, já que a cantora sempre consegue surpreender a cada novo lançamento. E esse é o caso de Cheap Hotel.
Primeiro single de Eusexua Afterglow, continuação de Eusexua, a canção retoma a faceta mais experimental da artista em sua exploração do eletrônico. No entanto, é preciso admitir que algo não conecta tão bem aqui quanto se poderia esperar. A principal razão para isso está na quebra sonora causada pela repetida inserção de um verso com a voz distorcida da cantora, que não flui de maneira natural quando surge no meio da faixa. No início e no final, a escolha funciona bem, mas no trecho central acaba deixando a canção um pouco truncada.
Felizmente, Cheap Hotel ainda carrega a marca de qualidade de twigs, resultando em uma mistura suntuosa, contida e envolvente de trip hop com art pop e, principalmente, ambient. Essa combinação não só dialoga diretamente com a sonoridade do álbum anterior, como também adiciona novas camadas ao que está por vir. Mesmo com um leve tropeço, FKA twigs continua sabendo como aguçar o paladar musical de forma única.
nota: 8
Doce & Belo
Moon
Daniel Caesar
Daniel Caesar
O sucesso de SZA e Kali Uchis deixa uma lacuna para que um contemporâneo masculino ocupe o mesmo espaço. Um forte candidato é Daniel Caesar.
Preparando-se para lançar seu quarto álbum, o cantor apresentou a linda Moon, em que explora uma vertente que facilmente poderia se tornar um sucesso comercial. Uma contemplativa, delicada e melódica faixa de alternative R&B com elementos de neo-soul, a canção tem como ponto forte um intricado e inspirado instrumental que nos envolve completamente com sua melodia tocante e aveludada. Essa impressão se torna ainda mais interessante quando descobrimos que a banda Bon Iver é diretamente responsável pela instrumentalização da faixa, fazendo o single ganhar uma nova dimensão.
A interpretação contida de Daniel, mas ao mesmo tempo pungente e inspirada, é outro grande acerto da canção, já que sua voz dá claramente a impressão de ter nascido para esse tipo de trabalho. Infelizmente, Moon apresenta uma composição que poderia ser mais complexa em sua extensão, ainda que seja muito bem escrita. Uma canção que merecia ser um hit, mas cuja existência por si só já é suficiente.
nota: 8
21 de setembro de 2025
Triunfal
WHERE IS MY HUSBAND!
RAYE
RAYE
É tão reconfortante ver gente de talento colhendo de verdade os frutos do seu trabalho. Um dos melhores casos disso é o da Raye que, depois de anos negada e impedida de mostrar seu potencial, tornou-se um caso de sucesso após o hit mundial Escapism.. Agora, a cantora está de volta com o seu segundo álbum e, como primeiro single, lança a sensacional Where Is My Husband!.
A canção é um trabalho que, atualmente, apenas a Raye parece capaz de fazer e ainda ser relevante comercialmente — e isso é algo extraordinário. Produzida pela cantora ao lado de Mike Sabath, a faixa é uma magnífica, explosiva, refinadíssima, graciosa, dançante e mágica mistura de pop soul, R&B, big band, jazz e neo-soul que resulta em uma das canções mais refinadas e brilhantes do ano. Nem de longe eu achava que a Raye seria capaz de entregar algo como Where Is My Husband!, mas, novamente, sua imensa capacidade artística é de cair o queixo devido ao quanto intrincada é a construção da canção e, ao mesmo tempo, por ser um trabalho que conquista desde a primeira escuta.
E uma música tão poderosa só poderia ter uma intérprete à altura da Raye para carregar com maestria genial toda a complexidade da faixa, que, ao misturar tantos estilos e gêneros, precisa de uma performance capaz de captar exatamente toda a aura da canção — que tem esse toque vintage sem soar datada e um toque moderno sem perder o senso de inspiração. E é isso que a Raye entrega aqui, pois, não apenas tecnicamente, a cantora apresenta uma performance de tirar o fôlego, tão poderosa, estilosa e graciosa.
A composição, que mistura um senso de humor tongue-in-cheek com uma crônica sincera sobre a procura do amor e com uma estética perfeita, colabora para a verdadeira impressão de que estamos diante de uma das melhores artistas contemporâneas. Tudo isso é ainda mais incrível ao notar que a Raye é uma artista independente, mostrando que ainda existe lugar para o talento puro.
nota: 9
O Flop Genial
Secrets
Miley Cyrus, Lindsey Buckingham & Mick Fleetwood
Continuando a sua melhor era, Miley Cyrus lança a versão deluxe de Something Beautiful com o single Secrets.
