13 de julho de 2018

Primeira Impressão

OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES
Sophie



"O caos é uma ordem por decifrar."
José Saramago

Ouvir o primeiro álbum da produtora/DJ/cantora Sophie é uma experiência completamente caótica e sem nenhuma comparação com qualquer outro álbum que já tenha passado aqui no blog. Todavia, esse caos não é apenas um aglomerado de coisas juntas, misturadas e sem sentido, mas, sim, um aglomerado de coisas juntas, misturas e com um sentido que se explica apenas dentro da sua desordem. Ouvir OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é encontrar o sentido em meio do caos. 

Nascida na Escócia, mas residindo em Los Angeles, Sophie começou a chamar atenção em 2013 ao laçar algumas músicas. Isso foi o bastante para chamar a atenção de diversas publicações sobre música, aclamando os seus trabalhos iniciais. Além disso, o trabalho dela começou a ganhar notoriedade na classe artística, trabalhando ao lado de nomes como Charli XCX,  Cashmere Cat, Vince Staples e até mesmo a Madonna. Apesar do crescente reconhecimento, Sophie nunca apareceu fisicamente perante ao grande público, fazendo a linha Sia hardcore. No final do ano passado, porém, a artista resolveu voltar a música oficialmente depois de um tempo afastada ao anunciar o lançamento do seu primeiro álbum. E esse álbum não é apenas um trabalho de um DJ/produtor de música eletrônica como qualquer outro, mas uma verdadeira obra de arte em forma de música.


Um aviso importante para qualquer um que após ler essa resenha se interessar em ouvir OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES: prepare-se para entrar em um mundo difuso, complicado e atordoante. E fique mais avisado: todas essas sensações não serão recebidas pelo seu córtex cerebral da mesma forma que você espera. Entrar nesse mundo é como ser sugado para uma dimensão paralela em que as "regras" musicais/sonoras parecem funcionar de formas completamente novas, seguindo padrões e caminhos que devem ter saido apenas da mente de Sophie. Definir a sonoridade da artista é quase uma missão impossível, pois o álbum consegue quebrar qualquer limite entre gêneros, sub-gêneros e estilos ao ser a fusão de dezenas deles em uma construção metamórfica e dinâmica. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES vai se transformando em fragmentos de sons em cada canção para ser reconstruído a bel-prazer de Sophie e a sua mente a frente do tempo. Tentando encontrar alguns parâmetros, o álbum seria um genial e incomparável avant-pop com pitadas pesadas de eletrônico, industrial, art pop, indie pop, experimental pop e até o pop mais tradicional. Sem ter medo de ir mais longe que poderia ser esperado, Sophie entrega um álbum que exala uma incontável e impressionante quantidade de sensações e sentimentos. 

OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum melancólico. Apesar de todas as batidas que foram agregadas, Sophie parece contemplar o horizonte de um planeta em destruição sentada a beira de um precipício e lembrando dos tempos de felicidade. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum sensual. Apesar de batidas fortes e marcantes, a sonoridade parece evocar um sinuoso espirito dançante de uma ninfa aquática fazendo a sua aparição em um lago sombrio e fascinante. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum divertido. Apesar de soar sisudo em vários momentos, a atmosfera geral do trabalho tem um senso de humor distorcido de um comediante alternativo e nada sério. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum denso e leve ao mesmo tempo como se fosse feito de uns cem quilos de penas de ganso agrupadas. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum pragmático. As composições sucintas em palavras, mas cheias de intenções do álbum mostram uma compositora que sabe sobre o que quer falar e reflete sobre as suas dores de forma até mais direta que a gente poderia imaginar em um álbum tão grandioso sonoramente. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum abstrato. As suas composições parecem quer esconder alguns significados profundos atrás de divertidas construções liricas que devem ser melhor analisadas e refletidas. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um álbum difícil de ouvir, mas que para aqueles que se deixam entrar nesse mundo será muito difícil de sair intacto dessa experiência.

Levando o seu nome, o álbum contem apenas uma faixa com os vocais de Sophie na doce e estranha It's Okay to Cry em que a artista quase sussurra os seus arrependimentos com quem se ama em uma balada indie pop incomparável. A maior parte vocal de OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES fica por conta de Celile Believe que também co-escreveu várias melodias do álbum. Transitando entre a sua voz real e as alteradas por efeitos, Celile tem o timbre perfeito e a presença necessária para carregar qualquer uma das faixas aqui, não importando qual seja a sua pegada. Esse é o caso da industrial/art pop/pop Faceshopping em que ouvimos uma verdadeira jornada vocal de vários estilos. Outro momento genial que deve ter sido inspirada em Material Girl da Madonna: Immaterial é uma pop/dance pop deliciosa que fala sobre a transição de gênero de Sophie. Outros momentos de destaque ficam por conta da batida estaca com certa influência no pop oriental de Ponyboy e a art pop estilo Kate Bush em um mundo paralelo de Infatuation. Todavia, o momento mais acachapante do álbum é a instrumental Pretending que parece uma trilha de um filme de ficção cientifica cult e que é tocada no momento em que os personagens estão contemplando o grande desconhecido. Magistral. OIL OF EVERY PEARL'S UN-INSIDES é um caos deslumbrante e longe de qualquer coisa que já tenha passado pelo álbum. Um caos que precisa ser apreciado sem ter medo de encontrar algo nada fácil de processar, pois é assim que a beleza do caos surge.


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