Lily Allen
Chegando ao quarto álbum, Lily Allen mostra um amadurecimento musical impressionante às custas de problemas na vida pessoa, ajudando a solidificar o seu lugar dentro do pop. O problema em No Shame, porém, é que a sonoridade dá uma "amornada" da metade para frente.
Conhecida desde o começo da carreira como dona de uma honestidade e sarcasmo brutais, Lily Allen mantém essas características ao fazer de No Shame um verdadeiro diário/terapia para diversos problemas que enfrentou nos últimos tempos. Falando sem papas na língua e com uma sinceridade muitas vezes desconcertante, a cantora expõe sobre seus problemas mais íntimos como o abuso de substâncias como álcool e drogas, o termino do seu casamento, as suas angustias como mãe, problemas com relacionamentos de vários níveis e questões com a sua carreira. Não é deixado nenhum espaço para interpretações dúbias sobre o que cada canção fala, pois a forma como Lily escreve as suas composições não esconde nada ou floreia a sua realidade, sendo completamente direta com uma flecha disparada em direção ao alvo.
Esse choque de sinceridade é o que eleva a cantora, construindo uma das personalidade pop mais interessantes da atualidade sem precisar de artifícios que não sejam diretamente ligados a sua música. Além disso, Lily tem uma capacidade técnica/criativa em escrever cada composição com um tino pop impressionante, não importando qual tema seja o da canção. Sempre que ouvimos os versos "marotos", os hooks certeiros e os refrões perfeitos da Lily fica a sensação que o pop precisa de muitas mais Lilys. Um dos melhores exemplo dessa sabedoria pop é o single Trigger Bang em que a cantora fala dos seus problemas com drogas de forma cool e até divertida, mas não deixando de lado o lado "sombrio". Uma pena, porém, que a sonoridade de No Shame não segura a onda do começo a fim.
Álbum mais aventureiro da carreira da cantora, No Shame é um seguro e bem finalizado trabalho de electropop que flerta fortemente com dancehall, reggae e indie. A primeira metade do álbum é vigorosa e de um fino apuro pop que chega a ter momentos inspiradíssimos como a já citada Trigger Bang, além da sensacional dancehall/pop Your Choice e a electropop/indie pop What You Waiting For?. Esse começo é muito auspicioso e surpreendente, mas que não consegue ser repetido ao longo do álbum. Trabalhando com um time bem grande de produtores desconhecidos do grande público, vindos da cena britânica, a cantora deixa que a metade final do álbum perca força ao ser recheado de boas, mas pouco expressivas electropop que transitam entre o mid-tempo e a balada. A parada na cadencia do álbum é até compreensível, pois a cantora fala sobre assuntos delicados como na tocante Three em que o ponto de vista é de seu filho falando sobre a falta que sente da mãe. O problema, então, é que a mudança é meio brusca, esfriando drasticamente a atmosfera inicial. Felizmente, isso não derruba muito o resultado final de No Shame, pois ainda há momentos inspirados como a balada dramática Family Man, a indie pop Apples e a divertidinha My One. No Shame não é perfeito e nem o melhor álbum da cantora, mas é um passo de suma importância para a evolução musical e de vida da Lily Allen.
Um comentário:
É o meu favorito dela.
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