Com participação no instrumental de Lindsey Buckingham e Mick Fleetwood, lendários integrantes do Fleetwood Mac, a canção é um classudo, maduro, lindo e cativante soft rock com elementos vintage que nunca chegam a soar datados. É uma bela reverência ao gênero feito nos anos 70 e 80, especialmente pelo próprio Fleetwood Mac. Com um instrumental impecável, Secrets é o veículo perfeito para Miley, que entrega uma performance apaixonada e vigorosa, em que seu timbre distinto funciona como a cereja do bolo. Liricamente, a faixa segue a mesma linha das demais canções do álbum: simples e direta, mas com um cuidado emocional notável e de impacto claro. É uma pena que a melhor era de Miley também seja um flop, mas um fracasso com essa imensa qualidade é para poucos — e isso, sem dúvidas, é algo invejável.
nota: 8,5
2 Por 1 - IZA
Caos e Sal
Tão Bonito
IZA
IZA
Depois de um hiato em que, infelizmente, sua vida pessoal acabou mais exposta do que sua vida artística, Iza está de volta com o lançamento de dois singles: Caos e Tão Bonito.
Seguindo a linha reggae, ambas as canções são bons trabalhos que funcionam graças à imensa presença da cantora, capaz de elevar qualquer material. Das duas, Caos se destaca como a melhor, já que sua batida traz uma mistura mais marcante de reggae com afrobeats e pop, com a cara de um potencial hit para Iza. Apesar de não ser ruim, Tão Bonito é claramente menos impactante, soando como uma sensual mid-tempo dancehall com reggae e afrobeats que lembra algo que poderia ser lançado por Tyla. Na voz da Iza, porém, o resultado parece menor diante de todo o potencial que a artista tem para oferecer, soando até um pouco limitada aqui. Espero que Iza consiga entregar um trabalho à altura de seu talento — um trabalho que fale por si.
notas
Caos e Sal: 7,5
Tão Bonito: 7
As Não Sabrinas
Whatever You Like
Dove Cameron
Dove Cameron
Com o imenso sucesso de Sabrina Carpenter, fica a dúvida sobre como estão as cantoras da mesma geração que ainda não tiveram a mesma sorte. Esse é o caso de Dove Cameron, que não parece ter encontrado o bilhete para o sucesso com a simpática Whatever You Like.
A melhor definição para a canção é justamente essa: simpática, mas sem ir muito além. Isso tem seu lado positivo, já que a faixa consegue transmitir um carisma tímido e fofo ao apostar em um synth-pop/dance-pop bem produzido, com uma batida contida e radiofônica. Porém, também revela o lado negativo: a música não imprime nenhuma personalidade marcante, tornando sua existência bastante esquecível.
O ponto alto de Whatever You Like está em sua composição romântica, inteligente e delicada, que consegue expressar bem a proposta da canção e ainda traz um toque extra de criatividade para se destacar. Vocalmente, Dove é até uma cantora interessante, entregando uma performance doce, mas que carece do vigor necessário para realmente se sobressair na multidão. Assim, Dove Cameron ainda não encontrou o seu “Espresso” nas mãos.
nota: 7
As Não Sabrinas - Parte II
yes baby
Madison Beer
Madison Beer
Outra contemporânea de Sabrina Carpenter que ainda está em busca do pote de ouro é Madison Beer. Não que eu veja seu novo single, “yes baby”, como essa grande relíquia, mas ele tem valor no fim das contas.
Melhor canção da cantora até agora, o single é uma mistura divertida e bem construída de dance-pop, tech house e electropop. O principal mérito está na fluidez entre a produção dançante — quase farofada — e os vocais sedosos e aveludados de Madison, que criam uma textura interessante e dão mais personalidade a “yes baby” do que se poderia esperar.
Ainda assim, falta algo que deixe claro que a música seja de fato uma obra dela. A produção tem um toque que facilmente poderia ser associado a qualquer outra artista de características semelhantes. E isso acontece mesmo com Madison entregando uma performance bastante competente. Não parece ter o potencial para ser um grande estouro, mas pode muito bem marcar o início de uma possível reviravolta na carreira da cantora.
nota: 7,5
14 de setembro de 2025
Uma Boa Canção Falha
Mad
Reneé Rapp
Reneé Rapp
Uma das melhores canções de BITE ME, o single Mad deixa bem claro todo o potencial de Reneé Rapp. Também evidencia que, com um material melhor, a artista teria seu talento plenamente explorado.
Uma assertiva e interessante mistura de pop rock com indie rock e pop punk, a faixa reúne todos os elementos no lugar certo, resultando em uma boa canção que só carece daquele empurrão final. Acredito que a falta de ousadia na produção faz com que Mad estagne em um território seguro demais, transmitindo a sensação de que ainda falta algo. Felizmente, a produção também é madura o suficiente para conferir personalidade à construção inteligente do instrumental, aliando-se à esperta e ácida composição sobre a frustração de um romance que não deu certo. O grande destaque da faixa, no entanto, é a presença confiante, elegante e de personalidade cativante de Reneé. Se a cantora já brilha aqui, imagine quando estiver totalmente no caminho certo?
nota: 7,5
O Renascimento da Kim
Freak It
Kim Petras
Kim Petras
Estaríamos diante do renascimento de Kim Petras? Isso ajudaria a explicar o resultado da ótima Freak It.
