18 de julho de 2018

Primeira Impressão

Lost & Found
Jorja Smith


Ouvir um álbum de um artista estreante é como desembrulhar um presente no Natal: apesar de dezenas de expectativas, a gente pode nunca saber se vai gostar ou não do conteúdo e, principalmente, qual será a nossa reação. Felizmente, após ouvir o debut da britânica Jorja Smith a reação não poderia ser melhor, pois Lost & Found é uma deliciosa surpresa em 2017.

Sem ter muita noção do que esperar exatamente de Jorja, pois o único contato que tive com a jovem de apenas 21 foi o single Let Me Down que nem entrou para o álbum, foi com grande felicidade que ao terminar de ouvir o álbum tive a sensação que estava diante de uma artista promissora e de um talento raríssimo. Jorja é dona de uma voz impressionante e de um timbre magnifico que, ao mesmo tempo, lembra as grandes cantoras de soul/jazz e a vibe de cantoras modernas, mais especificamente as da vertente neo soul. Jorja Smith é uma cantora capaz de proezas que quase não vemos atualmente. Capaz de ocupar espaços dentro da canção que poucas cantora tão jovens parecem ser capazes. Capaz de derreter manteiga apenas com uma nota no momento certo. Capaz de transitar entre vários estilos com graça, elegância e personalidade, indo de baladas acústicas para canções mais urbanas que precisam da cantora mostrar o seu lado rapper. Capaz de emocionar com performances seguras e contidas, mas com uma força emocional desconcertante. Lost & Found é um álbum de uma cantora ainda muito jovem, mas que tem um instrumento feito nas forjas celestiais. Ouvir a tocante Tomorrow e não se emocionar é apenas para aqueles feitos de pedra. Ouvir Lifeboats (Freestyle) e não sentir a mesma vibe de uma Lauryn Hill é para apenas os ignorantes. Ouvir Lost & Found, faixa que dá nome ao álbum, e não ter flashbacks do ápice do neo soul nos anos noventa é apenas para aqueles sem memória. E ainda nem estamos falando de um álbum que pode ser considerado genial.

Lost & Found é primordialmente um álbum R&B, mas que se beneficia de flertes substanciais de neo soul, pop e trip hop, criando uma sonoridade sofisticada, moderna, respeitosa com as suas influências e sendo uma perfeita "cama" para receber todo o talento de Jorja. Entretanto, a produção parece presa a velhos conceitos de como produzir um álbum com essa pegada ao não se aprofundar em vários momentos, deixando aquele gosto de quero mais em algumas parte. É um medo compreensível, pois estamos falando de uma artista novata e qualquer erro estratégico de maior impacto poderia ser fatal, mas esse cozimento em banho maria tira da cantora a possibilidade de ter entregado um álbum genial, especialmente na sua primeira metade. De qualquer forma, a beleza delicada que a produção construí cada faixa é tocante e da metade para frente é um verdadeiro achado de pura inspiração, começando pela avassaladora Wandering Romance com a sua batida sensual, cadenciada e envolvente em que podemos perceber o talento de compositora de Jorja. Apesar da pouca idade, a cantora mostra um belo e comovente lirismo ao tratar de assuntos "adultos" como paixões avassaladoras, amores despedaçados, romances açucarados e até mesmo violência urbana e problemas sociais como mostra a sensacional neo soul/trip hop Blue Lights. Outras faixas de destaque no álbum ficam por conta da tristonha Don't Watch Me Cry, Where Did I Go?, The OneGoodbyes. E assim como um ótimo presente, Lost & Found é para se apreciado bem depois de desembrulhar esse presente antecipado de Natal dado pela Jorja Smith.


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