11 de julho de 2018

Primeira Impressão

Scorpion
Drake


Fortificando cada vez mais o seu nome com um dos principais nomes masculinos dessa geração, o rapper Drake chega o seu quinto álbum com uma noção exata sobre a sua sonoridade e, principalmente, sobre o que funciona para o seu público. Scorpion ainda não é a grande obra que um nome como o do rapper pode e deveria entregar, mas mostra que os seus pontos fortes estão melhores do que nunca.

A primeira grande qualidade de Scorpion é o fato de Drake pegar uma das suas fraquezas e reverter em uma decisão acertada: sempre entregando trabalhos com um número grande de faixas, Drake, dessa vez, dividiu as faixas em dois lados em que cada um apresenta significativas diferenças. O "lado A" é reservado para o lado rap/hip hop de Drake, enquanto o "lado B" foi deixado para a persona "cantor" do artista em canções R&B/soul. Até pode parecer pouco importante essa decisão, mas é o contrário já que mostra a confiança do rapper em lançar um álbum duplo nesses dias e a uma consciência sonora melhor apurada. E essa divisão funciona melhor que o esperado, pois dá para Scorpion uma personalidade definida e sólida.


A primeira parte de Scorpion mostra Drake mais afiado que uma espada de samurai ao atirar para todos os lados da sua vida. Dono de uma escrita sem muitos floreios e uma honestidade polêmica, o rapper não teve medo de "responder" a todas as questões que envolvem a sua vida recentemente. Seja sobre as tretas com outros rappers ou a sua recém descoberta paternidade, Drake estava disposto a colocar tudo para fora sem amarras e com um tino criativo no ponto exato. Entretanto, ainda não está tudo perfeito. Ao lado de uma dezena de colaboradores, Drake ainda não parece ter encontrado plenamente o seu melhor, pois nenhuma das faixas tem algum momento de pura genialidade. De qualquer forma, boa parte do que falta para chegar ao seu ápice é compensando pelo certeiro e pontual "flow"em que o rapper entoa cada faixa, impondo a sua personalidade do começo ao fim. Ouvir uma faixa do rapper é de fácil identificação, ajudando ainda mais a popularização do artista. Sonoramente, essa parte é, resumidamente, um bom e sólido álbum de hip hop/rap, sendo valorizado pela talentosa equipe de produtores e uma instrumentalização encorpada que distância bem do atual simplismo do gênero. Os melhores momentos aqui ficam por conta de Nonstop, a inspirada Sandra's Rose e a parceria com o Jay-Z em Talk Up. Entretanto, o melhor momento fica por conta de uma inesperada Emotionless em que a produção usa sample de um remix da canção Emotions da Mariah Carey para dar o tom da faixa.

A segunda metade de Scorpion tem como personagem principal o soul man Drake. Deixando de lado o cara pronto para mandar as verdades sobre seus problemas, o aqui cantor Drake entrega uma coleção de agradável de canções românticas de R&B/soul/hip hop que falam sobre amor, sexo, autoestima, empoderamento, desilusões, traições e relacionamento conturbados. Não é exatamente o melhor álbum romântico do mundo, principalmente que a produção poderia ter sido beneficiada pela adições de algumas participações especiais assim como na sensacional Nice For What (que na verdade nem se encaixa nessa parte, nem na primeira, mas é a melhor faixa do álbum) para não deixar tudo nas mãos do Drake. Como cantor, o rapper tem a sua personalidade única, apesar de não ser o melhor cantor que poderia existir. Honestamente, Drake como cantor é um ótimo rapper, mas isso não impede dele entregar boas performances como em Summer Games e em Jaded que mais parece uma faixa do The Weeknd. A "decepção" aqui é por conta da "parceria" póstuma com o Michael Jackson em Don't Matter To Me que usa a mesma seção de gravação de 1984 com o cantor Paul Anka que gerou Love Never Felt So Good. A faixa não é ruim, mas soa forçada e desnecessária. No lado positivo, outros bons momentos ficam por conta de In My Feelings e After Dark com a presença de Static Major e Ty Dolla $ign. No final das contas, Scorpion é um bom álbum que deve vender horrores, não agradar muitos e ajudar o Drake a fincar ainda mais os pés na história da música.


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