Uma das melhores canções solo da cantora, o single é uma fusão excitante, elétrica, eletrizante e explosiva de electropop, EDM, hyperpop e electro house. Não há nada de realmente novo em sua construção, mas tudo é feito na medida exata para extrair o melhor de cada gênero utilizado. Não é apenas um “arroz com feijão” bem feito, mas sim o senhor arroz com feijão da melhor qualidade.
Outro grande mérito de Freak It é não exagerar nos efeitos sonoros típicos desses estilos para parecer “estilosa”, mantendo-os na medida certa para transformar a faixa em um delicioso banquete pop. Com uma letra perfeita para o estilo da canção, Kim entrega uma performance magnética que a coloca no mesmo nível de qualquer coisa saída da era Brat. Uma pena, porém, que a música provavelmente não terá o mesmo reconhecimento comercial. Ainda assim, para a carreira de Kim, trata-se de um lançamento que realmente merece ser elogiado.
nota: 8
Inofensiva Boa
Cry about it!
Kali Uchis & Ravyn Lenae
Kali Uchis & Ravyn Lenae
Dona de um dos melhores álbuns do ano, Kali Uchis se prepara para lançar a versão deluxe de Sincerely, que tem como primeiro single a agradável Cry About It!
Com o selo de qualidade da artista, a canção segue o estilo do álbum, sendo uma melódica, suntuosa e aveludada mistura de R&B, soul e doo-wop, mas que fica levemente um passo atrás dos grandes momentos do trabalho recente da cantora. Isso, porém, não significa que Cry About It! não seja uma ótima canção, pois é fácil perceber o cuidado da produção ao construir uma faixa tecnicamente impecável, com um refinado instrumental e uma melodia cativante.
Todavia, o grande trunfo da música é a sempre iluminada presença de Kali, que novamente entrega uma performance inspirada. A suculenta participação da talentosíssima Ravyn Lenae poderia ser mais substancial, mas sua presença é outro acerto, ao injetar ainda mais refinamento na canção. É um trabalho menor dentro da discografia de Kali, mas ainda de qualidade inegável.
nota: 8
The Slayyyter Horror Picture Show
CANNIBALISM!
Slayyyter
Slayyyter
Depois de dois grandes lançamentos com No Comma e, mais recentemente, BEAT UP CHANEL$, a Slayyyter dá uma leve freada na qualidade com CANNIBALISM!. Entretanto, a canção ainda se mantém muito acima da média.
A grande qualidade da faixa está na mudança sonora: um mid-tempo alternative dance com forte influência de post-punk, que resulta em uma música que não chega a estourar, mas que parece ter saído de um tributo ao clássico The Rocky Horror Picture Show. É fácil perceber como a construção de CANNIBALISM! dialoga com o contexto sonoro do musical, graças à produção estilizada e carismática, com um toque macabro e humorístico.
Felizmente, a faixa está longe de soar datada, pois traz um verniz contemporâneo que a faz estranhamente fazer sentido dentro do que a artista tem apresentado nos últimos tempos. E, falando em Slayyyter, a cantora entrega uma de suas performances mais diferentes, adaptando-se perfeitamente ao estilo da canção sem perder a ousadia e a personalidade que sempre marcam sua interpretação. Mesmo não estando no nível dos trabalhos mais recentes de Slayyyter, a canção ainda carrega a marca inegável da artista.
nota: 8
2 Por 2
Here All Night
Demi Lovato
Demi Lovato
Tenho que admitir que estava meio preocupado com a nova era da Demi Lovato, apesar do ótimo começo com Fast. Felizmente, minhas impressões melhoraram com outro acerto no lançamento de Here All Night.
Comprovando que esta é a volta da cantora para o pop, o single é uma cativante e divertida faixa de synth-pop/dance-pop com elementos eletrônicos, que funciona bem devido à produção certeira em entregar uma farofada bem temperada. É nesse entendimento da produção sobre qual é a proposta de Here All Night que reside sua maior qualidade: não querer ser mais do que é, mas também deixar bem claro um entendimento exato sobre o seu propósito.
Novamente, assim como no single anterior, o clímax final da canção é menos interessante do que poderia ser, mas, felizmente, isso não chega a ser um grande problema, especialmente com a ótima presença da Demi em uma performance precisa e carismática e com a composição bem acima da média. Assim, Demi volta ao pop em sua melhor forma possível.
nota: 8
7 de setembro de 2025
Funk Pop
Girlie-Pop!
