Chloe x Halle
O lançamento do primeiro álbum sempre é um passo extremamente delicado para um artista. Nem sempre o resultado final é aquele desejado pelo artista, pois precisa de várias formas agradar os desejos e as expectativas da gravadora. Ás vezes, apesar de ter uma visão sobre quem é artisticamente, muitos iniciantes ainda se perdem na busca da sua identidade, resultando em um trabalho que fica aquém das expectativas. Todavia, de tempos em tempos, quando as estrelas estão alinhadas de certa maneira especial, aparece um artista que consegue superar quaisquer obstáculos para oferecer uma verdadeira pérola musical. Esse é o caso da dupla de irmãs Chloe x Halle que lançou esse ano o sensacional The Kids Are Alright.
Apadrinhadas pela Beyoncé e contratadas pela sua gravadora, a Parkwood, Chloe e Halle Bailey já tinham mostrando uma previa do eram capazes no lançamento do EP Sugar Symphony em 2016. E foi apenas uma previa mesmo, pois em The Kids Are Alright é que podemos ouvir e contemplar plenamente todo o potencial e beleza artística das jovens de apenas vinte (Chloe) e dezoito (Halle) anos. A primeira coisa que se deve notar no álbum é a liberdade que a dupla teve para construir o álbum já que todas as canções possuem créditos de ambas como compositoras e treze das dezesseis faixas tem produção assinadas por elas, principalmente da mais velha que também assina seis canções sozinha como produtora. Para artistas novatas isso é uma realização impressionante, mostrando total confiança da gravadora nelas. Esse quase total controle sob o trabalho aliado um senso artístico apuradíssimo ajuda a criar uma sonoridade única para a dupla, sendo algo totalmente raro para artistas em apenas o seu primeiro trabalho. É dessa liberdade que surge um dos álbuns mais interessantes de 2018 até o momento.
Tente imaginar uma mistura da sonoridade das Destiny's Child misturada com o da Janelle Monáe com toques floridos da Florence + The Machine, mas que, felizmente, Chloe x Halle conseguem entregar algo que seja único e cheio das suas personalidades sem soar parecido com nenhum outro artista. Nomeado a sonoridade de The Kids Are Alright é meio complicado, pois as jovens transitam perfeitamente entre limites de gêneros com graça e elegância impressionante. O que mais se aproxima seria definir como um revigorante, corajoso, iluminado e inteligente trabalho de R&B/indie R&B/pop que se alimenta de vários subgêneros para gerar essa sonoridade de cair o queixo com texturas, cores e nuances que apenas enriquecem o resultado final. Coesa do começo ao fim, cativante como poucos artistas da mesma geração, madura na media certa e com uma impressionante finalização técnica, The Kids Are Alright é o tipo de álbum que a gente escuta com espanto e genuinamente felizes por estarmos tendo a oportunidade de ouvir algo tão bom. Logo no começo já podemos sentir essa força que emana das duas artistas com as duas primeiras faixas: a introdução acachapante em Hello Friend e o vigor da que dá nome ao trabalho The Kids Are Alright que, na verdade, soam mais como apenas um genial faixa.
Chloe x Halle é o tipo de dupla que não são apenas boas compositoras/produtoras, mas são excepcionais cantoras. Ambas com timbres delicados e doces, mas que apresentam notáveis diferenças entre maneiras de como usam os seus instrumentos vocais. Com uma voz apenas, as duas tem uma harmonia fantástica. Todavia, o melhor é que elas parecem procurar se diferenciarem, mostrando personalidades diferentes e cantando mais tempo em solos sendo acompanhadas pela presença uma da outra do que cantarem em apenas "uma voz". Esse é outro aspecto que dá a imensa personalidade para a dupla como é caso da sensacional indie pop/soul Babybird em que elas também mostram influência old school. Apesar de ainda muito jovens, a dupla mostra uma maturidade espantosa para falar de assuntos com solidão, empoderamento, felicidade, amor e amadurecimento de forma tão profunda e emocionante com é o caso da linda Cool People que tenho quase certeza que tem sample da melodia de I'll Be There dos The Jacksons 5. O único problema do álbum é a quantidade de faixas: 16 ao todo. Em uma versão "editada" com talvez dois ou três faixas a menos o impacto do resultado final seria ainda mais arrebatador. Outros grandes momentos do álbum ficam por conta da fofíssima Happy Without Me com a presença do rapper Joey Bada$$, a animada Grown, a inspirada em trap music Everywhere, a interessante Fake e o tema do filme Uma Dobra no Tempo Warrior que merecia uma indicação ao próximo Oscar. Com The Kids Are Alright, Chloe x Halle quebram qualquer expectativa para artistas novatas e iniciam uma carreira que deve dar frutos ainda melhores.
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