Amaarae
Amaarae
Mesmo não sendo uma das melhores canções de Black Star, Girlie-Pop! mostra toda a reverência e o respeito que a produção dá ao uso do funk na construção da sonoridade da Amaarae.
E a maior delas é ter convidado nomes brasileiros e com experiência para coproduzir a canção: a dupla Deepakz e o produtor Maffalda. Isso não apenas confere originalidade à faixa, como também injeta personalidade verdadeira no uso do gênero. O resultado de Girlie-Pop! não é exatamente ousado, pois parece seguir certa cartilha sobre a introdução do funk a outros gêneros, como o dancehall, house e electropop. Todavia, existe um claro refinamento para que o resultado seja divertidíssimo e carregue a personalidade única da cantora e do álbum. O problema da canção é que, com apenas dois minutos, não há tempo para que a batida estilizada realmente exploda de uma maneira que a eleve a um novo patamar, deixando um gosto de quero muito mais da faixa. De qualquer forma, Girlie-Pop! é um exemplo ideal e perfeito para o futuro do funk no pop mundial. Que assim seja!
nota: 8
A Evolução Urias
Deus
Urias & Criolo
Urias & Criolo
Começando a divulgação do seu próximo álbum (CARRANCA), Urias lança como primeiro single a sensacional Deus, ao lado de Criolo, mostrando que sua nova era promete ser a sua elevação artística definitiva.
Já com uma sólida discografia, a cantora dá aqui um passo importante e nítido para chegar a um patamar ainda mais alto. Isso se deve à incrível construção da canção, que consegue ser a continuação do que ela mesma já entregou e, ao mesmo tempo, uma versão mais madura e refinada, resultando em uma estilosa, potente, única e magistral mistura de art pop, afrobeats, post-industrial, hip hop, latin pop, hard rap e música tradicional brasileira. Esse caldeirão poderia facilmente ter dado errado, mas, felizmente, Deus tem uma produção que não apenas liga perfeitamente os pontos como também funde todas essas influências de maneira irretocável e, em diversos momentos, sinceramente brilhante.
Os dois principais momentos ficam por conta do uso inteligentíssimo do sample de Soca Pilão, da lendária Inezita Barroso, que dá a excêntrica e marcante base da canção, e da quebra de expectativa com a ponte entoada em um instrumental acústico por Urias. É interessante notar que, na verdade, Deus poderia ser uma canção com ainda mais substância, já que sua sólida base “aguentaria” novas camadas sem perder qualidade ou soar excessiva. Mesmo sem alcançar grandes notas, Urias entrega uma performance avassaladora, sabendo usar seus atributos da melhor maneira possível e ainda demonstrando uma versatilidade ímpar.
A participação de Criolo poderia ser mais substancial, mas sua presença ainda é outro ponto auspicioso para a canção. Liricamente, a faixa é forte, urgente e ácida ao abordar o apagamento da cultura e religião dos povos africanos durante o período colonial — ainda que pudesse ser, tecnicamente, mais refinada em certos momentos. Todavia, esses pequenos problemas não impedem que Deus seja, com todo louvor, uma das melhores canções brasileiras de 2025.
nota: 8,5
O Single Filler
The Dead Dance
Lady Gaga
Lady Gaga
Com a já vitoriosa era Mayhem, Gaga lança a versão deluxe do álbum, tendo como single The Dead Dance. Uma canção que é claramente um ótimo filler, mas não tem força para ser single.
Tema da nova temporada da série Wandinha, em que a cantora faz uma participação, a canção segue à risca a cartilha do álbum ao ser uma vistosa, estilizada e dançante synth-pop com influências de nu-disco, dark pop e electropop. A faixa tem todos os elementos dos melhores momentos do lançamento original, mas, infelizmente, fica alguns passos atrás por carregar com mais força essa áurea de ser um filler de qualidade — mas ainda assim um filler.
O principal problema de The Dead Dance é a sua construção depois da abertura. Os primeiros versos são rodeados por uma sonoridade mais densa e sombria, fazendo a gente acreditar que o resto da canção seguirá nesse mesmo caminho, aumentando apenas a grandiosidade. Todavia, o que se segue é a transformação da batida em algo mais rápido, ligeiro e menos impactante, especialmente no morninho refrão. Além disso, a composição também deixa a desejar em sua segunda parte, com um segundo verso de apenas duas linhas. E olha que, tematicamente, a canção poderia estar a par de Abracadabra.
O que se mantém intacto é a performance sempre sólida de Gaga, que injeta personalidade quando a canção vacila. É uma faixa que poderia ser melhor finalizada, mas é um filler com qualidade indiscutível — só não funciona como single.
nota: 7,5
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